SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os recados do trio premiado com o Nobel de Economia para quem manda no mundo, o nome “fintech” não sai da boca dos bancos e outros destaques do mercado nesta terça-feira (14).
**BOCA NO TROMBONE**
Ninguém consegue parar de falar sobre tecnologia. Com o Nobel, não seria diferente.
A premiação para os economistas deste ano foi concedida a Joel Mokyr, “por ter identificado os pré-requisitos para o crescimento sustentado por meio do progresso tecnológico”, e a Philippe Aghion e Peter Howitt, “pela teoria do crescimento sustentado através da destruição criativa”.
Mokyr receberá metade do prêmio de 11 milhões de coroas suecas, o que dá cerca de US$ 1,15 milhão (R$ 6,3 milhões). Os outros dois vencedores dividirão a outra fatia.
O QUE ELES FIZERAM?
O trio mostrou como a inovação impulsiona o progresso, discussão que se encaixa no debate atual sobre os efeitos da inteligência artificial nas sociedades.
“A estagnação econômica, e não o crescimento, tem sido a norma na maior parte da história da humanidade. O trabalho deles mostra que devemos estar cientes das ameaças ao crescimento contínuo e combatê-las”, justificou a Academia.
🏭 Joel Mokyr, americano-israelense nascido na Holanda, é historiador econômico e retornou à Revolução Industrial, na Inglaterra do século 16, para encontrar as origens do crescimento econômico sustentado.
Uma de suas conclusões mais marcantes é a de que sociedades abertas à mudança e à inovação tendem a crescer por mais tempo.
Phillippe Aghion, francês, e Peter Howitt, canadense, debruçaram-se sobre o conceito de destruição criativa no qual a inovação destrói estruturas econômicas antigas e abre o caminho para novas.
Eles criaram um modelo matemático, usado para mostrar que o avanço tecnológico aumenta a produtividade, mas pode prejudicar empresas e trabalhadores que ficam para trás.
A ideia é que, em sociedades abertas à concorrência, há maior destruição criativa e uma tendência maior ao crescimento econômico.
BICO ABERTO
Na coletiva de imprensa com os vencedores, eles tocaram em assuntos do debate público.
Nos maiores avanços no progresso tecnológico, houve cooperação entre governos, universidades e negócios, e eu espero que isso continue no futuro, disse Howitt, no que a imprensa internacional leu como uma referência à disputa entre o governo de Donald Trump nos EUA e universidades como Harvard.
O sistema [que estimula a inovação] requer um governo que considera a ciência e a tecnologia como prioridades máximas. Essas coisas não são mais tão evidentes quanto costumavam ser, afirmou Mokyr, em mais uma possível indireta ao chefe da Casa Branca.
Qualquer política que desencoraje a imigração, em qualquer nível, é prejudicial para as nossas esperanças de inovação e progresso contínuos, disse Mokyr.
Protecionismo e tarifas são obstáculos para o crescimento. Barreiras aduaneiras deixam os mercados mais fragmentados e reduzem as oportunidades para a troca de ideias, argumentou Aghion. Eu não apoio a onda protecionista nos EUA.
🧠 Parando para pensar ambas as teorias vencedoras apontam para uma mesma direção: o crescimento econômico é sempre bom e, em última instância, o fim de todo o funcionamento da economia.
Não são todos os economistas que pensam dessa forma: há outros pensadores que priorizam a redistribuição de renda ou a preservação das instituições como objetivo final. Se o assunto interessa, há autores para todos os gostos que também já venceram o Nobel.
**FINTECHS: AMAMOS OU ODIAMOS?**
O termo fintech define empresas financeiras calcadas no uso da tecnologia em operações bancos e corretoras digitais são os exemplos mais reconhecíveis.
O crescimento rápido desse tipo de companhia criou uma lacuna na regulamentação: enquanto algumas já faturam mais do que bancos tradicionais, ainda pagam menos encargos e enfrentam menos exigências. Nos bastidores, há briga.
QUEM SÃO?
Aí vão algumas das maiores fintechs que atuam no Brasil.
– Nubank: de origem brasileira, é a maior fintech da América Latina. Em janeiro de 2025, o BC confirmou que o banco digital ultrapassou o Itaú em número de clientes.
– Mercado Pago: focado em serviços financeiros integrados ao e-commerce do Mercado Livre. Oferece maquininhas, produtos de crédito e pagamentos.
– Outros nomes do setor são PicPay, Stone, PagSeguro, Neon, C6 Bank e Creditas.
Ajudam o avanço das fintechs e o aumento da renda dos brasileiros têm impulsionado a expansão do crédito no país, mesmo com uma das taxas de juros mais altas do mundo, segundo artigo publicado neste mês pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).
O documento aponta que, em 2024, o crédito bancário cresceu 11,5% e a emissão de títulos corporativos subiu 30%, apesar de a taxa Selic estar em 15% ao ano.
“O aumento da concorrência diminuiu a concentração do setor bancário e reduziu as taxas médias de empréstimo dos bancos tradicionais”, escreveu o órgão.
👎 ou atrapalham? As fintechs estão no alvo do presidente Lula. Na medida provisória que aumentava os impostos sobre determinados tipos de investimento, também estava prevista a elevação da taxação sobre esse tipo de empresa. A proposta foi rejeitada, mas o governo não desistiu da ideia.
A disputa dessas companhias com grandes bancos foi escancarada com o enterro da MP. O clima piorou com a operação Carbono Oculto, que revelou a ligação de algumas fintechs ao crime organizado.
A ação policial colocou holofotes para as fragilidades na regulamentação do BC no setor. A crise deu munição para os grandes bancos explorarem o problema numa ofensiva contra a atuação das empresas de tecnologia.
A Febraban, que representa os bancos, subiu o tom em duas notas públicas, acusando as fintechs de terem trabalhado contra a MP e de utilizarem estratégias de planejamento tributário para reduzir o pagamento de impostos no Brasil.
As fintechs se defenderam com números para mostrar que a tributação efetiva das maiores empresas do setor é mais alta do que a dos grandes bancos: 29,7% versus 12,2% em 2024.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
Tchau, Ibovespa? Em reunião de acionistas, a Gol vai propor reorganização societária e a retirada de ações da B3.
Escorpião no bolso. Verba para emendas terá corte de R$ 7,1 bilhões no Orçamento de 2026 com a queda da MP que aumentava impostos sobre investimentos, segundo cálculos do governo.
Sra. BYD. Conheça a executiva que lidera a expansão global da fabricante de veículos elétricos chinesa, Stella Li.
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Só para contrariar. O BC aprovou aumento de capital de duas instituições do grupo Master, comandado por Daniel Vorcaro. Vale lembrar que a autarquia vetou a compra de ativos do grupo pelo BRB (Banco de Brasília).
Acabou o budget. A OIT (Organização Internacional do Trabalho) pode ter que cortar cargos se os EUA não pagarem suas contribuições, reduzidas no governo Trump.