BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O novo presidente dos Correios, Emmanoel Schmidt Rondon, prepara mudanças na diretoria-executiva da empresa como parte de seu plano de reestruturação, que também envolve um empréstimo de R$ 20 bilhões com garantia do Tesouro Nacional, como revelou a Folha de S.Paulo.
Três diretores deixarão o posto: Juliana Picoli Agatte (Governança e Estratégia), Getúlio Marques Ferreira (Gestão de Pessoas) e Sérgio Kennedy Soares Freitas (Operações). Os dois primeiros são ligados ao PT, enquanto o terceiro é indicado do Podemos.
Eles devem ser substituídos por Luiz Cláudio Ligabue, que já atuou no Banco do Brasil, Natália Teles da Mota, atual diretora-executiva da Enap (Escola Nacional de Administração Pública), e José Marcos Gomes, que foi superintendente dos Correios em São Paulo durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
O mandato de todos os diretores dos Correios venceu em 6 de agosto deste ano, mas o estatuto da companhia permite a permanência no cargo até que haja indicação de novos titulares.
Segundo interlocutores, o novo presidente da empresa pretende balancear as mudanças com a manutenção de alguns nomes que já estão na diretoria.
Dois indicados pelo União Brasil devem permanecer no cargo: José Rorício de Vasconcelos Júnior (Administração) e Hilton Maia Cardoso (Negócios). A diretora econômico-financeira, Loiane Bezerra de Macedo, também deve ser mantida no posto neste momento.
Em sua primeira entrevista coletiva, na quarta-feira (15), Rondon disse que vai adotar uma postura técnica à frente da companhia. “Fui chamado aqui porque eu sou um técnico, não sou político. A missão aqui é a gente adotar uma gestão técnica da empresa.”
Segundo interlocutores, ele recebeu dos ministros Rui Costa (Casa Civil) e Frederico de Siqueira Filho (Comunicações) a sinalização de que teria liberdade para formar sua equipe. Ainda assim, a escolha dos novos nomes tem sido alvo de conversas com o ministro das Comunicações, pasta à qual os Correios são vinculados.
Siqueira Filho foi indicado ao cargo por articulação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Nos Correios, a sigla conseguiu manter os dois diretores apadrinhados pela legenda, algo que, dentro da empresa, foi visto como sinalização contrária à promessa de uma gestão mais técnica.
Entre os diretores que estão de saída, Agatte é ligada ao presidente do PT, Edinho Silva, que foi prefeito de Araraquara (SP). Lá, ela foi secretária municipal de Governo, Planejamento e Finanças durante seis anos.
Getúlio Ferreira, por sua vez, é ligado à governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT). Já Sérgio Freitas era uma indicação do Podemos.
Na quarta, o novo presidente dos Correios confirmou a negociação de um empréstimo de R$ 20 bilhões para recuperar o caixa da companhia e anunciou as bases de um plano de reestruturação que inclui novo PDV (programa de demissão voluntária), venda de imóveis, renegociação de contratos e busca por novas fontes de receitas.
Segundo Rondon, as medidas de ajuste devem permitir que a empresa volte a ter lucro em 2027.
O executivo não especificou metas de redução de despesas, nem indicou quanto os Correios podem obter em novas receitas. Segundo ele, os números estão sendo debatidos dentro da companhia e também com os bancos que concederão o empréstimo, uma vez que o ajuste bem-sucedido é o que dará à empresa os recursos necessários para honrar a operação.
“Não temos detalhes para poder falar qual vai ser a composição exata do aumento de receita e da redução de despesa. Mas é dentro de um critério para a gente poder ter a operação de forma sustentável”, disse na ocasião.
Segundo Rondon, o empréstimo de R$ 20 bilhões é uma “ponte para a nova situação dos Correios” no futuro, uma maneira de resolver o problema de caixa da companhia, que enfrenta dificuldades para pagar fornecedores.
O dinheiro será usado para cobrir o rombo no caixa, custear as novas medidas, como o PDV, e quitar o empréstimo de R$ 1,8 bilhões contratado no primeiro semestre deste ano e cujas parcelas vencerão entre janeiro e junho de 2026.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, a nova operação está sendo articulada com Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e bancos privados. BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil, que já são credores dos Correios pelo empréstimo anterior, participam das conversas.
Em situação financeira bastante delicada, os Correios registraram um prejuízo de R$ 2,64 bilhões no segundo trimestre de 2025. O rombo é quase cinco vezes o resultado negativo verificado em igual período de 2024, quando ficou em R$ 553,2 milhões.
No primeiro semestre, o rombo alcançou R$ 4,37 bilhões, o triplo do prejuízo de R$ 1,35 bilhão observado em igual período de 2024. O valor foi antecipado pela coluna Painel, da Folha de S.Paulo.