SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O confronto entre Flamengo e Palmeiras se consolidou nos últimos dez anos como o clássico mais aguardado do Brasil. Essa ascensão é fruto da hegemonia esportiva e financeira das equipes, mas a tensão que nesta quinta-feira (16) domina o duelo, inclusive nos bastidores, tem raízes mais profundas.

RIVALIDADE DE 46 ANOS

A inimizade que transforma o duelo num dos mais perigosos fora de campo nasceu há quase meio século, fruto de alianças entre torcidas organizadas. Mas antes disso, a rivalidade Fla x Palmeiras já existia pela forte influência da rixa entre paulistas e cariocas.

O primeiro registro de briga ente torcedores rubro-negros e alviverdes ocorreu em 1979, nas arquibancadas do Maracanã, após goleada palmeirense por 4 a 1.

Porém, a verdadeira escalada aconteceu com os blocos uniformizados de apoio mútuo, principalmente após a fundação da Mancha Verde, em 1983. Essa rivalidade não se resumiu a São Paulo e Rio.

A Torcida Jovem do Flamengo, que faz parte do bloco Punho Cruzado, se juntou a grupos como a Máfia Azul, do Cruzeiro, e Torcida Tricolor Independente, do São Paulo.

Enquanto isso, Mancha Verde e Torcida Uniformizada do Palmeiras (TUP) se uniram ao grupo Dedo Pro Alto, que inclui a Força Jovem, do Vasco, a Galoucura, do Atlético-MG, e outras. A rivalidade entre organizadas transformou o jogo entre os clubes no palco para guerra fora dos gramados.

MARCO VIOLENTO

A rivalidade entre Palmeiras e Flamengo fora do estádio teve um marco insólito, em 20 de março de 1985. Naquele dia, um empate por 2 a 2, no Pacaembu, foi ofuscado por uma rebelião no Carandiru, que desviou a atenção da Polícia Militar na capital paulista.

A ausência de segurança liberou o caminho para um ato de vingança dos alviverdes, como relatou José Carlos Burti, então presidente da TUP, ao podcast “Sobre Meninos e Porcos”, do UOL Esporte Histórias.

O “contra-ataque” se tornou um dos mais notórios do futebol brasileiro. Cerca de 200 palmeirenses se reuniram, esperando a torcida do Flamengo para dar o troco por ataques sofridos no Rio, duas semanas antes.

Os membros da organizada arremessaram uma banca de jornal do alto de um viaduto para isolar a escolta policial e bloquear a fuga dos rivais.

O rubro-negro Capitão Leo Ribeiro, presidente da TJF na ocasião, confirmou o episódio, lembrando que a viatura teve que desviar para proteger a torcida do Flamengo.

BRIGA COM FLAGRA DA GLOBO

Em novembro de 1987, outro confronto entre Flamengo e Palmeiras, dessa vez pela Copa União, no Maracanã, se transformou em uma das maiores pancadarias entre torcidas.

As uniformizadas de ambos os times receberam apoio de aliados — corintianos e vascaínos — e protagonizaram uma briga generalizada que incluiu confrontos violentos com a Polícia Militar nas arquibancadas.

A violência daquele dia teve uma cena marcante registrada pela TV Globo, que expôs a brutalidade da época. Cleo Sóstenes, principal líder da Mancha Verde, foi cercado por quatro policiais militares e espancado com cassetetes, rolando escadaria abaixo.

CLÁSSICO DE POTÊNCIAS

Se a rivalidade de organizadas existe desde a década de 1980, o status de “clássico mais aguardado” foi consolidado pela disputa de títulos. O Brasil jamais teve, por dois anos seguidos, os mesmos clubes como campeão e vice de seu maior campeonato.

Nos últimos dez anos, no entanto, Palmeiras e Flamengo dominaram: o Palmeiras levou o Brasileiro em 2016, 2018, 2022 e 2023, e o Flamengo em 2019 e 2020. Os dois também se revezaram nas taças da Libertadores e da Copa do Brasil.

Além do campo, os bastidores políticos também ajudaram a acirrar a rivalidade, explicando por que o confronto ganhou o nome de Superclássico do Brasil. Neste domingo, as duas equipes se enfrentam, às 16h, em duelo entre líder e segundo colocado do Brasileirão.