RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O Governo do Rio de Janeiro desenvolve um plano de retomada de regiões dominadas pelo crime organizado, determinado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no âmbito da ADPF 635, conhecida como ADPF das Favelas.

A expectativa é iniciar o projeto-piloto pela recém-criada zona sudoeste da capital, formando uma espécie de cinturão nas comunidades de Jacarepaguá, Vargens, Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes.

Segundo o secretário de Segurança Pública do estado, Victor dos Santos, a região foi priorizada por reunir áreas de interesse estratégico e estar em meio a uma disputa intensa entre milicianos e facções do tráfico.

“Aquela região do Itanhangá, Grande Jacarepaguá, Barra e Recreio está em estado de guerra. Todas as organizações —Terceiro Comando, milícia e Comando Vermelho— disputam o território. É a única área do Rio com possibilidade de expansão urbana, o que atrai interesses econômicos e pressiona o meio ambiente”, afirmou o secretário à Folha de S.Paulo.

O diagnóstico técnico feito pela secretaria da gestão Cláudio Castro (PL) dividiu o território do estado em três níveis de complexidade: alta, média e baixa. O cinturão de Jacarepaguá foi classificado como de média complexidade, com condições de receber uma ação coordenada do poder público.

“O próximo passo é apresentar o projeto com ações detalhadas e custos ao governador. Depois disso, o estado chamará a prefeitura e a União para validar o plano em conjunto, antes de levá-lo ao Conselho Nacional do Ministério Público e, em seguida, ao STF”, disse Santos.

A Secretaria de Segurança Pública coordena a elaboração do projeto, que deve envolver todas as demais pastas, entre elas Educação, Saúde, Habitação, Transporte, Meio Ambiente, Esporte e Ciência e Tecnologia. O objetivo, segundo o governo, é evitar a repetição dos erros das UPPs, marcadas pela ausência de políticas sociais sustentáveis.

“Não é uma ação apenas policial. A segurança vai garantir os direitos e a presença das demais secretarias. A ideia é que o Estado entre de forma integral, com melhorias em habitação, educação, esporte e saúde”, explicou a pasta.

Ainda não há previsão de data para o início das ações nem definição orçamentária. Cada secretaria deverá apresentar um diagnóstico das demandas prioritárias das comunidades envolvidas. O planejamento leva em conta uma pesquisa feita pela Cufa, IBGE e Data Favela, segundo a qual os moradores apontam habitação, segurança e saúde como principais necessidades.

A proposta será apresentada ao CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) e, posteriormente, ao STF, que deverá aprová-la antes da execução. O governo pretende concluir o plano até o recesso judiciário, no fim do ano.

A reocupação de territórios faz parte do conjunto de 18 medidas determinadas pela Corte, das quais três já foram cumpridas, como a instalação de câmeras em viaturas policiais, presença de ambulâncias em operações e programa de saúde mental para agentes de segurança.

As demais medidas ainda estão em fase de elaboração ou execução: monitoramento de mortes por ação policial, transparência de dados, formação de grupos interdisciplinares, melhorias em gestão institucional, entre outras.

CENÁRIO DE VIOLÊNCIA E CONTROLE TERRITORIAL

A região escolhida é uma das mais conflagradas do Rio. Segundo informações de inteligência da polícia, Rio das Pedras é uma das bases da milícia, onde há também presença do TCP (Terceiro Comando Puro). Já comunidades como Muzema e Gardênia Azul são dominadas pelo Comando Vermelho. Esses grupos disputam o controle de territórios e atividades econômicas ilegais, como o transporte alternativo, a venda de terrenos e o comércio de gás e internet.

Os confrontos têm provocado uma escalada de violência que afeta diretamente os moradores e interfere na mobilidade, especialmente em vias como a estrada dos Bandeirantes e a avenida das Américas.

O caso mais recente ocorreu nesta quinta-feira (16), quando criminosos sequestraram nove ônibus e usaram os veículos para montar barricadas e bloquear vias da região de Jacarepaguá. A ação, segundo as autoridades de segurança, ocorreu em represália a operação da Polícia Militar para prender o chefe do tráfico da Cidade de Deus.

A zona sudoeste foi criada oficialmente em setembro de 2025, após sanção do prefeito Eduardo Paes (PSD), e passou a incluir bairros como Barra da Tijuca, Recreio, Vargens, Itanhangá e parte de Jacarepaguá. A nova divisão administrativa, que possui cerca de 200 km², foi justificada pela prefeitura como forma de aprimorar o planejamento urbano e a prestação de serviços em uma das áreas que mais crescem na cidade.

Segundo estimativas apresentadas durante a sanção da lei, cerca de 1,2 milhão de pessoas vivem na região, que reúne importantes eixos econômicos e ambientais do Rio.