SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Alexandre Herchcovitch se preocupa com roupa. Pode parecer uma obviedade em se tratando de um dos principais estilistas brasileiros das últimas décadas, mas é algo que merece ser lembrado num contexto em que jovens criadores de moda às vezes dão mais atenção às imagens que seus looks vão gerar nas redes, às celebridades que vão desfilar por suas marcas ou à historinha em torno de uma coleção.
“Eu tenho obrigação de fazer a melhor roupa possível. Que vista bem, que dure. Na hora de começar a desenhar, eu penso quanto essa roupa vai sobreviver no guarda-roupa da pessoa”, diz Herchcovitch, elencando elementos invisíveis, a exemplo da costura dupla do forro dos casacos, como um sinal de qualidade de suas peças. “Principalmente as roupas de inverno, que a gente usa menos.”
Só faltam umas costuras finais na coleção que o estilista apresenta na São Paulo Fashion Week neste sábado, e os looks já estão todos pendurados nas araras de seu ateliê no bairro da Barra Funda, em São Paulo. Poucos dias depois de serem desfilados, poderão ser comprados na loja que ele vai abrir nos Jardins no dia 1º de novembro, o que marca sua volta a um ponto exclusivo de varejo da etiqueta que leva seu nome o último havia fechado em 2016.
Um dos pontos de partida para a nova coleção foi a dificuldade que Herchcovitch diz ter em usar paletó. Isso o levou a pensar numa saída para, sem a parte superior de um terno ao menos em sua forma clássica, estar social numa ocasião que demanda mais formalidade. A solução foi inventar uma alfaiataria masculina diferente, materializada em peças como um blusão com mangas de blazer e um colete que se assemelha a um paletó.
São “estruturas mais casuais, mas com a confecção de um alfaiate”, ele afirma, enquanto tira da arara um top frente única de alfaiataria, mais ousado, em que boa parte das costas fica à mostra. Herchcovitch diz que parte dos homens passou a se vestir de forma diferente em eventos sociais, e este público vai ser atendido pelas suas criações que tentam subverter os códigos rígidos do vestuário masculino.
Desde que retomou a sua marca, há três anos, o estilista passou a desenhar peças sob encomenda para seus clientes, totalmente exclusivas não apenas roupa de festa, mas também para o dia a dia. Este trabalho desenvolvido cara a cara, ele conta, fez com que evoluísse no seu entendimento da forma do corpo das pessoas.
Isto gerou uma série de looks femininos do desfile de sábado, frutos do “exercício de minimalizar a roupa de festa até chegar à forma essencial do corpo”. São exemplos deste pensamento um vestido em tafetá de seda com uma parte de nylon de quebra-vento na frente e outro vestido com duas fendas laterais uma no forro e outra na parte externa, executado com o mínimo de costuras possíveis.
O streetwear de luxo que também tem costurado nos últimos anos aparece em bermudas, calças e camisas estampadas com desenhos de ossos do corpo humano pelo artista Luan Zumbi. Luxo, para Herchcovitch, significa uma tiragem menor das peças seus clientes querem saber, agora mais do que antes, qual o tamanho da produção de cada item. A exclusividade importa, sobretudo se consideramos que o preço de algumas de suas peças atinge os quatro dígitos.
Na loja de Herchcovitch na rua da Consolação, serão oferecidos o prêt-à-porter, os serviços sob medida e, quando possível, os produtos que licencia para outros fabricantes, em geral de preços mais acessíveis que a sua linha própria. O ambiente, desenhado pelo arquiteto Itamar José, será simples, “roupa no fundo branco e bons provadores”, diz o estilista. “A vestibilidade sempre foi um argumento de venda para mim. Não só o visual, mas como a roupa veste.”
LOJA HERCHCOVITCH; ALEXANDRE
– Quando Abre 1º de novembro
– Onde R. da Consolação, 3.391, São Paulo