BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Doze dias antes das eleições legislativas na Argentina, Javier Milei foi até a Casa Branca nesta terça-feira (14) em busca de apoio e de uma foto com Donald Trump. O argentino garantiu a fotografia e ouviu o americano condicionar seu apoio ao desempenho do mileísmo nas urnas.
“Se Milei não ganhar, não seremos generosos com a Argentina”, disse o americano aos jornalistas em frente ao colega, que preferiu trocar o giro que fazia pelas províncias de seu país pela visita a Washington.
A Argentina vai às urnas no próximo dia 26, para renovar parte da Câmara e do Senado. Um teste para o pleito nacional ocorreu na província de Buenos Aires (o maior colégio eleitoral do país) em setembro, e o partido de Milei ficou 13 pontos atrás dos peronistas.
As semanas seguintes foram ruins para o governo, com perda de valor da moeda local e o estouro de um novo escândalo, que derrubou o principal candidato de Milei para a disputa nacional por receber recursos de um argentino acusado de envolvimento com tráfico de drogas nos EUA. Apesar do apelo do governo, a Justiça decidiu não trocar as cédulas, e a foto de José Luis Espert vai aparecer para os eleitores.
“É uma eleição muito importante, [Milei] fez um grande trabalho e a vitória é muito importante”, disse Trump. “Avante, presidente Milei. É uma honra recebê-lo aqui e seguramente você vai ganhar as eleições, nós te apoiamos completamente. Quero ver a Argentina bem-sucedida e acredito que a liderança de Milei pode fazer com que isso aconteça.”
Do secretário de Tesouro, Scott Bessent, Milei ouviu que os EUA esperam que as reformas na Argentina continuem. “Usaremos nosso poderio econômico para fazer uma ponte até os nossos aliados”, disse.
O argentino respondeu que se sentia honrado com a visita e agradeceu ao colega americano por entender “a ameaça que o socialismo do século 21” representa. Ele também atribuiu a crise cambial que o país enfrentou a ataques de opositores. “Obrigado pelo que o senhor está fazendo pelo mundo livre e ao secretário Bessent, por nos ajudar a mostrar ao mundo que as ideias da liberdade funcionam.”
Mais tarde, o porta-voz da Casa Rosada, Manuel Adorni, disse que o apoio de Trump se referia às eleições presidenciais de 2027, não às legislativas deste mês. “O apoio dos EUA se explica, como disse o próprio presidente Donald Trump, ao governo da Argentina defender as ideias corretas. Se a Argentina seguir a via do socialismo ou retroceder em 2027, nada disso vai acontecer.”
Trump também voltou a falar bem do presidente Lula, embora sem entrar em detalhes. “Com o Brasil tive uma conversa muito boa com o presidente. Eu o encontrei nas Nações Unidas antes de subir para discursar”, comentou o americano ao mencionar interesses dos EUA na América Latina diante de um Milei calado.
É a primeira visita do argentino à Casa Branca (ele já havia participado de uma reunião em Washington, ainda no governo de Joe Biden, mas não na sede da Presidência) e o quarto encontro com Trump em menos de um ano.
O primeiro deles foi ainda na posse do americano, em janeiro; também se viram em fevereiro, durante a Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), em Maryland. O mais recente foi no mês passado, com uma conversa dos dois em paralelo à Assembleia-Geral da ONU, em Nova York.
Ambos os líderes também foram ao Vaticano por ocasião da morte do papa Francisco, e o argentino viajou outras vezes aos EUA sem se encontrar com Trump. No início de abril, Milei viajou com o ministro da Economia, Luis Caputo, para a Flórida, como parte da cerimônia de premiação de uma fundação liberal. Ele iria se encontrar com o colega americano, mas Trump não apareceu.
Milei também foi a Los Angeles em setembro, onde se reuniu com empresários e autoridades de bancos, financeiras, uma empresa petroleira e outras organizações dos EUA.
Na segunda-feira (13), em uma de suas escassas entrevistas, Milei expressou otimismo em relação aos investimentos de empresas americanas na Argentina, afirmando que há várias propostas em andamento, mas cauteloso em relação aos resultados finais da reunião com Trump. “Vão sair dólares até das nossas orelhas”, disse o presidente a um programa de rádio.
O encontro nesta terça foi mais curto do que o previsto e já tinha sido atrasado devido à viagem que Trump fez a Israel e ao Egito. A agenda incluiu um almoço, fechado à imprensa.
O governo argentino tem dado poucas informações sobre os efeitos concretos do apoio americano, mas Bessent especulou a jornalistas locais sobre possibilidade de investimentos significativos em setores estratégicos, como lítio e energia.
Na prática, o governo americano comprou pesos argentinos no mercado e sinalizou com um acordo de troca de moedas pelos bancos centrais dos dois países. A equipe econômica de Milei ficou quase uma semana nos EUA em negociações com o governo local e com o FMI (Fundo Monetário Internacional), e a possibilidade de uma aliança sólida com Washington é vista como uma forma de garantir a liquidez da Argentina, minimizando o risco de inadimplência.