BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Associações de oficiais da Polícia Militar de estados governados pela direita se articulam em defesa dos sete policiais militares do Distrito Federal que aguardam julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) pelos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.

Entidades de São Paulo, Amazonas e Santa Catarina se juntaram à associação do Distrito Federal e divulgaram manifestos em que afirmam que o grupo agiu de forma legítima e é vítima de um processo político.

O movimento ganhou corpo depois da assembleia geral, em junho, da Federação Nacional de Entidades de Oficiais Militares Estaduais, instituição que reúne oficiais da PM e do Corpo de Bombeiros das 27 unidades da federação.

O tema foi levantado pelo coronel da reserva Leonardo Moraes, presidente da Asof-DF (Associação dos Oficiais da PMDF) —entidade que já foi presidida pelo ex-chefe do Departamento Operacional da PMDF coronel Jorge Eduardo Naime, um dos sete réus.

Apesar de as notas não refletirem a posição oficial das Polícias Militares de cada estado, Moraes afirma que parte da categoria tem o receio de se posicionar, mesmo incomodada com a situação dos policiais de Brasília.

Na visão dele, a exposição pública hoje se restringe a associações de quatro estados por serem “corporações que não têm medo de serem punidas por colocarem sua posição”.

“Eles resolveram mostrar explicitamente e por escrito o apoio, mas eles já vêm acompanhando o caso e essa é uma posição antiga. Eles sempre se mantiveram em silêncio, mas discordando. E agora resolveram pôr no papel e me acompanhar”, diz.

Os três estados e o Distrito Federal estão sob o comando de governadores de direita: Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, Wilson Lima (União Brasil), do Amazonas, Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina, e Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal.

Um dos manifestos foi assinado pela Defenda PM (Associação de Oficiais Militares do Estado de São Paulo em Defesa da Polícia Militar), entidade paulista reconhecidamente alinhada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em nota divulgada em 30 de agosto, a associação afirma que os sete policiais estão “submetidos a um processo inquisitorial que afronta os princípios constitucionais mais básicos”.

O presidente da Defenda PM, coronel Luiz Gustavo Toaldo Pistori, afirma que a entidade não discute o mérito do julgamento sobre os ataques do dia 8 de Janeiro em si, mas a forma com que os policiais militares estão sendo julgados.

A entidade também critica o que vê como tratamento desigual em relação a outras forças de segurança, como a Polícia Legislativa, responsável pela segurança do prédio do Congresso Nacional, a Polícia Judiciária, do STF, e o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), do Palácio do Planalto.

“Foi um evento muito complexo. Eu acho que é muito pouco você justificar que só esses policiais tenham tido culpa ou dolo no evento”, diz Pistori, que também preside a Fermesp, federação que reúne oito associações de policiais militares de São Paulo.

As outras duas notas são assinadas pela Aopbmam (Associação dos Oficiais da Polícia e Bombeiro Militar do Amazonas) e pela ABVO (Associação e Clube dos Oficiais Militares Estaduais de Santa Catarina).

A entidade do Amazonas aponta haver uma “criminalização seletiva de agentes públicos” e diz que o processo “mais se assemelha a um julgamento político do que a uma apuração isenta e técnica”.

“O que presenciamos é a incriminação de policiais militares como peças de um tabuleiro ideológico, onde a verdade e a justiça ficam em segundo plano para alimentar narrativas convenientes a determinados setores políticos”, afirma a Aopbmam.

Na mesma linha, a associação de Santa Catarina diz que “a disputa política nacional mantém-se acirrada e, por vezes, projeta sobre esses profissionais responsabilidades e acusações que não correspondem à realidade de sua atuação”.

O julgamento dos sete policiais, relatado pelo ministro Alexandre de Moraes, foi adiado três vezes pelo Supremo sem maiores explicações e ainda não tem nova data: primeiro em junho e, depois, em agosto, quando entrou e saiu da pauta do plenário virtual duas vezes.

O grupo inclui dois ex-comandantes da Polícia Militar de Brasília, o coronel Fábio Augusto Vieira, chefe em 8 de janeiro de 2023, e o coronel Klepter Rosa Gonçalves, promovido a comandante-geral em 9 de janeiro pelo então interventor federal, Ricardo Capelli.

Também são réus Naime e o ex-número dois dele no Departamento de Operações, coronel Paulo José Ferreira.

Completam a lista o coronel Marcelo Casimiro, ex-comandante do 1º CPR (Comando de Policiamento Regional), o major Flávio Silvestre, chefe interino do 8º BPM (Batalhão da Polícia Militar), e o tenente Rafael Pereira Martins, comandante de um dos pelotões de choque.

A própria associação de oficiais do Distrito Federal afirmou que os policiais estão “como verdadeiro gado em um matadouro”, esperando “a hora do abate”. O presidente da entidade também questiona a pecha de que o julgamento vai atingir a “cúpula” da PMDF.

“Um dos oficiais presos é um segundo-tenente que estava comandando a tropa de choque, havia sido escalado no dia. Como ele está sendo julgado com a mesma culpa de ter se omitido do comandante-geral da corporação? Ele não tinha poder de dar ordem a não ser para 20 homens, ele não mandava em nada”, diz Leonardo Moraes.