SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar registra alta nesta terça-feira (14), com investidores novamente preocupados com as tensões entre EUA e China, após o secretário do Tesouro americano criticar a postura comercial de Pequim.

O discurso do chair do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA), Jerome Powell, também está no radar dos analistas.

Às 13h30, a moeda norte-americana subia 0,33%, cotada a R$ 5,478. No mesmo horário, a Bolsa avançava 0,31%, a 142.223 pontos.

Para Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, “o cenário externo é de aversão ao risco, o que beneficia os ativos considerados portos seguros, como ouro, iene e franco suíço, e prejudica ações, commodities e moedas de países emergentes, caso do real”. Este contexto exerce uma pressão de alta sobre a taxa de câmbio do Brasil, afirma.

O pessimismo, porém, não atinge as ações brasileiras, com o mercado doméstico operando na contramão do exterior. Em Wall Street, o S&P500 cai 0,53%, enquanto o Nasdaq Composite recua 0,29% no começo desta tarde.

O Ibovespa é embalado pela ações do Banco Pan, que tiveram alta de até 28% após o BTG Pactual propor a incorporação do banco no qual já detém 76,9%. Bradesco e Embraer também são destaques do índice, com altas de 2,36% e 2,08%, respectivamente.

Após o alívio nas tensões comerciais entre as potências na véspera, que fez o dólar fechar em queda e a Bolsa em alta, o acirramento da relação entre EUA e China volta ao foco dos investidores.

Em entrevista divulgada pelo Financial Times nesta manhã, Scott Bessent, secretário do Tesouro americano, acusou a China de tentar prejudicar a economia mundial ao restringir as exportações de terras raras e minerais críticos.

“Isso é um sinal de quão fraca está a economia deles, e eles querem derrubar todos os outros junto com eles”, disse Bessent.

“Talvez exista algum modelo de negócio leninista em que prejudicar seus clientes seja uma boa ideia, mas eles são o maior fornecedor para o mundo”, acrescentou. “Se eles querem desacelerar a economia global, serão os mais prejudicados”.

Na semana passada, o governo de Xi Jinping anunciou a adoção de controles de exportação que devem causar rupturas no fornecimento global de terras raras, produtos essenciais para uma série de indústrias, da automobilística à de defesa. Pelas novas regras, empresas estrangeiras precisarão obter autorização de Pequim para exportar ímãs críticos e outros produtos que contenham até pequenas quantidades de terras raras extraídas da China.

Citando a “posição extraordinariamente agressiva” dos chineses na imposição de “controles de exportação para todos os tipos de produtos”, o presidente Donald Trump anunciou tarifas adicionais de 100% sobre produtos da China a partir do dia 1º de novembro.

Em resposta, o Ministério do Comércio chinês defendeu o diálogo, mas disse estar disposto a “ir até o fim” caso os EUA não voltem atrás nas sobretaxas adicionais de 100%. “Se os Estados Unidos optarem pelo confronto, a China o levará até o fim; se optarem pelo diálogo, nossa porta permanecerá aberta”, afirmou nesta terça.

O cenário reacende o risco de uma guerra comercial, semelhante à do início do ano, quando Trump impôs tarifas de 145% sobre produtos chineses e Xi respondeu com 125% sobre mercadorias americanas. Depois de meses de cabo de guerra, as sobretaxas foram reduzidas para 30% sobre a China e 10% sobre os EUA.

Ainda na cena internacional, investidores permanecem atentos à política de juros dos EUA e à paralisação do governo americano. Há uma leitura de que o “shutdown” tem o potencial de impactar o ciclo de cortes na taxa básica do país, visto que a divulgação de novos dados oficiais está suspensa. O relatório de emprego “payroll”, por exemplo, estava previsto para o fim de setembro e ainda não foi publicado.

O mesmo deve acontecer com os dados de inflação do CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês), esperados para quarta-feira (15).

O Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) decidiu cortar os juros em 0,25 ponto percentual na reunião passada, no que foi a primeira redução de 2025. A continuidade do ciclo de afrouxamento, porém, depende da temperatura da economia norte-americana.

O chair do Fed, Jerome Powell, discursará nesta terça-feira e deve oferecer alguma perspectiva sobre a política monetária da instituição.

No cenário doméstico, os agentes acompanharam a participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

Haddad defendeu a chamada tributação BBB, de bancos, bets e bilionários, após a rejeição da MP de aumento de impostos sobre esses setores na Câmara dos Deputados, e disse que recebeu aceno de parlamentares na busca de alternativas.

Segundo o chefe da equipe econômica, o cardápio de medidas será discutido nos próximos dias com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Nós estamos aguardando a volta do presidente da República hoje [terça], amanhã [quarta] devemos começar a trabalhar o tema”, disse.

“Mas já recebi de vários parlamentares acenos no sentido de corrigir o que aconteceu, vamos buscar alternativas ao que aconteceu, porque, de fato, a chamada taxação dos BBBs [bancos, bets e bilionários] só é injusta na cabeça de pessoas desinformadas sobre o que está acontecendo no Brasil”, acrescentou.

A MP foi derrubada na última quarta-feira (8). A medida era considerada importante pelo governo para sustentar a arrecadação e reduzir despesas obrigatórias em 2026, ano eleitoral. Ao retirar do horizonte uma fonte de arrecadação para os próximos anos, o Congresso torna mais desafiadora a tarefa de cumprir as metas estabelecidas pelo arcabouço fiscal.