RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O ataque a tiros que deixou duas pessoas mortas e uma ferida, debaixo de um viaduto em Irajá, zona norte do Rio de Janeiro, nesta sexta-feira (17), teria sido avisado dias antes por suspeitos, segundo um dos homens que costuma dormir no local.

A Polícia Civil não confirma a informação. A Delegacia de Homicídios da capital investiga a autoria e motivação do crime.

O grupo passava as noites sob o viaduto do metrô de Irajá, ao lado da estação. Os disparos aconteceram na madrugada desta sexta. Três pessoas foram atingidas. Segundo o homem ouvido pela Folha sob anonimato, as vítimas eram conhecidas como Fábio, Pará e Bahia, também chamado de Baiano.

Bahia não teve nome confirmado pela polícia. As vítimas ainda não foram identificadas, segundo a Polícia Civil.

Na manhã desta sexta, uma comerciante de café e bolos mostrava à cliente o furo em uma vasilha plástica que, segundo ela, teria sido atingida por tiros no momento do ataque. Ela estava arrumando o ponto e teria dado uma rápida saída no momento dos tiros.

O homem em situação de rua ouvido pela reportagem repousava durante a manhã em um colchão ao lado da marca de sangue de uma das vítimas. Ele afirmou que não estava no local no momento dos tiros, mas que costuma dormir sob o viaduto. Ele passou a noite na casa de um familiar.

Cada um dos homens dorme ao lado de uma das pilastras do viaduto. Há noites em que o grupo passa de oito pessoas. Os nomes de alguns deles estão em inscrições nas paredes. Dias antes do ataque, segundo o homem ouvido pela reportagem, suspeitos passaram no local e deram o recado de que iam “pegá-los dentro ou fora” da comunidade. Ele não soube informar a data, nem quem eram ou de onde eram os homens.

Comerciantes locais afirmam que uma disputa entre facções entre Comando Vermelho e Terceiro Comando Puro tem causado tiroteios constantes na área.

O homem disse que não vai mais dormir no local a partir da próxima noite. Afirmou que possui curso técnico em eletrônica e faz consertos de aparelhos de som, geladeira e lavadora. Dorme nas ruas de Irajá há cinco anos e tem familiares em bairros da zona norte. Seu amigo Bahia também consertava aparelhos, segundo ele, e era um bom mecânico. Ele disse considerar o ataque uma covardia.

Bahia, ou Baiano, era, entre as vítimas, o mais conhecido da região. Comerciantes e amigos afirmaram que ele dormia nas ruas há alguns anos, mas tinha familiares na região e prestava serviços de cabeleireiro e mecânico em uma borracharia ao lado da estação de metrô.

Bahia tinha dificuldades de locomoção e usava uma bengala. Ele era ajudado com alimentação e roupas por comerciantes da vizinhança, e participava de atividades culturais que aconteciam sob o viaduto.

O metrô de Irajá passa pela avenida Martin Luther King Júnior, via movimentada da zona norte que, nesta altura, tem pequenas comunidades à esquerda e à direita —Rio D’Ouro e Malvina.

Um dos comerciantes, que pediu para não ser identificado, tem um bar em frente à estação de metrô e costumava fechar às 4h, mesmo em dias úteis. Desde a semana passada, tem encerrado expediente antes das 2h por causa dos tiros.