BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), José Ferreira da Silva, disse que parte da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do INSS usa a investigação como palco político e que isso é lamentável.

Frei Chico, como é conhecido, é vice-presidente do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos), uma das entidades sob suspeita no caso dos descontos irregulares em benefícios previdenciários.

“É lamentável que parte da CPI do INSS use esse processo como palco político, em vez de buscar a verdade”, disse o sindicalista em nota enviada à imprensa. “Não temo investigação, mas o que ocorre hoje é um julgamento antecipado, antes mesmo de os fatos serem apurados”, declarou.

A nota é datada de quinta-feira (16), mas foi distribuída por assessores petistas nesta sexta (17).

O irmão de Lula disse ter compromisso com a verdade e com o devido processo legal. Afirmou que já enfrentou “perseguições, prisão e tortura”, em referência a seu passado como líder sindical e militante de esquerda durante a ditadura militar (1965-1985).

Frei Chico é um dos principais alvos da oposição, que busca desgastar o Planalto por meio do irmão do presidente. Os aliados de Lula se esforçam para proteger o sindicalista.

José Ferreira da Silva também disse que a Presidência da República não interfere em investigações e que órgãos de controle devem ter independência e isenção. A fala é uma resposta às acusações de blindagem ao sindicalista por ser irmão do presidente.

“Julgar sem provas é negar a democracia. Sigo de cabeça erguida e consciência tranquila, confiante na verdade e na força das instituições”, declarou.

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) André Mendonça, relator da investigação sobre descontos irregulares, bloqueou, na terça-feira (14), R$ 389 milhões do Sindnapi e de dirigentes da entidade.

O presidente do Sindnapi, Milton Baptista de Souza Filho, conhecido como Milton Cavalo, disse em depoimento à CPI que Frei Chico tem função apenas política na entidade. O irmão de Lula, segundo Baptista, não teria atribuições administrativas nem financeiras. A oitiva do presidente do Sindnapi ocorreu em 9 de outubro.

Na quinta-feira (17), os aliados do governo usaram a maioria recém-conquistada na CPI para barrar a convocação de Frei Chico para depor ao colegiado. A ideia foi a voto e perdeu por 19 a 11.

Na mesma reunião, o governo também conseguiu impedir quebras de sigilo contra o ex-ministro da Previdência Carlos Lupi, presidente do PDT. Os requerimentos foram retirados de pauta sem serem votados.

Outra vitória obtida pelos aliados de Lula na CPI foi a aprovação do requerimento para o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) elaborar um relatório sobre as transações financeiras do advogado Eli Cohen entre 2015 e 2025.

Ele foi um dos primeiros a investigar os descontos irregulares em benefícios previdenciários e depôs nas primeiras semanas da CPI. O pedido teve 21 votos a favor e 10 contra.

Governistas afirmam, nos bastidores, que o advogado está associado à oposição. Na quarta-feira (15), a Folha de S.Paulo revelou um áudio em que Cohen relata ter recebido dicas do marqueteiro do PL, Duda Lima, sobre como deveria se portar em seu depoimento à comissão. O advogado diz ser alvo de uma “destruição de caráter” por ter exposto irregularidades.

O governo também conseguiu barrar quebras de sigilo contra a publicitária Danielle Miranda Fontelles. Ela já trabalhou para campanhas petistas e, de acordo com documentos recebidos pela CPI, recebeu R$ 5 milhões de Antônio Carlos Camilo Antunes.

Conhecido como Careca do INSS, Antunes é uma das figuras mais conhecidas do escândalo de descontos em aposentadorias. Sua defesa nega irregularidades. O requerimento sobre Fonteles foi rejeitado por 19 votos a 11.