SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O inquérito policial contra ex-executivos da área de finanças e relações com investidores da Ambipar, aberto a pedido da empresa, colocou a discussão sobre a crise da companhia em novo patamar. O calibre dos advogados escalados para a discussão é a demonstração disso.
O inquérito na Polícia Civil em São Paulo apura suspeitas de crimes de falsidade ideológica, fraudes, abusos na administração e estelionato, que teriam sido praticados pelo ex-CFO João Arruda, o ex-diretor executivo financeiro Carlos Daniel Braga Coradi e o ex-diretor de relações com investidores Pedro Borges Petersen.
Nessa discussão, pelo lado da Ambipar está o escritório Oliveira Lima & Dall’Acqua, de José Luis Mendes de Oliveira Lima. Conhecido como Juca, ele atua em casos de grande repercussão, especialmente na política nacional. Foi advogado do ex-ministro José Dirceu no Processo do Mensalão. Agora, está na defesa do general Braga Netto no julgamento da trama golpista, no STF (Supremo Tribunal Federal).
Na coordenação da defesa do ex-CFO da Ambipar está advogado David Rechulski, renomado por sua atuação no direito penal empresarial. Atuou, por exemplo, na defesa da Vale e seu ex-presidente no caso do rompimento da barragem em Brumadinho, e representou o ex-CEO das Americanas em negociações na CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
A Ambipar alega que o trio de executivos, agora alvo no inquérito, sob a liderança de Arruda, transferiu contratos e assinou aditivos com o banco alemão Deutsche, sem conhecimento da empresa -o que levou a perdas para a companhia e ao risco de cobranças cruzadas de seus débitos.
Rechulski contesta. “A propósito, para que não pairem dúvidas desde logo, há até mensagens do controlador, CEO e membro do conselho de administração, Sr. Tércio Borlenghi Júnior enviadas ao seu ex-CFO João Arruda comemorando a assinatura do aditivo com o Deutsche Bank, que agora dizem ser algo desconhecido”, afirmou Rechulski em nota enviada à reportagem. O mencionado documento ainda não foi apresentado nos processos.
O inquérito em SP, assim como o processo em que Ambipar tenta evitar que grandes bancos executem suas dívidas, que está no Rio, tem o mesmo ponto de partida: operações da Ambipar com este banco alemão.
Em janeiro do ano passado, a Ambipar Lux, uma subsidiária em Luxemburgo, fez a sua primeira emissão de green bonds (títulos verdes). Para se proteger da variação da moeda estrangeira contratou junto ao Bank of America um tipo de proteção financeira chamado swap cambial.
A compreensão de como funciona esse tipo de instrumento é para iniciados em finanças. Porém, grosso modo, o swap, como indica o nome, faz a troca de fluxos de pagamento para evitar perdas. O swap está na família dos derivativos, tipos de contratos que têm esse nome porque derivam de algum ativo, como moedas, índices ou ações. O swap cambial deriva de moedas, normalmente troca taxa de câmbio por outro tipo de taxa.
Em agosto, esses contratos foram transferidos do Bank of America para o Deutsche Bank -e é aí que começaram as divergências e diferentes versões.
Rechulski também qualificou a estratégia de levar essa discussão para a polícia como mais um “movimento errático” da companhia. Segundo ele, há inúmeros indícios para demonstrar que “estamos diante de uma provável situação típica de denunciação caluniosa”.
Disse que, apesar de a Ambipar afirmar que a transferência dos contratos de swap do Bank of America para o Deutsche Bank tenha sido feita pelos três executivos, sem conhecimento do conselho de administração, na verdade, o termo de cessão foi firmado pelo próprio filho do controlador e diretor estatutário da Ambipar, Guilherme Borlenghi.
Reforçou também que o procedimento com o Deutsche tanto era do conhecimento da empresa que o mencionado aditivo também traz as assinaturas dos diretores estatutários Thiago Silva e Luciana Barca.
Fazendo coro com os bancos, a defesa do ex-CFO também disse não fazer sentido a discussão judicial estar fora de São Paulo, onde fica o comando da Ambipar, e questiona a mudança da sede da empresa para um coworking no Rio de Janeiro às vésperas de conseguir a liminar que suspendeu cobranças.
Os argumento da defesa de Arruda estão alinhados com as manifestações do próprio Deutsche no processo que corre na 3ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
O banco alemão afirmou nos autos que as operações que tratam dos derivativos foram regularmente contratadas e aprovadas pelos órgãos de governança da Ambipar, inclusive pelo conselho de administração.
Nas manifestações, o banco já reforçou que os adendos feitos em agosto de 2025 eram meros aditamentos às operações originais, já aprovadas pelo conselho e estavam na alçada da diretoria. Segundo a instituição, esses aditamentos foram, inclusive, contratados a pedido do grupo Ambipar para reduzir o custo e os juros das operações de derivativos.
A instituição ainda destacou que os documentos não foram assinados isoladamente pelo ex-CFO, mas também pelos diretores estatutários Thiago da Costa Silva e Luciana Freire Barca Nascimento, como está previsto no estatuto social.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Ambipar disse que a empresa não comentaria as manifestações da defesa do ex-CFO.