SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O coronel Michael Randrianirina afirmou nesta quinta-feira (16), véspera de sua posse como novo líder de Madagascar, que a recente mudança no comando do país “não foi um golpe de Estado”. A declaração ocorreu após a fuga do presidente Andry Rajoelina em um contexto de protestos e da tomada do poder por uma junta militar.
Em entrevista, Randrianirina argumentou que a transição não teve características de um golpe. “Um golpe de Estado é quando os soldados entram no palácio presidencial com armas, atiram e há derramamento de sangue. Isso não é um golpe de Estado”, disse.
Segundo ele, sua nomeação como presidente pelo mais alto órgão judicial do país comprova que o processo foi legítimo. “Deram-me o poder, transferiram-me o poder. É diferente de tomar o poder”, acrescentou o militar, que deve assumir de forma oficial o cargo nesta sexta-feira (17).
Ele substitui no comando do país Rajoelina, que foi destituído após manifestações iniciadas em 25 de setembro e lideradas por jovens que protestam contra a falta de água, da eletricidade e a corrupção. Diante do agravamento da crise, o presidente deixou Madagascar em 11 ou 12 de outubro, segundo comunicado divulgado na quarta (15), que citava “ameaças explícitas e sérias” contra sua vida.
De acordo com veículos de imprensa, o líder de 51 anos foi retirado do país em um avião militar francês no domingo (12). No dia seguinte, Rajoelina confirmou que se encontrava em um “lugar seguro”, sem revelar o destino. Ele acusou a Assembleia Nacional de ter se aliado aos militares para forçá-lo a deixar o poder.
Rajoelina chegou à Presidência pela primeira vez em 2009, também após um golpe militar que o levou a substituir o então chefe de Estado, Marc Ravalomanana. A repetição do cenário reforçou o temor internacional de instabilidade em Madagascar, que enfrenta crises econômicas e sociais recorrentes.
Em resposta aos acontecimentos, o secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou “a mudança inconstitucional de governo” e pediu o retorno à ordem democrática. A União Africana, por sua vez, que reúne 55 países do continente, anunciou na quarta-feira a suspensão de Madagascar do bloco.
Trata-se do mesmo padrão aplicado nos últimos anos pelo bloco africano contra outros países em que militares assumiram o poder à força, incluindo Burkina Fasso, Gabão e Níger.
A saída de Rajoelina do país marcou a segunda vez em poucas semanas que jovens manifestantes derrubam um governo com uma onda de revoltas da chamada geração Z pelo mundo. Em setembro, protestos massivos no Nepal começaram a partir da proibição das redes sociais pelo governo e, após violência nas ruas e dezenas de mortes, terminaram com a renúncia do então primeiro-ministro.
Em seguida, a ex-chefe da Suprema Corte do país Sushila Karki foi nomeada governante interina com apoio dos manifestantes. O presidente do Nepal, então, dissolveu o Parlamento e marcou eleições para março de 2026.