SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O cantor Moacyr Luz, 67, recebeu alta do Einstein Hospital Israelita nesta quinta-feira (16) após passar por uma cirurgia para tratar o Parkinson, cujo diagnóstico recebeu em 2008.
O procedimento, chamado de estimulação cerebral profunda, foi realizado na terça (14). Trata-se de um implante de eletrodos na cabeça que emitem impulsos elétricos para modular a atividade de determinadas áreas. Dois dias depois, o compositor diz já ter notado diferença.
“Estou no ponto morto ainda, só instalou o aparelho e agora tem que esperar um pouquinho para ativar. Mas só de botar 0,001 já estou outra pessoa, é impressionante”, diz à reportagem.
Com “0,001” o cantor se refere aos estímulos de baixa intensidade, afirma a jornalista Marluci Martins, esposa do sambista. Esses ajustes são feitos aos poucos para que o corpo se adapte, ela diz.
“Mas o pouquinho que ele [o médico Erich Fornoff, que fez a cirurgia] botou já melhorou a caminhada do Moacyr. Por exemplo, ele estava bebendo com canudinho ontem, sem ajuda. Tomou um copo de mate sem ajuda, hoje tomou de novo. Depois, ele pegou e atacou a garrafa. Estava fácil”, brinca Marluci.
Esses estímulos baixos o ajudaram a “destravar”, acrescenta a esposa, e já permitem movimentos que antes ele tinha dificuldade para fazer, como pegar o dinheiro na bolsa e pagar o táxi.
A estimulação cerebral profunda pode ser usada no Brasil para casos de Parkinson, tremor essencial, distonia -contrações musculares involuntárias- e epilepsia refratária.
A técnica, que vem sendo estudada há muitas décadas, é coberta por planos de saúde e oferecida em alguns hospitais do SUS (Sistema Único de Saúde), afirma o médico José Francisco Pereira Jr., neurocirurgião do Hospital Sírio-Libanês.
“Ela trata os principais sintomas da doença de Parkinson”, afirma. “São a rigidez, a lentificação dos movimentos e os tremores”, acrescenta. A técnica também é interessante para pacientes que usam medicação há um tempo, mas que já sentem perder os efeitos rapidamente.
A recuperação é rápida. Outra vantagem da técnica é que os efeitos colaterais são reversíveis.
“Se a estimulação dá formigamento em algum lugar do corpo, você pode mudar o padrão de estimulação para que não dê esse formigamento”, afirma o neurocirurgião.
A família de Moacyr descobriu a técnica por acaso, após uma consulta online com o médico que fez a cirurgia, conta Marluci.
Até então, a família tinha interesse em tratar os tremores com Hifu, ultrassom de alta intensidade não invasivo. Foi quando o médico indicou a estimulação profunda, mais apropriada para tratar os diversos sintomas que o sambista apresentava.
“A marcha do Moacyr estava muito comprometida. Ele não estava conseguindo mais sair. A gente mora no Flamengo. Ele não estava conseguindo atravessar o parque do Flamengo para ir à praia. Uma distância de, sei lá, seis minutos. Não estava conseguindo ir ao bar preferido dele, ali pertinho, que é o Belmonte. Foi ficar muito recluso por conta disso, né? Só estava saindo mesmo para trabalhar”, relata.
O cantor também não estava conseguindo tocar em pé, que é sua preferência, dormia mal, tinha dores e a medicação para Parkinson já não estava mais tão eficaz. Moacyr toma 32 remédios por dia, alguns para pressão alta, afirma ela.
A movimentação já apresentou melhora, assim como o sono, diz Marluci. Ela conta que fará 58 anos no próximo dia 25, mas que já ganhou seu presente. “O pouco que já se conseguiu é muito. Já mostra que vai ser um sucesso.”