SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aventou nesta quinta-feira (16) a possibilidade de tropas entrarem na Faixa de Gaza novamente caso os atos de violência perpetrados por membros do Hamas continuem acontecendo no território palestino.

“Se o Hamas continuar matando pessoas em Gaza, o que não fazia parte do acordo, não teremos escolha a não ser entrar e matá-los. Obrigado pela sua atenção a este assunto!”, afirmou o republicano e principal fiador da trégua sobre os vídeos que mostram combatentes do grupo terrorista assassinando supostos “colaboradores de Israel”.

A declaração contradiz o que Trump havia afirmado sobre as ações da facção na terça-feira (14). Questionado por repórteres, o republicano afirmou que o Hamas havia matado “vários membros de gangues”, o que, segundo ele, não o incomodava.

“Eles querem acabar com os problemas e têm sido abertos sobre isso, e nós lhes demos aprovação por um período de tempo”, disse Trump. “Temos quase 2 milhões de pessoas voltando para prédios que foram demolidos, e muitas coisas ruins podem acontecer. Então, queremos que seja seguro. Acho que vai ficar tudo bem. Quem sabe com certeza?”

Com a retirada de Israel de 47% de Gaza, os conflitos internos entre o Hamas e outros grupos armados que atuam no território palestino emergiram, reeditando as cenas de violência vindas da região nos últimos dois anos de guerra.

Uma das mais brutais foi divulgada pela TV do Hamas no Telegram e mostra combatentes arrastando homens acusados de colaborarem com Israel antes de forçá-los a se ajoelhar e atirar neles pelas costas.

A declaração desta quinta é mais um sinal da fragilidade do cessar-fogo assinado na última segunda (13) pelo presidente americano. Mais cedo, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, já havia dito que a guerra ainda não havia terminado em Gaza.

“O combate ainda não terminou, mas há uma coisa muito clara: quem levantar a mão contra nós sabe que pagará um preço elevado”, disse Netanyahu em um evento em memória dos ataques terroristas do 7 de Outubro. Durante a cerimônia, o premiê afirmou que está determinado a conseguir o retorno de todos os corpos dos sequestrados nos atentados que ainda estão no território.

Autoridades israelenses também disseram que a passagem de Rafah, que liga Gaza ao Egito e é considerada por agências humanitárias essencial para a entrada de ajuda suficiente no território, seria aberta “em uma fase posterior”, não mais nesta quinta, como previsto.

Por trás do atraso estão as acusações mútuas que Tel Aviv e Hamas vêm trocando sobre violações do acordo de cessar-fogo e devolução dos cadáveres.

O grupo terrorista já devolveu nove de um total de 28 corpos que estavam no território palestino —um décimo foi entregue, mas Israel afirmou se tratar de um palestino. Segundo a facção, não é possível devolver mais corpos de reféns israelenses sem equipamentos de resgate especializados para usar em meio aos escombros do território devastado por dois anos de guerra.

Os últimos dois corpos, entregues na noite desta quarta, foram identificados como sedo de Inbar Hayman, 27, e Mohamad al Atrash, 39.

Hayman era uma artista de grafite conhecida como Pink, natural de Haifa, que foi assassinada no festival de música eletrônica Nova durante o ataque em outubro de 2023. Seu corpo foi levado para Gaza, assim como o do sargento Atrash, um beduíno que morreu em combate. Pai de 13 filhos, ele morava no vilarejo de Moulada, no deserto de Negev.

Já o Ministério de Saúde palestino, controlado pelo Hamas, anunciou nesta quinta que Israel havia liberado mais 30 corpos de palestinos mortos durante o conflito, elevando para 120 o total de cadáveres recebidos desde segunda-feira (13). Acredita-se que uma fração deles seja de membros do grupo terrorista que participaram dos ataques do 7 de Outubro.

Ainda nesta quinta, um funcionário do alto escalão do Hamas acusou Israel de violar o cessar-fogo ao matar pelo menos 24 pessoas em tiroteios desde sexta-feira. A facção disse que uma lista das supostas violações foi entregue aos mediadores do acordo.

O Exército israelense não respondeu imediatamente às acusações do Hamas. O governo já havia dito anteriormente que alguns palestinos ignoraram avisos para não se aproximar das tropas israelenses e que elas “abriram fogo para eliminar a ameaça”.