SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Novos confrontos entre forças do Paquistão e do regime Talibã do Afeganistão deixaram várias pessoas mortas nesta quarta-feira (15), incluindo civis e militares, e romperam a trégua que havia sido estabelecida após combates violentos no fim de semana.

Os enfrentamentos ocorrem ao longo da fronteira de 2.600 km entre os países, considerada uma das mais instáveis do mundo, e representam a pior escalada desde que o Talibã voltou ao poder em Cabul, em 2021.

Segundo as autoridades afegãs, ataques paquistaneses feitos nas primeiras horas do dia atingiram o distrito de Spin Boldak, matando “mais de uma dúzia” de civis e deixando cerca de cem feridos.

Islamabad, por sua vez, afirmou que quatro civis ficaram feridos em ataques conduzidos por “forças do Talibã” do lado oposto da fronteira. As vítimas foram atingidas no distrito de Chaman.

Em outro incidente, confrontos entre tropas e militantes deixaram seis soldados mortos e outros seis feridos, segundo autoridades de segurança ouvidas pela agência de notícias Reuters.

O conflito teria começado durante uma operação de busca lançada por Islamabad após um ataque ocorrido na semana anterior que matou 11 soldados paquistaneses. O Exército do Paquistão não se pronunciou sobre o episódio, mas classificou de “mentiras descaradas” as acusações de Cabul de que teria iniciado os ataques em Spin Boldak.

As tensões recentes aumentaram depois que Islamabad passou a exigir que o regime Talibã combatesse integrantes do grupo fundamentalista que fazem ataques em território paquistanês a partir de refúgios no Afeganistão.

O regime de Cabul, por outro lado, acusa o Paquistão de fomentar instabilidade ao abrigar militantes ligados ao Estado Islâmico e disseminar desinformação para desestabilizar o país vizinho.

O Paquistão nega as acusações e aponta para a atuação do grupo Estado Islâmico Khorasan (ISIS-K), que opera nos dois países e é inimiga declarada do Talibã. O grupo tem feito atentados contra civis, autoridades e alvos estrangeiros no Paquistão e no Afeganistão.

Com a escalada da violência, os dois países fecharam várias passagens fronteiriças, interrompendo o comércio e deixando dezenas de caminhões carregados de mercadorias parados. O bloqueio agrava a situação econômica do Afeganistão, país sem saída para o mar e altamente dependente das importações de alimentos e produtos vindos do Paquistão.

A crise na fronteira provocou reações internacionais. A China pediu proteção para seus cidadãos e investimentos na região, a Rússia apelou por moderação e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou estar disposto a ajudar na mediação do conflito.

A nova onda de tensão ocorre durante a primeira visita do ministro das Relações Exteriores do Talibã, Amir Khan Muttaqi, à Índia, principal rival do Paquistão. Durante o encontro, os dois países decidiram reforçar as relações diplomáticas: Nova Déli anunciou que reabrirá sua embaixada em Cabul, enquanto o Talibã pretende enviar representantes oficiais a território indiano.