SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os Estados Unidos e a China começaram na terça-feira (14) a cobrar taxas portuárias adicionais de empresas de transporte marítimo, tornando o alto mar uma frente importante na guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.
Um retorno a uma guerra comercial total parecia iminente na semana passada, depois que a China anunciou uma grande expansão de seus controles de exportação de terras raras e o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou aumentar as tarifas sobre os produtos chineses para três dígitos.
Porém, após o fim de semana, ambos os lados procuraram tranquilizar operadores e investidores, destacando a cooperação entre suas equipes de negociação e a possibilidade de encontrarem um caminho a seguir.
A China disse que começou a cobrar taxas especiais sobre navios de propriedade, operados, construídos ou com bandeira dos EUA, mas esclareceu que os navios construídos na China estarão isentos das taxas.
Em detalhes publicados pela emissora estatal CCTV, a China definiu disposições específicas sobre isenções, que também incluem navios vazios que entram em estaleiros chineses para reparos.
As taxas portuárias extras impostas pela China serão cobradas no primeiro porto de entrada em uma única viagem ou nas cinco primeiras viagens em um ano, seguindo um ciclo de cobrança anual que começa em 17 de abril.
Mais cedo neste ano, o governo Trump anunciou planos de cobrar taxas dos navios ligados à China para afrouxar o controle do país sobre o setor marítimo global e reforçar a construção naval dos Estados Unidos.
Uma investigação durante o governo do ex-presidente Joe Biden concluiu que a China usa políticas e práticas injustas para dominar os setores marítimos, logísticos e de construção naval globais, abrindo caminho para essas penalidades.
A China revidou na semana passada, dizendo que iria impor suas próprias taxas portuárias aos navios vinculados aos EUA a partir do mesmo dia em que as taxas dos EUA entrassem em vigor.
Analistas preveem que a transportadora de contêineres COSCO, de propriedade da China, será a mais afetada, arcando com quase metade do custo esperado de US$ 3,2 bilhões desse segmento com essas taxas em 2026.
CHINA PROMETE LUTAR ATÉ O FIM
Na terça-feira, o Ministério do Comércio chinês pediu aos EUA que “retifiquem suas práticas errôneas” e, em vez disso, busquem o diálogo e a consulta.
“Se os EUA optarem pelo confronto, a China o levará até o fim; se optarem pelo diálogo, a porta da China permanecerá aberta”, afirmou.
“Essa simetria retaliatória trava ambas as economias em uma espiral de tributação marítima que corre o risco de distorcer os fluxos globais de frete”, disse a Xclusiv Shipbrokers Inc, com sede em Atenas, em uma nota de pesquisa.
Um consultor sediado em Xangai que assessora empresas globais no comércio com a China disse que as novas taxas podem não ser muito perturbadoras para o setor e que qualquer aumento de custos provavelmente será capturado em preços mais altos.
Em outro comunicado, o ministério anunciou que impôs sanções contra cinco subsidiárias americanas do construtor naval sul-coreano Hanwha Ocean.
O ministério acusa esta empresa de ajudar o governo dos Estados Unidos em uma investigação que resultou na aplicação, em abril, de tarifas para todos os navios construídos e operados pela China.
A investigação e as medidas consequentes “deterioraram gravemente os direitos e interesses legítimos das empresas chinesas”, afirmou a pasta.
Apesar do panorama comercial sombrio com os Estados Unidos, os números oficiais revelaram na segunda-feira que o comércio exterior da China permaneceu resiliente.
As exportações chinesas subiram 8,3% em setembro, na comparação com o mesmo mês do ano passado, o ritmo mais expressivo desde março. As exportações para os Estados Unidos subiram 8,6%, a US$ 34,3 bilhões (R$ 190 bilhões).
Os produtos chineses enfrentam atualmente uma tarifa de pelo menos 30%, determinada pelo governo Trump, que acusa Pequim de práticas comerciais desleais e de facilitar o tráfico de fentanil.
Em represália, a China impôs tarifas alfandegárias de 10% aos produtos americanos.