SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A companhia aérea Gol vai propor aos acionistas uma reorganização societária que pode culminar com o fechamento do capital da empresa e saída da empresa do nível 2 de governança da B3, segundo boletim de voto à distância divulgado pela empresa na noite desta segunda-feira (13).

No documento, o conselho de administração da companhia propõe que a empresa operacional Gol Linhas Aéreas Inteligentes e a Gol Investment Brasil sejam incorporadas pela empresa fechada Gol Linhas Aéreas SA.

De acordo com fato relevante publicado nesta segunda, a Abra, conglomerado que controla a Gol, planeja pagar R$ 5,82 para cada título da nova empresa fechada que vai incorporar a companhia aérea. Trata-se do preço atual da emissão de um papel da empresa.

A Gol vai oferecer uma ação da companhia fechada para cada ação ordinária dos sócios minoritários. Ações preferenciais, que não dão direito a voto e sim preferência no pagamento de dividendos, serão trocadas por 35 títulos da nova empresa. O cálculo não considera dívidas da companhia.

O negócio inclui outras subsidiárias da Gol Linhas Aéreas, como o programa de milhas Smiles e a transportadora Gollog.

Na proposta, a Gol se comprometeu a comprar apenas os títulos dos acionistas que tiverem menos de R$ 47,25 milhões em papéis. A cláusula permite que a Abra desista do negócio, se o valor passar desse limiar.

A proposta precisa ser aprovada em assembleia de acionistas convocada para 4 de novembro, segundo o documento.

Em maio, a Gol realizou um aumento de capital, mas apenas 0,76% dos acionistas minoritários quiseram participar.

Nesse contexto, a Abra passou a deter 99,97% das ações ordinárias e 99,22% das ações preferenciais.

Assim, os papéis que estavam na mão de terceiros caíram a apenas 0,78% das ações em circulação, o que fica abaixo do nível de governança exigido pela B3, a Bolsa de São Paulo.

Além disso, as ações preferenciais da Gol estão valendo menos de R$ 1,00, e a B3 exige mínimo de R$ 1,00 por ação.

Em nota, a Gol confirmou a simplificação de sua estrutura societária e classificou o movimento como um fortalecimento da governança. De acordo com a companhia, a decisão visa reduzir custos e permitir maior agilidade estratégica em um momento de retomada operacional.

“A reorganização societária anunciada faz parte de uma estratégia de negócio e, portanto, nada muda para os passageiros: a companhia aérea mais pontual do Brasil segue comprometida em oferecer as melhores opções de viagem, com excelência, segurança e pontualidade”, disse a Gol.

O comunicado vem na sequência de uma tentativa frustrada de fusão com a Azul, que foi enterrada oficialmente no último dia 25 depois de meses de negociação travada.

O anúncio levado ao mercado inicialmente pela Abra, controladora da Gol, foi a forma encontrada pela holding para encerrar as especulações em torno de uma possível união.

Assinado em janeiro, o memorando de entendimentos previa uma fusão das companhias. Naquele momento, a Gol ainda estava se reorganizando financeiramente para acertar suas contas com credores dentro do Chapter 11 (a recuperação judicial nos Estados Unidos) e a Azul, apesar das dificuldades apontadas nos balanços, vivia um cenário menos complicado.

O memorando também servia como uma opção de negócios visando a união de forças em um setor extremamente sensível da economia global. Ambas as companhias sofreram apertos financeiros na pandemia, o que desencadeou um crescimento brutal da dívida -aliado ainda à alta do dólar e do preço do combustível de aviação.

Acontece que, no final de maio, a Gol encerrou seu processo de recuperação nos EUA e, logo em seguida, a Azul declarou sua adesão ao Chapter 11.

Naquele momento, segundo agentes do setor, a Azul deixou bem claro à Abra qual era sua posição nos acordos de fusão das companhias e comunicou que a prioridade seria o processo de recuperação.