SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar registra forte alta nesta terça-feira (14), com investidores novamente preocupados com as tensões entre EUA e China, após o secretário do Tesouro americano criticar a postura comercial da potência asiática em entrevista.

Às 11h28, a moeda norte-americana subia 0,73%, cotada a R$ 5,499. No mesmo horário, a Bolsa avançava 0,52%, a 142.531 pontos.

Após o alívio nas tensões comerciais entre as potências na véspera, que fez o dólar fechar em queda e a Bolsa em alta, o pregão desta terça volta a ser pautado pelo acirramento na relação entre os países.

Em entrevista ao Financial Times, Scott Bessent, secretário do Tesouro americano, acusou a China de tentar prejudicar a economia mundial ao restringir as exportações de terras raras e minerais críticos.

“Isso é um sinal de quão fraca está a economia deles, e eles querem derrubar todos os outros junto com eles”, disse Bessent.

“Talvez exista algum modelo de negócio leninista em que prejudicar seus clientes seja uma boa ideia, mas eles são o maior fornecedor para o mundo”, acrescentou. “Se eles querem desacelerar a economia global, serão os mais prejudicados.”

Na semana passada, o governo de Xi Jinping anunciou a adoção de controles de exportação que devem causar rupturas no fornecimento global de terras raras, produtos essenciais para uma série de indústrias, da automobilística à de defesa. Pelas novas regras, empresas estrangeiras precisarão obter autorização de Pequim para exportar ímãs críticos e outros produtos que contenham até pequenas quantidades de terras raras extraídas da China.

Citando a “posição extraordinariamente agressiva” dos chineses na imposição de “controles de exportação para todos os tipos de produtos”, o presidente Donald Trump anunciou tarifas adicionais de 100% sobre produtos da China a partir do dia 1º de novembro.

Em resposta, o Ministério do Comércio chinês defendeu o diálogo, mas disse estar disposto a “ir até o fim” caso os EUA não voltem atrás nas sobretaxas adicionais de 100%.

“Se os EUA optarem pelo confronto, a China o levará até o fim; se optarem pelo diálogo, a porta da China permanecerá aberta”, afirmou nesta terça.

O dia também é marcado pelo início da cobrança de taxas portuárias adicionais entre as potências. O governo americano acusa a China de usar práticas injustas para dominar os setores marítimos, e Pequim afirma estar revidando.

As taxas chinesas serão cobradas sobre navios de propriedade, operados, construídos ou com bandeira dos EUA. Navios construídos na China estão isentos da cobrança.

O cenário reacende o risco de uma guerra comercial, semelhante à do início do ano, quando Trump impôs tarifas de 145% sobre produtos chineses e Xi respondeu com 125% sobre mercadorias americanas. Depois de meses de cabo de guerra, as sobretaxas foram reduzidas para 30% sobre a China e 10% sobre os EUA.

Para Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, “o cenário externo é de aversão ao risco, o que beneficia os ativos considerados portos seguros, como ouro, iene, franco suíço, e prejudica ativos arriscados, como ações, commodities e moedas de países emergentes, caso do real”.

Na última segunda, por exemplo, o ouro superou US$ 4.100 pela 1ª vez ao atingir o recorde de US$ 4.116,77.

Ainda na cena internacional, investidores permanecem atentos à política de juros nos EUA e a paralisação do governo americano. Há uma leitura de que o shutdown tem o potencial de impactar o ciclo de cortes de juros no país, visto que a divulgação de novos dados oficiais está suspensa. O relatório de emprego “payroll”, por exemplo, estava previsto para o fim de setembro e ainda não foi publicado.

O mesmo deve acontecer com os dados de inflação do CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês), esperados para quarta-feira (15).

O Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) decidiu cortar os juros em 0,25 ponto percentual na reunião passada, no que foi a primeira redução de 2025. A continuidade do ciclo de afrouxamento, porém, depende da temperatura da economia norte-americana.

O chair do Fed, Jerome Powell, discursará nesta terça-feira e deve oferecer alguma perspectiva sobre a política monetária da instituição.

No cenário doméstico, os agentes acompanham a participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

Durante o evento, Haddad reconheceu que a trajetória fiscal “exige cuidado”, mas ponderou que “sempre haverá trabalho a ser feito” na área.

Haddad também criticou os programas de isenção fiscal do país que, segundo ele, “não podem ser eternos, salvo em casos específicos como as Santas Casas”. Para o ministro da Fazenda, alguns setores tratam no Brasil o corte de gasto tributário como elevação de impostos, e não como fim de privilégios.

Os comentários foram feitos após a derrubada da MP (medida provisória) de aumento dos impostos, que o governo considerava importante para sustentar a arrecadação e reduzir despesas obrigatórias em 2026, ano eleitoral.

Ao retirar do horizonte uma fonte de arrecadação para os próximos anos, o Congresso torna mais desafiadora a tarefa de cumprir as metas estabelecidas pelo arcabouço fiscal. A equipe econômica já afirmou estudar outras alternativas.