BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – “Empresas que inovaram em tecnologias sujas no passado tendem a continuar inovando em tecnologias sujas no futuro. Você tende a continuar fazendo o que costumava fazer bem e, por isso, precisa da intervenção do governo para redirecionar a mudança técnica para uma inovação, para tecnologias verdes.”

Em 2023, o francês Philippe Aghion, um dos três laureados pelo Nobel de Economia deste ano, deu uma aula prática de destruição criativa, objeto do estudo que lhe valeu o prêmio, aplicada ao setor que talvez mais dependa dela neste momento: o de transição energética.

“Creio que inovação é a maior esperança diante da mudança climática”, declarou o professor do Collège de France, do Insead e da London School of Economics em uma entrevista ao podcast VoxTalks Economics, em 2023.

“É claro que precisamos inovar em nosso comportamento diário, mas lutar contra a crise climática é encontrar novas fontes de energia, mais limpas do que carvão e gás, e também maneiras de produzir com dispositivos que economizem energia.”

Aghion ficou conhecido por um trabalho de 1992, escrito com o canadense Peter Howitt, outro laureado pela Academia Sueca de Ciências Econômicas na segunda-feira (13). No artigo, a dupla propôs modelos matemáticos para a destruição criativa, teoria desenvolvida na primeira metade do século passado pelo economista austríaco Joseph Schumpeter: quando um produto entra no mercado, as empresas que vendem modelos correspondentes mais antigos saem perdendo.

Na entrevista de há dois anos, o acadêmico francês cita outro estudo de sua autoria sobre a tendência de empresas que trabalham com energia suja manterem sua inovação na mesma direção. “É o que chamamos de dependência do passado. Você tende a continuar fazendo coisas que você faz bem. Se o Estado não interferir de alguma forma nesse processo, as empresas continuarão fazendo o que elas estão acostumadas a fazer.”

O artigo, de 2016, focava o estoque e a produção de patentes da indústria automobilística, mas divididas pela lente ambiental: relacionadas ao desenvolvimento de motores a combustão e a de modelos elétricos. Quase dez anos depois, o domínio chinês na eletrificação automotiva é um exemplo eloquente do que acontece quando a opção é pela inovação.

A transição energética, afirmou Aguion, “inevitavelmente abranda o crescimento da produtividade, porque obriga as empresas a afastar-se das atividades que conhecem bem para se dedicarem a outras em que, inicialmente, são menos competentes, mas nas quais acabarão por se tornar competentes”. Há um custo nesse processo, que talvez explique a inércia de muitas indústrias e governos, mas é possível minimizá-lo, segundo o especialista.

Palavrão em vários países, inclusive no Brasil, política industrial associada a uma taxa pelo uso de carbono seria um caminho. Na entrevista, realizada em 2023, Aguion cita inclusive um país que seguia o receituário à época: os EUA, com o Inflation Reduction Act (IRA), a política climática do governo Joe Biden, hoje desmantelada por Donald Trump.

O economista diz entender a repulsa à ideia de política industrial, mas defende que há maneiras de conduzi-la preservando a concorrência. Cita exemplos como o Darpa, que desenvolveu a indústria de defesa e aeroespacial nos EUA nos anos 1950, e o Barda, política equivalente na área de biomedicina.

Aguion parece convicto de sua opinião. Na semana passada, o economista repetiu o argumento em entrevista ao Le Monde. “O dinheiro vem de cima [do governo], mas você tem chefes de equipe que vêm dos setores de pesquisa e da indústria e promovem projetos concorrentes.” Ao jornal francês e ao VoxTalks ele ilustrou a explicação com o mesmo caso, o desenvolvimento das vacinas mRNA durante a pandemia.

Em 2023, Aguion enfatizou o papel da sociedade civil diante da mudança climática provocada sobretudo pela queima de combustíveis fósseis. “Consumidores desempenham um papel importante, estão cada vez mais conscientes do problema ambiental, pressionam as empresas a produzir e inovar de forma ecológica. Essa é uma força muito eficaz.”

“É importante informá-los”, disse há dois anos o ganhador do Nobel.