SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Pose do lado de um avião do Exército para registrar o look. Esta foto pode parecer improvável numa semana de moda, mas era para abastecer suas redes com imagens do tipo que os fashionistas gastavam o dedo no obturador da câmera minutos antes do desfile da Forca na São Paulo Fashion Week.

A marca, querida dos descolados paulistanos com sua estética de festa de techno no galpão em ruínas, desfilou sua nova coleção no aeroporto Campo de Marte, onde há uma aeronave do tipo em exibição —os modelos caminhavam embaixo e ao redor do monstro de metal que serviu à Força Aérea Brasileira.

Desfilar no aeroporto é uma metáfora para o crescimento da marca, contam Vivian Rivaben e Silvio de Marchi, os fundadores da Forca. Após abrirem uma loja no bairro da Barra Funda, próxima a bares e galerias de arte, eles começaram a vender no atacado e a produzir sob encomenda. “A gente montou a nossa casa e agora vai voar”, diz Rivaben.

Chamada “Helyx”, a nova temporada atesta a evolução da marca em seus três anos de vida, com uma coleção coerente da primeira à última peça. O couro apareceu bastante na passarela, em casacos, jaquetas, minissaias, bermudas e sobretudos, por exemplo, sendo que algumas das peças tinham cortes inesperados.

Também apareceram novos modelos da segunda pele, outro hit da Forca, e sapatos estilo coturno com uma plataforma quadradona embaixo, uma ousadia bem-vinda numa área difícil de inovar. O universo distópico que a marca oferece tem influência da costura gótica e monocromática de Rick Owens, e casa superbem com a pichação e o abandono das ruas da Barra Funda onde a marca tem loja.

Do hangar para um casarão num dos bairros mais ricos da cidade, a São Paulo Fashion Week, que neste ano completa três décadas de existência, toma diversos pontos da capital. Nesta quinta à noite, a Handred apresentou sua coleção numa mansão do final dos anos 1930 restaurada e transformada em espaço de eventos. Antes do desfile começar, dois garçons derramaram espumante numa pirâmide de taças posicionada sobre uma mesa na passarela —a noite era de festa.

E, ao som de música disco, foram de festa boa parte dos looks apresentados —camisas, calças e vestidos de telinha que deixam ver o corpo, tops e sapatos com apliques de bordados brilhosos, vestidos para bailar.

André Namitala, o diretor criativo da marca carioca, afirma que em algumas peças foram usados até cinco tipos diferentes de bordado, o que naturalmente contribuiu na construção do glamour nos looks.

Namitala trabalhou muito com a seda, super fluida, e o couro de pirarucu e de salmão, ambos mais estruturados. “Minha relação com o tecido é vital. Eu não preciso ter tema nem modelagem; basta ver um tecido para começar a imaginar. O tecido é o meu gatilho criativo”, afirma ele. Foi uma das passarelas mais diversas desta São Paulo Fashion Week, com modelos de diferentes idades e tipos de corpo.

Por outro lado, houve uma seleção de roupas meio circenses, como leggings nas cores vermelho ou berinjela e camisas estampadas num caleidoscópio de vermelhos, roxos e mostardas, todas peças desfiladas em modelos masculinos. Será que o público da marca, um tipo de homem que veste calça de alfaitaria oversize com mocassim sem meia, vai se interessar?

Outro criador jovem a mostrar seu trabalho foi Leandro Castro, que retorna à semana de moda com uma coleção inspirada nas terras e rios da Amazônia, bioma de onde veio parte dos materiais que ele usou nas confecções, como o látex dos casacos e vestidos pretos estilo “Matrix” que abriram o desfile. O designer também se valeu de cuias e pedaços de madeira de manejo florestal, que aplicou sobre as roupas, criando looks únicos, e com o qual fez acessórios como brincos.

Os modelos desfilaram por entre montes de terra na passarela montada no Pavilhão das Culturas Brasileiras, um dos pavilhões de Oscar Niemeyer no parque Ibirapuera, e suas pupilas em cor de rosa deixavam a expressão vazia, propositadamente, como seres vagando por uma terra arrasada. À exceção de um bloco de looks em rosa claro, super romântico, foi uma apresentação perturbadora, que parece refletir o medo global pelo derretimento do planeta.

Chama atenção no trabalho de Castro o fato de ele criar uma moda apocalíptica a partir de elementos da natureza, ao contrário de marcas como Flavia Aranha —que também desfilou esta semana— e Osklen —fora da São Paulo Fashion Week—, em que as roupas, também feitas a partir de fibras naturais e que versam sobre o meio ambiente, têm um aspecto mais etéreo e menos combativo.