SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Suspeitos apontados como integrantes da quadrilha de assaltantes responsável por quatro latrocínios e dezenas de assaltos na cidade de São Paulo, além de pessoas que teriam receptado celulares e joias roubadas, foram alvo de uma operação da Polícia Civil nesta quinta-feira (16).

A Justiça autorizou 36 mandados de prisão, sendo que quatro suspeitos já estavam presos. Ao todo, 11 pessoas foram presas e um homem —Guilherme Heisemberg da Silva Nogueira, 22, conhecido como Bronx— foi morto durante a abordagem da polícia na favela de Paraisópolis, na zona sul da capital.

Houve prisões e buscas também no Jardim Colombo e no Jardim São Luís, na zona sul, e na região central. Vinte suspeitos estão foragidos.

Parte dos investigados já havia sido alvo de ações da polícia no início do ano, durante uma onda de latrocínios. Suedna Barbosa Carneiro, 41, conhecida como Mainha do Crime e presa em fevereiro em Paraisópolis, aparece como uma figura central nas investigações pois, segundo a polícia, conecta dois grupos na rede criminosa: os assaltantes e os receptadores.

FACILITADORES

Suedna está no grupo daqueles que são considerados “facilitadores” do crime pela polícia. Desde fevereiro, ela é acusada de financiar os assaltantes fornecendo mochilas de entrega de comida, motos e armas, além de receber os produtos roubados e repassá-los a receptadores.

Esses materiais eram cedidos mediante aluguel e os assaltantes tinham de ressarcir se os perdessem. Um caso emblemático, narrado por policiais durante a entrevista coletiva sobre a operação, é de um assaltante que perdeu uma arma e uma moto que pertenciam a Suedna.

Foi nesse contexto, com uma dívida a pagar, que o assaltante —identificado como Hugo dos Santos Araújo, 20— cometeu o assalto que deixou morto o arquiteto o Jefferson Dias Aguiar, 43.

“Ele acabou praticando o latrocínio do arquiteto, provavelmente para pagar a dívida que ele tinha pela alocação daquela arma, pela alocação da motocicleta”, disse o delegado Thiago Delgado, da 1ª Divisão de Investigações sobre Crimes contra o Patrimônio do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).

Há outros suspeitos de serem facilitadores entre os investigados, embora a polícia não tenha revelado seus nomes. A investigação identificou, por exemplo, que havia um esquema de falsificação de placas de motos usadas nos assaltos. Duas das três motocicletas apreendidas na operação haviam sido roubadas.

Policiais dizem que há, ainda, pessoas investigadas sob suspeita de terem ocupado o lugar de Suedna no esquema.

ASSALTANTES

Os assaltos investigados na operação envolvem não apenas roubos de celulares, mas também de alianças, joias em geral e motos de altas cilindradas. Em geral são crimes cometidos em via pública, por criminosos que usam motocicletas.

Segundo a investigação, alvos dessa operação participaram dos latrocínios do delegado Josenildo Belarmino de Moura Júnior, 32, do ciclista Vitor Medrado, 46, do arquiteto Jefferson Dias Aguiar, 43, do agente da CET José Domingos da Silva, 48, e de uma tentativa de latrocínio contra um major da FAB (Força Aérea Brasileira), de 38 anos, que ficou ferido.

Agora, após a apreensão dos celulares pessoais dos suspeitos e de outros equipamentos eletrônicos, a polícia espera conectar os alvos com outros crimes.

Em março, uma lista de preços por cada modelo de celular foi encontrada num celular durante uma investigação da Polícia Civil, que antecedeu a operação desta quinta-feira. Suedna pagava até R$ 2.200 por celular roubado, de acordo com inquérito da Polícia Civil.

Os preços variavam de acordo com modelo de iPhone e se o aparelho permitia a troca do chip (“com gaveta”, em referência ao espaço que os aparelhos reservam os chips). Em fevereiro, ao menos sete assaltantes haviam sido identificados.

A análise de câmeras de segurança em vários dos crimes investigados demonstrou que, logo após os assaltos, os criminosos iam de moto diretamente para a favela de Paraisópolis. Seria ali que eles entregariam o produto do crime, onde seriam então repassados a receptadores.

RECEPTADORES

Havia locais de receptação de itens roubados tanto em Paraisópolis quanto no centro de São Paulo —e também em locais que a polícia preferiu não divulgar para não atrapalhar as investigações. O destino variava de acordo com o produto roubado.

A polícia afirma que identificou, por exemplo, um suspeito que comprava peças de ouro de Suedna em Paraisópolis e as revendia em joalherias do centro.

Ao mesmo tempo, a polícia também identificou celulares roubados que tinham como destino países da África, o Paraguai e outros estados no Brasil. Entre os presos desta quinta-feira (16) estão ao menos três africanos.

África e Paraguai já apareceram como destino de smartphones roubados em investigações anteriores da Polícia Civil. Em março do ano passado, por exemplo, investigação do Deic identificou que receptadores levavam celulares até centrais de desbloqueio montadas dentro de apartamentos em um prédio residencial na rua Guaianases. A rua havia se tornado o epicentro de receptação de celulares roubados e furtados, à época principal pelas “gangues da bike”.

De lá, os celulares eram repassados a revendedores de peças ou encaminhados a países da África, onde não há restrição do número de registro dos aparelhos roubados. Parte dos aparelhos apreendidos naquela ocasião também tinham o Paraguai como destino.