SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Faltando cerca de oito meses para o início da Copa do Mundo de 2026, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem feito ameaças de retirar partidas do torneio previstas para cidades que são governadas por políticos democratas, do partido de oposição ao do mandatário.
Seattle, Boston e San Francisco, nas quais tanto a prefeitura quanto o governo dos respectivos estados são controlados por democratas, foram recentemente apontadas pelo republicano como locais que poderiam ter as partidas da Copa do Mundo removidas.
Trump alegou questões de segurança ao levantar a possibilidade, em meio à resistência de democratas de aderir às políticas anti-imigratórias promovidas pelo governo norte-americano nos últimos meses, com deportações em massa.
O estádio Lumen Field, em Seattle, deve receber quatro partidas da fase de grupos do Mundial, incluindo o segundo jogo dos Estados Unidos, em 19 de junho, além de uma partida das oitavas de final e uma das quartas.
O Levi´s Stadium, na região de San Francisco, abrigará cinco jogos da fase de grupos e um jogo das oitavas, enquanto o Gillette Stadium, em Boston, receberá sete partidas, sendo cinco da fase de grupo, uma das oitavas e uma das quartas de final.
As primeiras declarações de Trump que aventaram a hipótese de trocar algumas das sedes da Copa do Mundo nos Estados Unidos aconteceram no fim de setembro, em entrevista a jornalistas no Salão Oval da Casa Branca, sede da presidência.
O presidente norte-americano afirmou que consideraria mudar algumas das sedes, caso avaliasse que elas são “inseguras”.
“Essa é uma pergunta interessante, mas vamos garantir que estejam seguras. Elas são comandadas por lunáticos radicais de esquerda que não sabem o que estão fazendo”, afirmou Trump ao responder à pergunta de um repórter que havia o questionado sobre quais ações poderia tomar se Seattle e San Francisco não cooperassem com os planos de segurança do governo. “Se eu achar que não é seguro, vamos para outra cidade”, acrescentou o político.
Nesta quarta-feira (15), Trump voltou a falar sobre a possibilidade de troca das sedes, dessa vez com foco em Boston. A cidade tem abrigado protestos contra o governo do republicano nas últimas semanas, com uma nova manifestação prevista para este sábado (18).
“Eu amo o povo de Boston. Sei que os ingressos para os jogos estão esgotados, mas sua prefeita não é boa”, disse o presidente dos Estados Unidos, em referência à democrata Michelle Wu.
“Se alguém estiver fazendo um trabalho ruim e eu sentir que as condições não são seguras, ligaria para Gianni [Infantino], o chefe da Fifa, que é fenomenal, e diria: vamos mudar para outro local, e ele faria isso”, afirmou Trump.
“Grande parte disso está garantida por contrato, de forma que nenhuma pessoa, mesmo que esteja atualmente na Casa Branca, possa desfazer”, declarou a prefeita de Boston. “Vivemos em um mundo em que, por drama, controle ou para testar limites, ameaças contínuas são feitas a indivíduos e comunidades que se recusam a recuar e obedecer a uma agenda de ódio.”
Tendo se aproximado nos últimos meses do presidente da Fifa, com uma série de encontros para tratar da Copa do Mundo de Clubes e de seleções, o político não tem a prerrogativa de decidir sobre a troca de uma sede, mas poderia usar sua influência junto a Infantino para promover uma mudança nesse sentido.
O político também não descartou a hipótese de tentar mudar a sede dos Jogos Olímpicos de 2028, previstos para acontecerem em Los Angeles.
Ele criticou a forma como o governador da Califórnia, o democrata Gavin Newsom, lidou com os incêndios na região no início do ano.
“Se eu achasse que Los Angeles não estaria preparada adequadamente, eu a transferiria [as Olimpíadas] para outro local”, disse Trump.
A Fifa, por sua vez, disse nesta quarta-feira que espera que as cidades-sede do Mundial estejam prontas para receber os 104 jogos previstos do torneio em 2026.
“Nós esperamos que cada uma das 16 cidades-sede esteja preparada para receber com sucesso os eventos e para cumprir todas as condições necessárias. A segurança e a proteção são, obviamente, responsabilidade dos governos, que decidem o que é de interesse da segurança pública”, disse a entidade em comunicado.
Vice-presidente da Fifa e dirigente responsável pela Concacaf (Confederação das Associações de Futebol da América do Norte, Central e Caribe), o canadense Victor Montagliani já havia se manifestado sobre a competência para trocar uma das sedes da Copa do Mundo.
“É um torneio da Fifa e com jurisdição da Fifa, então a decisão é nossa. Com todo o respeito aos atuais líderes mundiais, mas o futebol é maior do que eles”, afirmou Montagliani. “Essa é a beleza do nosso jogo. Ele é maior do que qualquer indivíduo e maior do que qualquer país.”
A Copa ocorrerá de 11 de junho a 19 de julho, nos Estados Unidos, no Canadá e no México. A abertura será realizada no estádio Azteca, na Cidade do México, com a final programada para o MetLife Stadium, em East Rutherford.
Com o avanço das Eliminatórias, já há 28 equipes confirmadas de um total de 48 na versão expandida do torneio, que em 2026 terá 16 participantes a mais do que na edição anterior, em 2022, no Qatar.
Ainda há outras 58 seleções na disputa pelas 20 vagas restantes (15 da Europa, três da América do Norte, Central e Caribe e duas da repescagem internacional).