SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A relação dos mais novos com os mais velhos pode ser conflituosa. Não é de agora que as gerações entram em “guerra”, mas, se atualmente o foco das reclamações é a geração Z, neste sábado (18) pode ser a alfa.
No entanto, essa vivência pode ser saudável se todas as partes estiverem dispostas a ouvir e melhorar. O UOL conversou com uma equipe que possui gente de todas as idades da geração Z à geração X para saber quais os desafios e os aprendizados entre eles.
GEN Z NUNCA VIU FITA CASSETE, MAS ENSINA (MUITO) AOS MAIS VELHOS
Apesar de ter visto o surgimento da internet, o head de comunicação na América Latina da ADM, multinacional focada no agronegócio e nutrição, André Degasperi, 50, é visto como o “idoso confuso com a tecnologia” da equipe ele faz parte da geração X, que são os nascidos entre 1965 e 1980.
Por outro lado, possui vivências que a genz sequer conhece. Ele deu um exemplo à reportagem ao fazer uma pergunta para a estagiária de 21 anos da equipe, a Fernanda Diniz.
– Fê, você já viu uma fita cassete?- Não!
Fernanda conta que nunca viu uma VHS ou fita cassete algo conhecido pelas gerações anteriores a dela. Por outro lado, é a estagiária que consegue encontrar rapidamente informações nas redes sociais.
André sabe e sente que as coisas estão em constante mudança, então, aproveita a gen Z para aprender. “Acho isso fantástico, aprendo muito. A única coisa que não gosto e estou falando de uma maneira geral é que eles não gostam de ligação [de telefone/celular]. Poxa, liga para a pessoa e resolve logo”, diz, brincando.
Fernanda e Lorena Souza, 21, a outra estagiária da equipe, destacam a confiança como principal aprendizado da vivência com as outras gerações. “Eles já viveram as fases que nós ainda estamos passando, tanto no trabalho quanto na faculdade. Então a visão deles agrega e enriquece muito, além de acalmar nossas inseguranças”, diz Lorena.
“Acho que minha geração é muito insegura, enquanto os millennials e a geração X tiverem de aprender isso ‘por obrigação’. Então, acho importante essa vivência.”, completa Fernanda.
“AGORA NÃO É HORA DE FALAR DE TRABALHO”: AS BRONCAS DA GEN Z
André destaca mais aprendizados com a equipe. Acostumado a falar de trabalho “o tempo todo”, ele toma bronca das mais novas quando traz o assunto na hora do almoço, por exemplo. “E elas têm razão. Às vezes puxo o assunto, e começo até a fazê-las trabalhar, e ouço um: ‘Agora não é hora’. Elas estão certas”, conta.
Millennial, Marianna Santos, 40, é especialista sênior de comunicação na empresa. Ao lado dos mais jovens, tenta aproveitar a leveza deles. Ela lembra que, quando tinha a idade das estagiárias, aprendeu tudo de “um jeito diferente”.
Acho que elas não precisam aprender ‘na porrada’. Ninguém, né? Aprendi muito ‘engolindo o choro’, e não acho que precisa ser assim. Marianna Santos, 40
“A geração dos millennials é uma das que mais tem afastamentos do mercado de trabalho por causa da saúde mental. Acho que a geração Z não precisa disso. Eles podem vir com outra carga e estão vindo. Isso é muito legal”, diz Marianna.
Aliás, Mari aprendeu com Lorena o que era K-pop. Um dia, a especialista chegou ao trabalho e viu que as meninas estavam falando algo entre elas. Marianna queria entender o que era. Insistiu e descobriu.
“Tinha conseguido comprar um ingresso para ver [um grupo do] K-pop”, conta, rindo, Lorena. “Eu não conheço. Mas se ela está feliz, eu também estou”, diz Mari.
GERAÇÃO MAIS NOVA SEMPRE SERÁ CRITICADA
Vitória Pengue, 29, também millennial da equipe, é tida como “irmã” das meninas mais novas da equipe. Mesmo com os quase 10 anos de diferença, têm muito em comum. Aliás, a analista de comunicação lembra que o comportamento de criticar as gerações mais novas sempre existiu.
“Sempre vai ter alguém dizendo: ‘Ah, mas minha geração era muito melhor porque essa geração de agora não sabe fazer tal coisa’. Mas a geração X já falava isso dos millennials. Todo mundo é diferente e vai aprendendo aos poucos”, diz a jovem.
POR QUE TODO MUNDO IMPLICA COM A GEN Z?
De acordo com Roberta R. Katz, antropóloga e pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Ciências Comportamentais da Universidade Stanford (EUA), a relação da equipe citada acima é o ideal.
Atualmente, a sensação é de que as pessoas não têm paciência com a geração Z. Isso te uma explicação, de acordo com ela, que é coautora do livro “Gen Z, Explained: The Art of Living in the Digital Age” ( “Geração Z, Explicada: A Arte de Viver na Era Digital”, sem tradução no Brasil).
“A raiva vem, em parte, porque esses jovens são os filhos [das outras gerações], mas parece que não querem nos escutar. Eles questionam tudo e agem como se soubessem mais”, explica. “E, de certa forma, sabem mesmo especialmente com as tecnologias digitais, que moldaram seus cérebros para processar mais informações.”
E isso fica nítido com a ajuda frequente dos mais velhos quando o assunto é tecnologia. “O que reforça nos filhos a sensação de que sabem mais e isso irrita os pais principalmente”, diz a antropóloga. Mas o caminho para a boa convivência entre ambas é simples: comunicação.
Tenham conversas abertas e respeitosas entre gerações porque ambos os lados têm muito a aprender um com o outro. Roberta R. Katz, antropóloga