SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Exército dos Estados Unidos realizou um novo ataque, nesta quinta-feira (16), contra um navio próximo à costa da Venezuela e, pela primeira vez, houve sobreviventes, segundo uma reportagem publicada pela Reuters.
A agência de notícias ouviu relatos de funcionários do governo americano, que falaram sob condição de anonimato. As investidas do presidente Donald Trump contra o país latino-americano, realizadas sob a justificativa de combater o tráfico de drogas na região, já mataram 27 pessoas.
O suposto novo ataque ainda não foi comentado pela Casa Branca, mas ocorreu um dia depois de bombardeiros B-52 terem feito exercícios militares na região e de Trump confirmar que deu carta branca à CIA, a agência de espionagem com longo histórico de interferência na América Latina, para ações secretas na Venezuela, cujo objetivo final seria a queda do ditador Nicolás Maduro.
Nesta quinta, helicópteros militares americanos foram vistos na região. De acordo com funcionários ouvidos pela Reuters, ainda não estava claro se o ataque havia sido planejado para deixar sobreviventes.
O episódio levanta novas questões, incluindo se o Exército dos EUA prestou socorro às vítimas do ataque e se eles estão agora sob custódia militar americana. O Pentágono não respondeu a um pedido de comentário.
Desde o início das ações, as forças americanas fizeram ao menos cinco bombardeios contra embarcações que supostamente transportavam drogas. Trump deslocou 10 mil soldados, sete navios, submarino e caças ao Caribe.
O governo Trump não apresentou provas de que as pessoas atingidas na ofensiva cometiam atos ilícitos, e críticos dizem que elas representam parte de uma estratégia para pressionar o regime de Nicolás Maduro.
O americano classifica o ditador venezuelano como ameaça aos EUA e o acusa de ser narcotraficante. O venezuelano vem mobilizando as Forças Armadas e milícias pró-regime e, em resposta à notícia dos planos da CIA, refutou as ameaças e falou em inglês que não quer guerra.
Nesta sexta (17), em uma mensagem divulgada no Telegram, Maduro afirmou que estava ativando as chamadas Zodi, divisões militares regionais da Força Armada Nacional Bolivariana criadas para coordenar operações de defesa e segurança, nos estados de Mérida, Trujillo, Lara e Yaracui.
Especialistas dizem que o Caribe, onde os ataques ocorreram, não é a principal rota de tráfico de drogas em direção aos EUA, sendo responsável por cerca de 10% da cocaína e por uma quantidade irrisória do fentanil que entra no país.
A Casa Branca afirma que os barcos são ligados à facção Tren de Aragua, considerada pelo governo Trump uma organização terrorista internacional.
Em tentativa de legitimar os ataques, o governo Trump comunicou formalmente ao Congresso americano que os EUA estão “em situação de conflito armado” com narcotraficantes. Isso daria às Forças Armadas o direito de atacar membros de organizações criminosas mesmo quando não há risco iminente a cidadãos americanos.
Há menos de uma semana, o Pentágono anunciou que as operações na região não seriam mais lideradas pelo Comando Sul, sediado em Miami, que supervisiona as atividades militares dos EUA na América Latina.
Em vez disso, o Pentágono informou que uma força-tarefa seria criada sob o comando da 2ª Força Expedicionária de Fuzileiros Navais, uma unidade com capacidade para operações rápidas no exterior, sediada em Camp Lejeune, na Carolina do Norte.
A decisão surpreendeu, já que normalmente um comando de combate como o Comando Sul lideraria operações de grande visibilidade. Na quinta-feira, o secretário de Defesa, Pete Hegseth, anunciou que o almirante que comanda o Comando Sul deixará o cargo no fim deste ano, dois anos antes do previsto.
O principal democrata no Comitê de Serviços Armados do Senado, o senador Jack Reed, classificou a saída do almirante Alvin Holsey como preocupante, diante do temor crescente de um possível confronto dos EUA com a Venezuela.