BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Tesouro Nacional deve abrir uma exceção às regras habituais para poder ser fiador do empréstimo de até R$ 20 bilhões que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) articula para socorrer os Correios.
Dada a fragilidade de suas condições financeiras, a empresa não teria capacidade de pagamento suficiente para se credenciar à garantia da União, mas a expectativa é que seja aberta essa exceção.
Seria a primeira vez que o órgão recorre a esse tipo de expediente desde o governo Dilma Rousseff (PT), quando licenças excepcionais permitiram o endividamento de estados já em péssimas condições financeiras, que depois deram calote nos empréstimos.
Na época, o afastamento das regras habituais foi autorizado pelo então ministro da Fazenda, Guido Mantega, e seu secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin. Eles foram multados pelo TCU (Tribunal de Contas da União) após auditoria que investigou a flexibilização das garantias da União.
A garantia do Tesouro é uma segurança para os bancos, uma vez que o governo honra o pagamento em caso de inadimplência do tomador. Depois, a União pode executar as contragarantias para se ressarcir dos valores.
A existência desse aval reduz o risco da operação, o que deve ajudar os Correios a conseguirem negociar melhores condições com os bancos, como taxa de juros menor, prazo maior e algum período de carência até o início da cobrança das parcelas.
Em entrevista coletiva nesta quarta-feira (15), o novo presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, confirmou que a operação de crédito terá garantia do Tesouro Nacional.
“A garantia da União traz a vantagem de a gente ter uma operação com custo menor, em prazo mais adequado, para ter um desenho para a operação que permita o reequilíbrio da empresa no médio e longo prazo”, disse.
Na avaliação de pessoas a par das negociações, a garantia do Tesouro também pode ser lida como um apoio do governo à manutenção da sustentabilidade da empresa.
Como revelou a Folha de S.Paulo, o governo articula com Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e bancos privados a concessão de um empréstimo para socorrer os Correios.
A operação será atrelada à adoção de medidas de ajuste previstas em um plano de reestruturação da empresa.
A companhia precisa de R$ 10 bilhões em 2025 e mais R$ 10 bilhões em 2026, perfazendo um total de R$ 20 bilhões valor confirmado nesta quarta pela companhia. O dinheiro será usado para capital de giro e também para custear as medidas de ajuste previstas no plano (como demissões voluntárias, mudanças no plano de saúde e renegociação de passivos atrasados, entre outras ações).
A realização de um aporte complementar de recursos pelo Tesouro Nacional não está descartada, mas o tamanho desse repasse será definido de acordo com o espaço fiscal do governo.
A operação de crédito foi discutida em reunião na última quinta-feira (9) entre os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Esther Dweck (Gestão), Frederico de Siqueira Filho (Comunicações) e representantes do Tesouro Nacional, da PGFN (Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional), do Banco do Brasil e da Caixa.
Ainda não está fechado qual será a participação de cada banco na operação, que também atrai o apetite de instituições privadas. BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil, que já são credores dos Correios em uma operação contratada no primeiro semestre deste ano, participam das conversas.
As discussões do plano para socorrer os Correios se aceleraram após a troca de comando na empresa, agora chefiada por Emmanoel Schmidt Rondon, funcionário de carreira do Banco do Brasil. Ele é tido como alguém de perfil técnico e focado em gestão. A leitura no governo é de que, com a entrada de Rondon, houve mais espaço e estrutura técnica para levar adiante o plano de recuperação da companhia.
Em situação financeira bastante delicada, os Correios registraram um prejuízo de R$ 2,64 bilhões no segundo trimestre de 2025. O rombo é quase cinco vezes o resultado negativo verificado em igual período de 2024, quando ficou em R$ 553,2 milhões.
No primeiro semestre, o rombo alcançou R$ 4,37 bilhões, o triplo do prejuízo de R$ 1,35 bilhão observado em igual período de 2024. O valor foi antecipado pela coluna Painel, da Folha.