SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em seu livro de estreia, a jornalista Renata Piza vai contra o ditado que diz que “todos morremos sozinhos” e mergulha fundo na ideia de que, quando um ente querido morre, uma parte de nós morre com ele.

“No dia em que eu morri, segurei a morte nos braços”, ela escreve ao narrar a partida repentina e precoce de seu então marido, o também jornalista Daniel Piza.

Morto em 2012, aos 41 anos, por causa de um acidente vascular cerebral, Daniel deixou Renata em um processo de luto cheio de raiva e sofrimento, que inspirou “Ninguém Morre Sozinho”.

Misturando humor ácido e melancolia, ela escreve em primeira pessoa o que chama de “livro desespero” e “anti-ajuda”.

“Para mim foi uma coisa muito violenta que aconteceu de forma randômica e sem sentido nenhum. Eu quis retratar essa confusão mesmo. Não é um livro de autoajuda porque eu não estou conseguindo nem me ajudar”, diz.

Este é o primeiro livro da autora, que diz que o guardava há dez anos. Ela o escreveu em 2015, com a perda do marido ainda recente, como uma forma de dar sentido ao que viveu e se apropriar de sua história.

A obra intercala descarregos de indignação, diante da injustiça da morte, com lembranças que buscam compreender a perda e contar uma história de amor. Renata parece escrever para guardar e ao mesmo tempo se livrar de suas memórias.

Durante a década entre a escrita e a publicação, a autora passou da “Renata do Daniel” para a “Renata com o Daniel”, afirma ela. A primeira versão tinha Daniel “quase como um líder religioso”, segundo a viúva. Já a segunda passou a existir depois de se “redescobrir como um ser humano”.

A Renata idealizada por Daniel morreu, como ela diz. “Foi todo um processo de tentar entender quem que eu era sem o Daniel. Então eu tive que me aproximar muito mais da criança que eu fui antes de ser a mulher dele, depois a viúva, para recuperar a mim mesma.”

Em pleno século 21, quando a independência das mulheres do casamento está mais concretizada, pode soar estranho Renata se apresentar como a mulher de um homem. Ela conta que teve essa preocupação, mas escolheu ser verdadeira sobre seus sentimentos.

“Eu já fui tão julgada na época em que me casei e peguei o sobrenome dele que não tenho receio do que as pessoas vão achar agora.” Sua única preocupação era com os filhos, que hoje já são adultos e escolheram não ler o livro.

Renata diz que o marido ainda se faz presente em sua vida de outras maneiras, por meio dos filhos e em diversos tipos de memorabília. Segurando uma caneta que pertenceu a seu falecido pai, ela conta que aprendeu a conviver com seus mortos.

Ao ressignificar a morte, ela diz estar pronta até para sua própria partida. “Não que eu queira morrer. Eu quero viver bastante. Mas eu fiquei mais em paz com os mortos e com a morte porque ela deixou de ser um lugar de infinitude e concreto.”

NINGUÉM MORRE SOZINHO

Preço R$ 69,90 (160 págs.)

Autoria Renata Piza

Editora Gema