BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Os aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga descontos irregulares em aposentadorias e pensões do INSS barraram nesta quinta-feira (16) a convocação de José Ferreira da Silva, irmão do petista. Também conseguiram retirar da pauta, sem deliberação, quebras de sigilo do ex-ministro da Previdência Carlos Lupi.

Conhecido como Frei Chico, o irmão do chefe do governo é vice-presidente do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos), uma das entidades investigadas pela comissão. Ele é um dos principais alvos dos grupos de oposição, que buscam desgastar o Planalto por meio do irmão do presidente. O requerimento de convocação de Frei Chico foi rejeitado por 19 votos a 11.

O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), chegou a pedir a retirada de pauta do requerimento antevendo que seria rejeitado, mas não teve sucesso.

As quebras de sigilos telefônico, telemático (referente às comunicações, como trocas de mensagens), bancário e fiscal de Lupi, além da elaboração de um relatório sobre as transações financeiras do ex-ministro, foram retiradas de pauta depois de acordo entre o representante do governo, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), e o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN).

O acerto foi feito na conversa que ambos têm com Carlos Viana (Podemos-MG), presidente da comissão, antes de todas as reuniões do colegiado. Lupi, além de ex-ministro, é presidente do PDT, partido aliado de Lula.

Outro resultado obtido pelos aliados de Lula nas votações foi a aprovação do requerimento para o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) elaborar um relatório sobre as transações financeiras do advogado Eli Cohen entre 2015 e 2025.

Ele foi um dos primeiros a investigar os descontos irregulares em benefícios previdenciários e depôs nas primeiras semanas da CPI. O pedido teve 21 votos a favor e 10 contra.

Sóstenes Cavalcante votou com o governo como forma de pressionar outros integrantes da comissão a aprovar a convocação de Frei Chico e outros requerimentos.

“Você vai votar com a gente em todas?”, perguntou a Sóstenes o deputado governista Alencar Santana (PT-SP) fora do microfone. “Vou, e se vocês não votarem comigo nos outros, vão ser expostos”, respondeu o bolsonarista.

Governistas afirmam, nos bastidores, que o advogado está associado à oposição. Na quarta-feira (15), a Folha revelou um áudio em que Cohen relata ter recebido dicas do marqueteiro do PL, Duda Lima, sobre como se portar em seu depoimento à comissão. O advogado diz ser alvo de uma “destruição de caráter” por ter exposto irregularidades.

O governo também conseguiu barrar quebras de sigilo contra a publicitária Danielle Miranda Fontelles. Ela já trabalhou para campanhas petistas e, de acordo com documentos recebidos pela CPI, recebeu R$ 5 milhões de Antônio Carlos Camilo Antunes. Conhecido como Careca do INSS, ele é uma das figuras mais conhecidas do escândalo de descontos em aposentadorias. Sua defesa nega irregularidades. O requerimento sobre Fonteles foi rejeitado por 19 votos a 11.

As vitórias nas votações desta quinta-feira são uma nova mostra da reorganização do governo. Ao longo das últimas semanas, os aliados de Lula se recuperaram do baque representado pela perda da presidência da CPI e agora têm a maioria dos votos na comissão.

Os aliados do Planalto tinham apoio dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para que o senador Omar Aziz (PSD-AM) fosse eleito presidente da CPI e o deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO) fosse escolhido relator.

A oposição se organizou na véspera da votação e conseguiu emplacar o senador Carlos Viana (Podemos-MG) como presidente e o deputado Alfredo Gaspar (União-AL) como relator.

As votações desta quinta-feira foram realizadas antes do depoimento de Cícero Marcelino, apontado como um operador do esquema de descontos ligado à Conafer (Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais).

A entidade teve R$ 796,8 milhões em transações atípicas entre 2022 e 2025, de acordo com relatório do Coaf. O presidente da Conafer, Carlos Roberto Ferreira Lopes, disse em entrevista à Folha de S.Paulo, que houve problemas na atuação da entidade, mas que eles foram resolvidos e que R$ 170 milhões foram devolvidos.