WASHINGTON, EUA E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) traçou um mapa do que é possível sinalizar aos americanos na mesa de negociação sobre o tarifaço aplicado contra o Brasil.
A primeira reunião presencial entre o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores), o secretário de Estado americano, Marco Rubio, e o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, desde a conversa entre o petista e Donald Trump ocorre nesta quinta-feira (16).
Integrantes do governo Lula adotam cautela, ponderam que o encontro não deve ser definitivo e que, primeiro, vão ouvir as demandas dos EUA. Mas o time brasileiro tem sugestões em três frentes caras aos americanos para sinalizar como oferta e tentar azeitar o clima: discussões sobre etanol, minerais críticos e big techs.
O governo brasileiro pretende pedir a redução das tarifas de 50% ao país e o fim de sanções aplicadas pelos EUA, como suspensão de vistos e punições financeiras a autoridades.
Dois integrantes da gestão americana disseram à reportagem que a política externa de Trump para o Brasil não mudou. Isto é, que o governo manterá a pressão contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), por decisões contra o big techs e Jair Bolsonaro (PL).
Isso foi explicitado por Jamieson Greer nesta terça. Ele atribuiu as tarifas ao que chamou de censura e preocupação com o Estado de Direito. O governo brasileiro decidiu ignorar o comentário e aguardar o encontro.
Outro aliado de Trump menciona preocupação com a saúde de Bolsonaro. Mas o governo Lula já deixou claro que não tratará de negociações ligadas à política, só à seara comercial. Ainda assim, há a expectativa de que o argumento citado por Greer seja repetido na reunião desta quinta.
A ideia é então fazer gestos nas áreas de interesse aos EUA para empurrar a negociação ao campo comercial. Em relação ao etanol, o governo considera retomar o regime de cotas ou mesmo criar mecanismos para incentivar que o etanol americano entre por portos brasileiros no Sudeste.
O principal temor de produtores e políticos brasileiros com a possível entrada de etanol de milho americano são as usinas do Nordeste, menos mecanizadas e de menor competitividade do que no Sudeste. Trata-se de um tema com alta sensibilidade política e que mobiliza políticos nordestinos no Congresso.
Com relação a minerais críticos, há interesse do Brasil em criar uma indústria para a exploração desses bens. Uma ideia na mesa é oferecer aos EUA uma parceria de investimento, no qual o país ajudaria a bancar a exploração desses minerais em troca da garantia de uma cota de compra.
No setor de big techs, o governo considera haver pouco a fazer, já que as discussões são centradas no Congresso e no STF. Mas haveria a possibilidade de discutir assuntos relacionados à regulação feita pela Anatel às empresas. Para os dois últimos setores, o governo pode oferecer a criação de grupos de trabalho que elaborarão propostas sobre o tema.
O ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse nesta quinta ter conversado com Vieira na véspera da reunião com os americanos. Segundo ele, o chanceler brasileiro se mostrou “bastante confiante” com o clima restabelecido entre os dois governos.
“Não sei o caminho que nós temos pela frente ainda, mas acredito que esteja aberta uma avenida para nós restabelecermos relações cordiais, como sempre tivemos, isolando essa questão política da questão econômica”, afirmou. “A coisa mais grave que aconteceu foi essa mistura da questão política com a questão econômica.”
Na quarta (15), o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e seus aliados também estiveram em Washington em reuniões no Departamento de Estado, no Departamento do Tesouro e na Casa Branca.
O empresário Paulo Figueiredo disse à reportagem estar satisfeito com as conversas. “Fomos bem recebidos como sempre. Não vimos nenhum indicativo de mudança da política externa americana. A gente entende as conversas como naturais e podem ser muito benéficas para o que a gente quer. E que a gente confia na condução do processo pelo barco rumo”, disse.