SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O sistema de abastecimento de água de São Paulo recebeu um reforço, desde setembro até a última segunda-feira (13), de 133,9 hectômetros cúbicos (medida equivalente a um milhão de metros cúbicos). A água é proveniente do reservatório da Usina Hidrelétrica (UHE) Jaguari, na bacia do rio Paraíba do Sul, e foi incorporada ao reservatório Atibainha, no sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de boa parte da Grande São Paulo.
Além de São Paulo, a bacia do Paraíba do Sul é responsável pelo abastecimento de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. O aumento da retirada de água foi aprovado pela Agência Nacional das Águas (ANA) em setembro, após reunião com os órgãos gestores de recursos hídricos dos três estados.
Na quarta-feira (15), os reservatórios do Sistema Cantareira estavam com 25,7% de sua capacidade. Outros dois sistemas, que abastecem regiões da zona leste de São Paulo e a região metropolitana estão em situação ainda mais preocupante. O sistema São Lourenço está com um volume de 16,8% de seu total e o Alto Tietê com 23,6%. Junto, o sistema integrado paulistano está com 29,4% de seu volume total.
No mês passado, a SP Águas (Agência de Águas do Estado de São Paulo) declarou situação de escassez hídrica da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, que concentra a maior parte dos sistemas produtores da região metropolitana e na parte paulista da Bacia do Rio Piracicaba, cuja cabeceira integra o Sistema Cantareira, maior sistema produtor do Estado. O protocolo de escassez hídrica foi criado na mesma reunião e inclui a concessão de outorga emergencial e sazonal para os usos prioritários e a suspensão da emissão de novos processos de novas outorgas para usos não prioritários.
A autorização de captação extra é válida até o dia 31 de dezembro próximo. Com ela, a retirada passa de 162 hectômetros cúbicos para até 186,7 hectômetros cúbicos. A retirada corresponde a 24,7 hectômetros cúbicos, o equivalente a 1% do volume útil atual do sistema Paraíba do Sul e a 3,1% do volume útil total do reservatório Jaguari. A Sabesp vai precisar tomar as medidas necessárias para reduzir eventuais impactos aos usos da água decorrentes da redução de nível nos reservatórios da UHE Jaguari e da UHE Paraibuna por conta da retirada do volume adicional.
A previsão da agência é que o suplemento seja suspenso caso o sistema Cantareira passe a operar acima de 60% do seu volume útil neste período.
A Sabesp tem tomado algumas medidas para reduzir os riscos causados pela diminuição do volume de água. Desde setembro, o período redução da pressão da água durante a noite passou de oito para dez horas. Foi a segunda redução seguida. A decisão de reduzir a pressão por oito horas tinha sido anunciada no dia 27 de agosto.
Presidente da seção Rio de Janeiro da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), Renato Espírito Santo diz que a medida aproveita que o Rio de Janeiro está com volumes bons em seus reservatórios. “A gestão do rio Paraíba do Sul é sensível, porque abastece os três estados e, quando o cobertor é curto para um, é curto para todos”, explica. Ele destaca que o Rio é o terceiro a ser abastecido pelas águas do rio.
Para Espírito Santo, a medida até dezembro deve ser suficiente para diminuir a preocupação em São Paulo sem criar problemas para os demais estados. O motivo é o começo das estações mais chuvosas do ano, primavera e, principalmente, o verão. Para ele, a tendência é que as chuvas mais fortes encham os reservatórios.
O professor departamento de Recursos Hídricos Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Antonio Carlos Zuffo acredita que a situação, no entanto, merece cuidado. Segundo ele, estamos num ciclo de secas a cada 11 anos, causadas pela maior atividade solar. Zuffo aponta que os ciclos solares já provocaram o apagão energético de 2001 e a crise da Cantareira de 2003 e a repetição no sistema de abastecimento em 2014 e 2015.