SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Explico a estiagem de IPOs na bolsa brasileira e por que algumas empresas do país preferem a operação nos EUA.
Também aqui: o tamanho do rombo financeiro dos Correios e outros destaques do mercado nesta quarta-feira (15).
**DESERTO DE IPOS**
Há estiagem na bolsa brasileira. Não é como se a B3 estivesse vazia, pelo contrário: as negociações na praça bateram recorde atrás de recorde em 2025. O problema é que há muito não há carne nova no pedaço.
Hoje, falamos da estiagem de IPOs que se diz ai-pi-ô, uma vez que a sigla se consagrou em inglês (Initial Public Offering), termo que define o momento em que uma empresa abre seu capital para negociação de suas ações em determinada bolsa de valores.
A última chuva aconteceu em setembro de 2021, quando uma leva de empresas fez a primeira oferta pública de capital. Foi o último suspiro de um boom de IPOs, que aconteceu de 2020 a 2021.
Nesse período, mais de 70 empresas fizeram operações do tipo na Bolsa, entre elas nomes grandes como Rede dOr, Grupo Soma, Petz, Smart Fit e CSN.
O leitor rápido já ligou o tico com o teco. O movimento aconteceu durante a pandemia, momento em que a taxa básica de juros do Brasil chegou a cair a 2% ao ano, patamar histórico baixíssimo para o país basta lembrar que a Selic hoje alcança os 15% ao ano.
As empresas encontraram nos juros baixos um incentivo para buscar financiamento no mercado de capitais, mais rentável naquele momento.
O QUE ROLOU?
A taxa de juros elevada diminui consideravelmente o apetite por listagens na bolsa brasileira, afirma Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad.
Ela explica que isso acontece porque o custo de capital aumenta, ao mesmo tempo em que o apetite por ativos de risco diminui.
Ainda, a Selic alta gera rendimentos elevados na renda fixa, o que atrai companhias para esse tipo de operação.
Por outro lado não é como se as empresas brasileiras não estivessem abrindo seu capital. A JBS, frigorífico gigante brasileiro, fez seu IPO na Nyse (Bolsa de Valores de Nova York) em junho deste ano.
Nubank, Inter, BR Partners e Eve Air Mobility são outros exemplos de companhias nativas do Brasil que vendem seus papéis nos EUA.
Vale lembrar que é possível que uma empresa tenha o capital aberto em bolsas de mais de uma nação. É o caso da JBS, que agora é negociada na Nyse e na B3.
A Nasdaq (bolsa americana focada em tecnologia), que não é boba nem nada, está farejando candidatos brasileiros como forma de atrair investidores para seus pregões. Os setores mais cobiçados por acionistas são o agronegócio, as fintechs e a energia.
POR QUE LÁ E NÃO CÁ?
O mercado americano abriga 50% do valor de mercado global, contra menos de 1% da B3.
Há (nos EUA) um ambiente de maior liquidez, com capital do mundo inteiro circulando, além de condições diferenciadas de governança e normas que podem se adequar melhor ao objetivo dos fundadores e executivos, explica a especialista Paula Zogbi.
O próprio acesso a um financiamento dolarizado moeda mais forte que o real também pode ser considerado uma vantagem, especialmente para companhias que planejam expandir os negócios globalmente.
Mesmo quando o capital é aberto no Brasil, as empresas se preocupam muito em atrair investidores extrangeiros: mais de 50% do capital negociado na B3 vem de fora.
No cenário atual, IPO não está na lista de prioridades do mercado financeiro brasileiro.
**ME DÁ UM DINHEIRO AÍ**
O governo Lula articula com o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e alguns bancos privados a concessão de um empréstimo para socorrer os Correios, segundo três pessoas a par do assunto ouvidas pela Folha.
O TAMANHO DO ROMBO
R$ 20 bilhões, segundo estimativas dos Correios. A estatal precisará de metade do valor em 2025 e o restante em 2026.
O dinheiro será usado para capital de giro e para custear as medidas de ajuste previstas em um plano de reestruturação como demissões voluntárias, mudanças no plano de saúde e renegociação de passivos atrasados, entre outras ações.
O empréstimo em negociação deve cobrir pelo menos os montantes necessários para este ano, mas o valor final da operação ainda está em discussão.
Existe também a hipótese de o Tesouro Nacional ajudar a cobrir o buraco, mas o tamanho do repasse será definido de acordo com o espaço fiscal do governo.
FAREJANDO NEGÓCIOS
A operação atrai o apetite de instituições privadas, como BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil, que já são credores dos Correios em um contrato assinado no primeiro semestre deste ano.
Os ministérios das Comunicações e da Gestão repassaram os questionamentos aos Correios, que não quiseram se pronunciar. A Fazenda não quis comentar.
SOB NOVA DIREÇÃO
As discussões do plano de socorro se aceleraram com a troca de comando nos Correios, agora chefiados por Emmanoel Schmidt Rondon, funcionário de carreira do Banco do Brasil.
Ele é tido como alguém de perfil técnico e focado em gestão. A leitura no governo é de que, com a entrada de Rondon, houve mais espaço e estrutura técnica para levar adiante o plano de recuperação da companhia.
Em situação financeira bastante delicada, os Correios registraram um prejuízo de R$ 2,64 bilhões no segundo trimestre de 2025.
O rombo é quase cinco vezes o resultado negativo verificado em igual período de 2024, quando ficou em R$ 553,2 milhões.
**TERRAS RARAS, PARA QUE TE QUERO?**
Que o veto chinês à livre exportação de terras raras está deixando os americanos de cabelos em pé, você sabe pelo menos, o leitor assíduo da FolhaMercado está informado. Hoje, explico os motivos do desespero.
Para quem perdeu terras raras é um termo que engloba um grupo de minerais essenciais para produtos de alta tecnologia em setores como defesa, energia limpa e inteligência artificial.
A China é responsável por quase toda a extração, refino e venda desses materiais e, na semana passada, anunciou que a exportação desses bens ou de produtos que os contenham precisará de autorização do governo para ser efetivada uma trava útil para quando o governo chinês quiser apertar o Ocidente.
COISA POUCA
O transtorno para os americanos deve ser pequeno com a possível (provável) redução do fluxo de comércio das terras raras. A frase anterior contém ironia.
O veto anunciado ameaça quase 80% dos armamentos produzidos pelos Estados Unidos. A restrição é parcial no caso do emprego dos minerais para a fabricação de chips avançados; ela é total quando o assunto é a indústria de defesa. Se nada mudar, passa a valer em dezembro.
Nos mercados as ações das poucas mineradoras americanas que extraem minerais críticos grupo mais amplo de materiais, que inclui as terras raras dispararam nos últimos dias, com a perspectiva desses bens ficarem mais caros e escassos no país.
Nos últimos cinco dias, o preço dos papéis da Critical Metals Corp., negociados na Nasdaq, valorizaram-se 140%.
APOSTANDO ALTO
A cartada dá a dimensão da fatura econômica que Pequim está disposta a cobrar de Washington, se a negociação entre os dois países não fluir. Ambos disputam o lugar de maior potência tecnológica do planeta e têm armas para prejudicar o oponente no caminho do objetivo final.
77,7% dos sistemas de armas americanos dependem dos produtos chineses, ímãs fabricados a partir de terras raras. O veto abrange 12 delas.
São 80.006 componentes em 1.908 sistemas. A é a mais afetada Marinha, com 91,6% de seus armamentos dependentes de Pequim.
Os EUA trabalham para ter um fornecimento direto maior de terras raras, mas há empecilhos.
A nação só tem 2% das reservas globais e tem feito investimentos na produção australiana, país com 6% dos estoques.
O Brasil detém reservas de minerais críticos e pode ser uma opção no horizonte de Trump. A única empresa especializada nesse tipo de mineração aqui é americana.
Enquanto isso, no Hemisfério Sul a mineradora australiana Brazilian Rare Earths arrecadou 120 milhões de dólares australianos (cerca de R$ 427 milhões) para acelerar o desenvolvimento de projetos de terras raras no Brasil por meio de uma emissão de ações.
De acordo com a empresa, os fundos também serão utilizados para acelerar as obras da refinaria integrada de separação de terras raras planejada em Camaçari (BA). Estamos entrando no xadrez internacional.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
Perdeu a noção. Ex-funcionários da Cresci e Perdi, rede de brechós infantis, denunciaram exposição em um ‘mural da feiura’ nos canais internos e falaram em clima de medo.
Cerveja esquentando. A Ambev pode até ter escapado da crise do metanol, mas o frio, geração Z e até Ozempic viram vilões para ações.
Quem apagou a luz? Apagão na madrugada de terça-feira deixa governo e empresas procurando culpados.
Repique. A crise do câmbio na Argentina fez com que a inflação do país voltasse a acelerar no último mês, leitura que pode prejudicar a campanha de Javier Milei para as eleições legislativas.