SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo Donald Trump autorizou oficialmente a CIA, a agência de espionagem dos Estados Unidos com longo histórico de interferência na América Latina, a realizar operações secretas e letais dentro da Venezuela com o objetivo de derrubar o ditador Nicolás Maduro do poder, afirma o jornal The New York Times.
Segundo reportagem publicada nesta quarta-feira (15), a autorização formal da Casa Branca significa que a CIA teria permissão de agir unilateralmente ou em conjunto com uma operação militar de larga escala isto é, uma invasão da Venezuela, cenário extremo temido por Caracas.
O jornal aponta, entretanto, que ainda não há informações indicando que Trump tenha tomado essa decisão. Ainda assim, nos últimos meses, o governo Trump aumentou consideravelmente a presença militar americana no Caribe, e o país hoje conta com mais de 10 mil soldados, oito navios de guerra e um submarino mobilizados na região. No total, é mais poder de fogo do que toda a Venezuela.
Ainda segundo o New York Times, o governo Trump considera autorizar também bombardeios e ataques aéreos diretamente em território venezuelano, o que quase certamente significaria um estado de guerra aberta contra o país.
Mas essa possibilidade pode esbarrar em questões jurídicas. A Constituição americana estabelece que o poder de declarar guerra é exclusivo do Congresso, o que exigiria apoio do Partido Democrata. Também por essa razão, a Casa Branca busca justificar ações contra a Venezuela afirmando que são parte de uma campanha contra o narcotráfico como os ataques que mataram 27 pessoas nas águas internacionais próximas ao país desde setembro.
Recentemente, segundo a imprensa americana, o governo Trump comunicou formalmente ao Congresso americano que os EUA estão “em situação de conflito armado” com narcotraficantes latino-americanos. Essa notificação permitiria ataques unilaterais em contextos em que não há perigo para forças americanas, como é o caso dos barcos destruídos no Caribe.
Também como parte da pressão exercida contra a Venezuela, o governo Trump diz que Maduro é o chefe do suposto Cartel de los Soles, que especialistas afirmam não existir, e sustenta que o ditador teria ligações com a facção Tren de Aragua, uma hipótese questionada por relatórios da própria inteligência americana.
Além disso, em agosto, o Departamento de Justiça dos EUA dobrou a recompensa por informações que levem à captura de Maduro, oferecendo agora US$ 50 milhões (R$ 272 milhões) e classificando o ditador de um dos maiores narcotraficantes do mundo e ameaça à segurança americana.
O New York Times afirma que Trump decidiu autorizar as operações secretas da CIA depois de abandonar esforços diplomáticos com a ditadura venezuelana, avaliando que pouco progresso foi feito. A Casa Branca chegou a recusar um acordo que daria aos EUA participação dominante na indústria de petróleo da Venezuela, país com as maiores reservas de óleo do mundo.
A CIA e o governo dos EUA têm longo histórico de interferência e patrocínio a golpes na América Latina, incluindo aquele que removeu João Goulart da Presidência em 1964 e instalou a ditadura militar no Brasil, período marcado por tortura, assassinatos e desaparecimentos contra dissidentes políticos.