SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A semaglutida, molécula presente em medicamentos como Ozempic, Wegovy e Rybelsus, mostrou seu potencial para combater gordura no fígado com inflamação associada à disfunção metabólica.
Um novo estudo, publicado na revista científica Nature Medicine, evidenciou o potencial da semaglutida, que nos Estados Unidos que foi aprovado para tratar gordura no fígado com inflamação (esteato-hepatite) em adultos com cicatrizes hepáticas (fibrose) de gravidade moderada a avançada, mas sem cirrose hepática.
A análise reforça que a semaglutida, da qual a Novo Nordisk é a detentora da patente dentro da classe dos GLPs-1s, tem demonstrado benefícios que vão além da perda de peso.
O recente estudo, que combinou dados de modelos pré-clínicos e de um ensaio clínico, identificou 72 proteínas-chave significativamente associadas à resolução da Mash com o uso da semaglutida.
A pesquisa também demonstrou que, em modelos pré-clínicos, a semaglutida reduziu a expressão de genes ligados à inflamação e à fibrose no fígado, atuando diretamente nas causas fundamentais da progressão da doença. Isso reforça que a melhora clínica observada é um efeito direto da molécula, e não apenas uma consequência da perda de peso.
O estudo contou com a participação de pesquisadores da Novo Nordisk e a colaboração internacional com instituições como a University of Torino (Itália), a University of Florida (Estados Unidos) e o Kings College London (Reino Unido), além de centros acadêmicos na França, China e Reino Unido.
O artigo foi submetido e aprovado por peer review, processo de revisão por pares, no qual especialistas independentes da mesma área avaliam o rigor metodológico, a relevância e a consistência dos resultados antes da publicação científica.
A endocrinologista Marília Fonseca, diretora médica da Novo Nordisk no Brasil, explica que “a subanálise do estudo Essence mostrou que os benefícios observados incluíram efeitos tanto dependentes quanto independentes da perda de peso, confirmando que mais da metade dos resultados positivos não tiveram relação direta com a redução ponderal”.
Segundo ela, “o candidato para o tratamento com semaglutida 2,4 mg é o paciente com doença metabólica, especialmente aqueles com sobrepeso, obesidade ou diabetes”.
A gordura no fígado, também chamada de esteatose metabólica, afeta cerca de 30% da população mundial. No Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Hepatologia, a prevalência é um pouco menor, em torno de 20%. A condição está fortemente associada à obesidade, oito em cada dez pessoas com excesso de peso apresentam o problema.
Além de aumentar o risco cardiovascular, a esteatose pode evoluir para Mash, esteato-hepatite, uma inflamação grave que pode levar à cirrose e até à necessidade de transplante hepático se não for diagnosticada e tratada adequadamente.
“No contexto da Mash, os dados indicam benefícios em pacientes que já apresentam inflamação e fibrose. Mas, na prática clínica, o uso da semaglutida pode ajudar a evitar a progressão para quadros mais graves ao controlar a disfunção metabólica de base”, complementa.
O estudo demonstrou que o Wegovy (semaglutida 2,4 mg) foi significativamente mais eficaz que o placebo no tratamento da Mash. Esse cenário sugere efeitos hepáticos diretos da semaglutida, em linha com o que também foi observado no estudo Select, que avaliou o efeito cardiovascular da semaglutida 2,4 mg na prevenção de eventos cardiovasculares graves em pessoas com sobrepeso ou obesidade que já tinham doença cardiovascular estabelecida, mas não diabetes.
Os resultados demonstraram que a medicação reduziu em 20% o risco de Mace (Eventos Cardiovasculares Adversos Maiores, na sigla em inglês) em comparação com o placebo. O Mace é composto por três desfechos graves: morte cardiovascular, infarto do miocárdio não fatal e acidente vascular cerebral não fatal. A redução de 20% se aplica ao conjunto desses eventos, e cada um dos três componentes contribuiu positivamente para o resultado geral.
Além dos benefícios já conhecidos, os novos resultados demonstram que a molécula atua na modulação das proteínas associadas à gordura no fígado com inflamação ligada à disfunção metabólica, a Mash, estágio mais avançado da doença hepática gordurosa.
Essas proteínas são atualmente utilizadas em pesquisas clínicas e, segundo Marília Fonseca, “no futuro, espera-se que possam se consolidar como potenciais biomarcadores não invasivos, embora esse avanço ainda dependa de mais validações e estudos comparativos”.
De acordo com a Novo Nordisk, o tratamento foi capaz de restaurar o padrão biológico de pacientes com Mash, aproximando-o daquele observado em indivíduos saudáveis.