SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Conversa com EUA avança para discutir redução das tarifas enquanto exportações do Brasil migram para outros países, o que está acontecendo na renda fixa e outros destaques do mercado nesta sexta-feira (17).

**COMEÇO DE CONVERSA**

Não é pegadinha: as negociações das tarifas começaram de verdade. Depois de muito flerte (amigável) entre Lula e Donald Trump, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, e o secretário de estado dos EUA, Marco Rubio, reuniram-se para colocar as cartas na mesa.

TARIFÔMETRO

Há 72 dias, as tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos afetam as exportações brasileiras. Elas entraram em vigor em 6 de agosto.

Integrantes do governo brasileiro avaliam que a reunião entre os representantes dos dois países representou o ponto de partida para uma negociação séria pela redução das tarifas.É a mesma percepção com que saíram do encontro os membros do governo Trump, segundo um interlocutor americano relatou à Folha de S.Paulo.

Houve “conversas muito positivas sobre comércio e questões bilaterais em andamento” informaram os países em comunicado conjunto.

Vale lembrar que uma divulgação do tipo não é um padrão do Departamento de Estado americano, indicando uma sintonia entre as partes sobre o teor do encontro. Os representantes concordaram em agilizar um encontro entre Lula e Trump.

NO QG

Vieira e Rubio se encontraram na Casa Branca, sede da presidência dos EUA em Washington D.C.. Os dois tiveram um primeiro encontro que durou cerca de 15 minutos e, depois disso, as equipes de ambos falaram por mais tempo.

NA PAUTA

Antes da reunião, o time de Lula estava cauteloso. O objetivo era levantar três assuntos importantes: discussões sobre o etanol, minerais críticos e big techs.

A ideia era fazer gestos nas áreas de interesse aos EUA para empurrar a negociação para o campo comercial e tirá-la do campo político.

72 dias depois… dá para dizer que 5 dos 10 produtos mais prejudicados pelo tarifaço conseguiram redirecionar as exportações. Os dados são de uma pesquisa do FGV/Ibre.

Aí vai a lista dos resilientes:

– Semimanufaturados de ferro e aço: as exportações recuaram 7,7% para os EUA em setembro —uma queda mais acentuada do que a registrada nas vendas para o restante do mundo, de 5,2%.

– Carnes bovinas desossadas: as vendas para os EUA recuaram 66%. Ao mesmo tempo, subiram 71,9% para o resto do mundo, com alta de 75,4% das compras da China e de 354,8% das do México.

– Sebo bovino: a queda foi de 7,1% nos embarques para os americanos, mas cresceram 70,2% para outros países.

– Café não torrado: embarques para os EUA recuaram 29% em setembro. Vendas para outros países avançaram 17,5%.

**EMPACOU**

O Tesouro Nacional foi obrigado a botar o pé no freio na oferta ao mercado de NTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional – Série B). Vamos explicar por que é importante que você saiba disso.

TECLA SAP

É provável que você conheça as NTN-Bs como Tesouro IPCA+ —nome geralmente apresentado por bancos e casas de investimento. Esses títulos oferecem rentabilidade atrelada à inflação mais uma taxa de juros prefixada.

A ideia é proteger o poder de compra do investidor a longo prazo, uma vez que ele recebe a correção da inflação no vencimento e mais um pouquinho.

CONCORRÊNCIA

O mercado não parece tão interessado nesse tipo de título, por dois motivos principais.

[1] A briga entre os títulos públicos está acirrada, uma vez que o Tesouro Selic está com altos rendimentos —lembre-se de que a taxa básica de juros está em 15% ao ano.

[2] Há uma oferta cada vez maior de debêntures de infraestrutura —títulos de dívida emitidos por empresas para captar recursos para financiar projetos como estradas, ferrovias e saneamento.

Esses títulos são isentos da cobrança de Imposto de Renda sobre seus rendimentos, o que lhes dá uma vantagem muito grande sobre os ativos do Tesouro, que, por sua vez, sofrem incidência de 15% a 22,5% do IR.

R.I.P.

Lembra-se da medida provisória que tentava derrubar a isenção do IR de alguns ativos? As debêntures de infraestrutura estavam entre eles.

Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, chamou a manutenção das isenções tributárias de “tremenda barbeiragem” em entrevista à Folha.

Tá, mas e daí? E daí que o Tesouro precisa vender títulos para conseguir rolar a sua dívida e ter um colchão de liquidez para momentos onde há menos circulação desse tipo de ativo —cenário que ele prevê para 2026, em meio às eleições.

Para tornar o Tesouro IPCA+ mais atrativo frente à concorrência, o órgão precisa oferecer uma taxa maior sobre a inflação, o que compensa os investidores pela tributação, mas aumenta o custo da dívida pública —já bastante pressionada.

O Tesouro está emitindo uma quantidade muito pequena deles. Uma forma de estimular o mercado a consumir o que está disponível, em vez de esperar a emissão de ativos com prêmios maiores.

Por outro lado… a procura por títulos atrelados à Selic está alta. A B3 lançou ontem seu primeiro índice de títulos públicos.

A ideia é que ele sirva de referência para o desempenho do Tesouro Selic e permita o desenvolvimento de produtos secundários, como contratos futuros e ETFs (fundos de índices cujas cotas são negociadas em Bolsa).

Isso significa que, no futuro, deverá ser possível investir indiretamente nesses ativos comprando uma cota na B3, da mesma forma que ocorre com ações.

**💭 Caso você tenha se esquecido**

…o governo dos Estados Unidos continua em “shutdown”.

As agências federais e cerca de 750 mil funcionários estão paralisados desde o dia 1º de outubro devido a um impasse orçamentário. O apagão econômico começou após democratas e republicanos não chegarem a um consenso sobre o financiamento federal.

Essa é a terceira maior paralisação das instituições da história americana.

Enquanto não houver acordo, o “shutdown” continuará afetando serviços em todo o país. Museus e parques públicos foram fechados, voos sofreram atrasos e diversos serviços de atendimento ao público estão sendo afetados.

A título de curiosidade… o apagão mais longo aconteceu no primeiro mandato de Donald Trump na Casa Branca. A paralisação começou em 22 de dezembro de 2018 e durou 35 dias.

Na época, os democratas no Congresso se recusaram a apoiar um projeto de lei orçamentária que incluía o pedido de US$ 5,7 bilhões para a construção de um muro na fronteira entre os EUA e o México.

Os parlamentares acabaram aprovando o orçamento sem essa reserva e as atividades voltaram em 25 de janeiro de 2019.

**TRABALHO INTERNO (2010)**

Inside Job. Netflix, Prime Video, AppleTV+, 120 min.

Falamos sobre bolhas especulativas no mercado financeiro na edição de ontem da newsletter. Sem sair do tema, indico um documentário que expõe causas sistêmicas da crise financeira global de 2008, que começou com uma bolha no setor imobiliário americano.

Em cinco partes, o diretor, Charles Ferguson, cria um paralelo entre mudanças na política dos Estados Unidos e a atuação dos bancos —e como esses dois fatores contribuíram para a derrocada do sistema financeiro global.

Ele entrevista figurões como George Soros, investidor bilionário, Christine Lagarde, presidente do BCE (Banco Central Europeu), e Barney Frank, ex-deputado democrata. A narração é feita pelo ator Matt Damon.

“É um documentário sobre a crise econômica global de 2008. Mais que isso, é um filme sobre um crime, sobre como Wall Street, em conluio com lobistas e com a complacência das agências reguladoras dos EUA, tramou para ganhar trilhões arruinando seus investidores”, define a resenha crítica da Folha, escrita na época do lançamento.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

A história sem fim. As negociações de CDBs do Master no mercado secundário estão pressionando o FGC. A instituição também lida com pedidos de garantias adicionais por parte de Visa e Mastercard.

Porteiras abertas. O Congresso pode aprovar medida que permitiria para gasto ilimitado fora do arcabouço. O dispositivo exclui do teto despesa financiada com empréstimo internacional.

Cansou da semana? Poderia ser pior. O Parlamento da Grécia aprovou uma reforma que permite uma jornada de trabalho de até 13 horas. Sindicatos organizam greves gerais no país.

Não gostou? Processa. O governo do estado do Rio de Janeiro alega que perdeu receita com a interdição de refinaria da Refit, alvo da Receita Federal, e vai à Justiça.

Sob nova direção. Depois da morte do fundador, Giorgio Armani nomeia Giuseppe Marsocci como novo CEO. Ele terá de comandar uma reformulação, que inclui a venda de parte da empresa.

🧠 Memória curta. O controlador da Ambipar, Tércio Borlenghi Júnior, comemorou mudanças no contrato com o Deutsche Bank que hoje afirma desconhecer, segundo a defesa do ex-CFO da emrpesa.

🛣️ Ra, ré, ri, ró, rua. A Nestlé anunciou que vai cortar 16 mil empregos globalmente, 12 mil deles da área administrativa. A primeira leva deve ser concluída em dois anos.

❌ Tchau. O INSS suspendeu o crédito consignado de quatro bancos, entre eles, o Inter.