SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As escolas municipais de São Paulo atingiram em 2025 um número recorde de hortas plantadas. Isso porque hoje cerca de 40% da rede de ensino da maior metrópole da América Latina, que conta com 4.100 escolas, realiza cultivos de hortaliças, legumes, frutas e temperos em diferentes modelos e espaços.
O número consta de levantamento anual realizado pela Diretoria de Educação Alimentar e Nutricional, ao qual a Folha de S.Paulo teve acesso com exclusividade, e impulsiona o objetivo da gestão municipal de incentivar a alimentação saudável, reduzindo a resistência de crianças a alimentos in natura e usando as hortas como ferramenta pedagógica.
“Ter 1.600 escolas com hortas é muito positivo se a gente contar que elas não surgiram lá atrás com espaços específicos para uma horta. E esse movimento hoje é uma das ferramentas para a educação alimentar e nutricional nas escolas. A gente sempre incentiva as escolas a enxergarem espaços que poderiam servir como canteiros, por isso muitas usam pneus, telhas, fazem plantações verticais”, afirma a nutricionista Carolina Bastos Mendonça, coordenadora da Codae (Coordenadoria de Alimentação Escolar).
O levantamento aponta que as 1.600 hortas escolares estão dispostas em canteiros no solo (63%), agroflorestas (9%), recipientes plásticos (25%), de madeira (11%) ou metal (6%), garrafas PETs (20%), minhocário (12%) ou compostagem sem minhocas (6%), pneus (8%), telhas (5%), vasos de cimento (4%), estufa (4%), captação de água da chuva (3%) e até criação de peixes (1%) e meliponário (1%).
Das 13 Diretorias Regionais de Educação, as com mais hortas escolares na cidade são Campo Limpo, com 162; Ipiranga, com 155; e Guaianases, com 152.
Com base na série histórica do levantamento, iniciada em 2013, os dados obtidos neste ano representam que em 12 anos o número de hortas em escolas do município cresceu 1.300%.
“Esse crescimento é fantástico”, diz o secretário municipal de Educação, Fernando Padula.
“Quando incentivamos uma criança a plantar, a regar e a colher o que ela mesma cultivou, ampliamos a força transformadora da escola. As hortas pedagógicas envolvem alimentação saudável, conhecimentos interdisciplinares e também afeto, cuidado e pertencimento. Elas aprendem que, assim como uma planta, a gente cresce melhor quando é bem cuidado.”
Há 17 anos na Codae, Carolina diz que era comum as hortas nas escolas começarem por iniciativa de algum profissional, geralmente um professor, mas sofrerem com a perenidade, devido a férias escolares, estiagens ou aposentadoria e transferência de profissionais.
Por isso, destaca o movimento iniciado no pós-pandemia, quando hortas ganharam mais tração e o engajamento das escolas foi reforçado com mais apoio.
“As diretorias regionais de ensino iniciaram parcerias com faculdades de agronomia. Nós também tivemos a contratação de mais nutricionistas e recebemos apoios da Secretaria do Verde e Meio Ambiente e do Sampa+Rural”, diz Carolina. Segundo ela, hoje são 131 nutricionistas em atuação na rede.
“A horta ajuda a melhorar a alimentação de uma criança, porque ela entende de onde aquele alimento vem e como foi cultivado, às vezes por ela mesmo. Então vemos uma menor rejeição a alimentos in natura e frutíferas”, afirma Carolina.
Ela explica também que o sucesso para a manutenção das hortas veio de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Educação e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, que resultou na criação das Mães GAE (Guardiãs da Alimentação Escolar). A ação, um POT (Programa Operação Trabalho), emprega hoje 600 mulheres em situação de vulnerabilidade que recebem um salário mínimo por seis horas de trabalho em unidades escolares.
Essas mães viraram uma equipe protetora das hortas e da boa alimentação das crianças. Isso fez com que as hortas prosperassem em São Paulo e, em escolas com mais estruturas, engajassem famílias no movimento pela boa alimentação.
“Eu estava quase 11 anos sem emprego formal, porque me dediquei a cuidar das minhas duas filhas e acompanhá-las em suas atividades. Então, quando me inscrevi no Mães GAE, foi maravilhoso. Eu adoro plantação, vim de uma zona rural em Minas Gerais e aprendi muito com meu pai sobre o que plantar, como plantar e como tratar a terra”, afirma Jocimeire Gonçalves Araújo, que trabalha na Emef Júlio de Oliveira, na Vila Fanton, na zona norte paulistana, onde filha mais nova estuda.
Ela explica que a horta atende a 800 crianças da escola e é tratada com uma sala de aula, permitindo às crianças contato com legumes (alface, couve, agrião, repolho roxo, espinafre, tomate, jiló, pimenta dedo de moça e pimentão), temperos (manjericão, coentro, salsinha, cebolinha, orégano, tomilho, hortelã e menta), além de plantas medicinais (capim cidreira, lavanda, penicilina, vick), frutas (morango) e grãos (milho e feijão).
Ela afirma que, além da participação dos alunos no cultivo e na divulgação para as famílias, o sucesso da horta envolve melhorias no cardápio nas refeições das crianças, ações de reciclagem e atividades que envolvem os pais, que se motivam a criar cultivos em casa.
“As crianças experimentam saladas, legumes, usam os temperos e até tomam chás, tudo vindo da horta”, diz Jocimeire. Ela explica também que a horta tem engajado crianças a reciclarem e guardarem materiais para uso nas plantações.
O projeto das hortas não cativa só a comunidade no entorno. Isso porque até comitivas internacionais que conheceram o projeto, como uma de Uganda e outra do Equador, que estiveram em São Paulo neste ano, pediram mais indicações à Prefeitura de São Paulo sobre como poderiam replicar as hortas em seus países.
E, no ritmo de inaugurações realizadas neste segundo semestre, a Secretaria de Educação projeta que fechará 2025 com crescimento de 10% a 15% no número de escolas com hortas, que estarão presentes em mais de 50% das escolas municipais até o início de 2026.