BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro Fernando Haddad (Fazenda) negou nesta terça-feira (14) que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) queira um Banco Central tolerante com a inflação e afirmou que a mudança no sistema de metas deu maior liberdade para atuação da autoridade monetária.

“Sair do ano-calendário deu ao Banco Central uma liberdade maior para, com sua autonomia e sua inteligência, adequar essas trajetórias, inclusive porque uma trajetória às vezes muito rígida vai prejudicar a política fiscal”, disse Haddad.

A declaração foi dada em audiência pública na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado Federal sobre o projeto de lei que garante isenção de IR (Imposto de Renda) para quem ganha até R$ 5.000 por mês.

No modelo de avaliação contínua, em vigor desde janeiro, o BC busca a meta para inflação sem se vincular ao chamado ano-calendário, ou seja, ao período de janeiro a dezembro.

O novo regime prevê que a meta é considerada descumprida quando a inflação, medida pela variação de preços acumulada em 12 meses, fica por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância.

O alvo central perseguido pelo BC é 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que a meta é considerada cumprida quando oscila entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

Em junho, concretizou-se o primeiro estouro da inflação. Ao se justificar, o BC projetou que o índice voltará a ficar abaixo do teto da meta a partir do fim do primeiro trimestre de 2026.

“Continuamos com o regime de meta, mas hoje não estamos prisioneiros do ano-calendário”, reforçou Haddad, que voltou a defender maior harmonia entre a política monetária e a política fiscal.

Para o ministro, a nova sistemática não interfere na autonomia do Banco Central para a condução da política de juros. Hoje, a taxa básica de juros (Selic) está estacionada no patamar de 15% ao ano -o nível mais alto em 19 anos.

“Não quero um Banco Central leniente [com a inflação], […] vamos ver com as cautelas devidas, com a inteligência, com a sabedoria de quem está à frente de uma política tão sensível, sobretudo de um país que tem tantas necessidades”, disse.

No último encontro do Copom (Comitê de Política Monetária), o colegiado do BC disse que seguirá vigilante, avaliando se a manutenção da taxa no nível atual por período “bastante prolongado” será suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta.

O Copom volta a se reunir nos dias 4 e 5 de novembro, no penúltimo encontro do ano, quando passará a olhar para a inflação do segundo trimestre de 2027.

Na última semana, Haddad voltou a dizer que a Selic está “excessivamente restritiva”. Para o ministro, o BC ouve muitas pessoas para tomar suas decisões, como o mercado financeiro, o setor produtivo e o próprio governo. Para Haddad, é dever do Ministério da Fazenda levar informações da economia ao BC.

Questionado sobre as críticas do ministro ao atual patamar de juros, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, classificou como legítimas e fez um aceno ao ministro -de quem já foi número 2 no Ministério da Fazenda.

“Eu, pessoalmente, acho um luxo ter o ministro da Fazenda e o secretário do Tesouro fazendo comentários sobre política monetária com a delicadeza que eles fizeram, com a gentileza que eles fizeram, com a educação que eles fizeram”, disse Galípolo, em entrevista a jornalistas em setembro.