BRASÍLIA, DF E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As negociações de CDBs (Certificado de Depósito Bancário) do Banco Master no mercado secundário têm aumentado a pressão sobre o FGC (Fundo Garantidor de Créditos), que protege investidores caso uma instituição financeira vá à falência ou à liquidação. O fundo, que recebe aporte dos bancos, garante o ressarcimento de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ.
Investidores que têm aplicações em CDBs acima do teto da garantia do FGC estão vendendo esses títulos de renda fixa emitidos pelo banco de Daniel Vorcaro a outros investidores no mercado secundário.
Na outra ponta das negociações, os compradores não ultrapassam o teto de R$ 250 mil em suas aquisições. Dessa forma, garantem a proteção do FGC, o que, na prática, aumenta a exposição do fundo para honrar os CDBs do Master em caso de liquidação pelo Banco Central.
A movimentação no mercado secundário tem irritado os maiores financiadores do FGC, os grandes bancos, diante do impasse em torno do Master. O fundo não quer botar mais dinheiro com uma nova linha de empréstimo à instituição, que vai precisar de mais recursos para bancar os CDBs que estão vencendo. A liquidação do banco pelo BC é vista como cada vez mais próxima por pessoas envolvidas nas negociações.
A liquidação passa por uma eventual inadimplência do Master. O BC fará esse movimento se esse critério for comprovado, o que depende do caixa do banco.
O Master precisa de cerca de R$ 300 milhões em outubro para manter o fluxo de pagamentos dos CDBs e um pouco mais de R$ 1 bilhão nos meses de novembro e dezembro, segundo pessoas a par do tema ouvidas pela reportagem na condição de anonimato. Procurado, o banco não respondeu ao pedido de informações e o FGC avisou que não comenta casos específicos.
Nas corretoras da XP, por exemplo, há CDBs do Master à venda no mercado secundário com rentabilidades de 25,50% ao ano, IPCA + 21% e CDI + 11%.
Segundo a plataforma Quantum Finance, os retornos são muito acima da média do mercado. Na média, o retorno dos CDBs ao fim de setembro era de 13,73% nos prefixados, IPCA + 8,11% nos atrelados à inflação e de 99,8% do CDI nos que acompanham a taxa DI.
Dados do marketplace de investimentos Meelion, que monitora diariamente mais de 2.500 produtos de renda fixa, apontam que a rentabilidade dos papéis do Master chega a ser 1.300% superior ao restante do mercado.
Os críticos à movimentação do mercado secundário, que tem dado liquidez aos CDBs do Master, têm defendido uma ação mais dura do BC e falam até mesmo na necessidade de interromper essas negociações.
Porém, segundo Atahualpa Padilha, economista e advogado do escritório Benício Advogados, a comercialização de ativos no mercado secundário só poderia ser proibida mediante competente decisão judicial.
“Há que se considerar, entretanto, que os referidos CDBs podem vir a ser considerados ‘ativos tóxicos’ muito antes que isso possa ocorrer, e as negociações em mercado secundário cessem simplesmente por não haver interesse na compra e, portanto liquidez, para a venda dos mesmos”, afirma Padilha.
CARTÃO DE CRÉDITO
Além de enfrentar o vencimento de depósitos a prazo que pressionam a liquidez, o Banco Master também lida com pedidos de garantias adicionais por parte das bandeiras de cartão de crédito Visa e Mastercard, segundo a reportagem apurou.
O receio das bandeiras é que numa eventual liquidação do banco, o pagamento de outras empresas de cartão de crédito e até de lojistas fique comprometido. Alguns consumidores, por exemplo, podem se sentir desincentivados a pagar uma fatura de cartão de crédito ao saber que o banco quebrou.
Procurada, a Visa disse que não comentaria o assunto, enquanto a Mastercard não retornou o pedido de comentário até a última atualização desta reportagem.
HUCK
Um grupo de investidores que incluía o apresentador da Rede Globo Luciano Huck e a gestora de fundos de private equity EB Capital desistiu de comprar o Will Bank, controlado pelo Banco Master depois de avaliar o ativo por duas semanas, de acordo com uma fonte familiarizada com o assunto. A informação foi anteriormente publicada pelo jornal O Globo.
Mesmo assim, ainda existem conversas com alguns interessados no Will Bank, segundo uma outra pessoa. A Folha de S.Paulo publicou uma reportagem na semana passada mostrando que, além de Huck, outros três investidores analisavam o ativo, incluindo um fundo estrangeiro de private equity e o Banco de Brasília (BRB). Huck e EB Capital não comentaram o assunto.
A venda do Will Bank teria o potencial de reduzir o passivo do Master. Para honrar depósitos, o Master precisou recentemente recorrer a uma linha emergencial de R$ 4,5 bilhões do FGC. A linha teve vencimento no dia 1º de outubro.