SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cinco dias após um acordo de cessar-fogo interromper a guerra de dois anos na Faixa de Gaza, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, instruiu os militares do país a preparar um plano para “derrotar o Hamas” caso os combates sejam retomados, segundo um comunicado de seu gabinete nesta quarta-feira (15).

A declaração ocorre no momento em que há um impasse a respeito da devolução dos restos mortais dos reféns. Enquanto o grupo terrorista diz ter cumprido o acordo e feito o possível para encontrá-los em meio aos escombros, a inteligência de Israel afirmou aos EUA que a facção não estava fazendo o suficiente, segundo o portal americano Axios.

Washington, por sua vez, negou que o Hamas tenha violado o acordo e renovou as promessas de que nenhum refém será deixado para trás.

Na segunda (13), o Hamas havia devolvido os últimos 20 reféns vivos e os corpos de outros quatro entre os 251 sequestrados nos ataques terroristas de 7 de outubro de 2023. Em seguida, porém, Tel Aviv suspendeu a reabertura da fronteira de Gaza, que vive uma grave crise humanitária devido ao bloqueio do Estado judeu, e ameaçou reduzir o envio de suprimentos, acusando o Hamas de não cumprir sua parte do acordo de trégua e protelar a entrega dos restos mortais.

Após a pressão israelense, a facção criminosa devolveu mais quatro corpos na madrugada desta quarta, mas apenas três são de reféns mortos, de acordo com Tel Aviv. Um deles, segundo as Forças Armadas, é de um palestino, e os outros foram identificados como Tamir Nimrodi, 18, Uriel Baruch, 35, e Eitan Levy, 53.

No final desta quarta, o Exército israelense disse que recebeu mais dois caixões entregues pelo Hamas à Cruz Vermelha em um ponto de encontro no norte da Faixa de Gaza, e os corpos estavam sendo levados para identificação forense.

Israel, por sua vez, entregou os corpos de 45 palestinos a autoridades de Gaza, aumentando para 90 o total de restos mortais devolvidos desde o início da semana, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas. A troca faz parte do acordo de cessar-fogo mediado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que prevê a entrega de 15 corpos de palestinos para cada israelense morto devolvido pelo grupo.

Antes da entrega dos últimos dois caixões, 21 corpos permaneciam em Gaza em meio à guerra de versões. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) havia afirmado na terça-feira (14) que levaria tempo para entregar os restos mortais devido às dificuldades de localizá-los entre os escombros. Segundo o Axios, porém, Tel Aviv afirma que não se pode avançar para a próxima fase do cessar-fogo até que a situação mude.

Trump apoiou Israel ao dizer em uma breve entrevista à CNN que consideraria permitir que as forças israelenses retomassem os combates em Gaza se o Hamas não cumprisse sua parte no acordo. “Israel voltará àquelas ruas assim que eu der a palavra. Se Israel pudesse entrar e acabar com eles, eles fariam isso”, afirmou o republicano.

Ele havia sido questionado sobre o desarmamento do Hamas, que nos últimos dias vêm protagonizando cenas de violência nas ruas de Gaza. Com a retirada de Israel de 47% do território, os conflitos internos entre a facção e outros grupos armados que atuam no território palestino emergiram, reeditando as cenas de violência vindas da região nos últimos dois anos de guerra.

Uma das mais brutais foi divulgada pela TV do Hamas no Telegram e mostra o assassinato de sete pessoas em uma rua da Cidade de Gaza. Nesta quarta, Alemanha, EUA e França condenaram a violência, assim como o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, que governa a Cisjordânia e classificou o ato de “crime e violação flagrante dos direitos humanos”.

O avanço do grupo mostra as dificuldades de manter o cessar-fogo. A próxima fase exigiria que o Hamas entregue as armas, algo que o grupo terrorista se nega a fazer a não ser que haja a garantia da criação de um Estado palestino.

Em meio à tensão, civis em Gaza esperam ajuda enquanto enfrentam uma grave crise humanitária. Em dois anos de bombardeios, quase todos os 2,2 milhões de palestinos foram expulsos de suas casas, e o cenário de fome extrema não mudou com a assinatura do acordo.

Nesta quarta, caminhões de ajuda humanitária entraram em Gaza, e vídeos da agência de notícias Reuters mostraram caminhões se movendo do lado egípcio da fronteira para a passagem de Rafah, alguns transportando combustível e outros carregados com paletes de ajuda.

No entanto, não estava claro se esse comboio completaria sua travessia para Gaza como parte dos 600 caminhões que deveriam entrar no território na quarta -o número diário exigido pelo plano de cessar-fogo, mas não suficiente para atender à escala da necessidade, de acordo com o subsecretário-geral das Nações Unidas para Assuntos Humanitários, Tom Fletcher.

O ministro da Segurança Nacional de Israel, o extremista Itamar Ben-Gvir, criticou a entrega de ajuda em uma publicação na rede social X. “Chega de desonra”, afirmou. “O terrorismo nazista entende apenas a força”, escreveu ele, que é crítico do cessar-fogo.