SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A rentabilidade dos títulos do Tesouro Nacional atrelados à inflação (Tesouro IPCA+) tem subido nas últimas semanas para patamares históricos. A taxa prefixada que acompanha a variação do IPCA ultrapassou os 8% nos papéis com vencimento em 2029. Este é o maior percentual fixo deste título desde sua emissão, em 2023.
Na terça (7), o Tesouro IPCA+ 2029 foi a 8,08%. Nesta segunda, pagava 8,02% a quem o carregasse até o seu vencimento.
Já o título Educa+ 2026 estava a IPCA + 8,26%, e o 2027, a IPCA + 8,08%.
Segundo levantamento da Quantum Finance, plataforma de dados do mercado financeiro, tais rentabilidades são raras. Na última década, apenas três títulos IPCA+ entre 20 ofertados passaram mais da metade de seus dias em negociação com um retorno acima de 7%. A maioria (15 títulos) teve menos de 15% dos seus dias de negociação com uma rentabilidade acima de 7% ao ano.
Essas taxas prefixadas do Tesouro IPCA+ variam diariamente, acompanhando a curva de juros futuros. Essa curva, por sua vez, é formada pela previsão feita pelo mercado financeiro sobre a Selic nos próximos meses e anos.
Recentemente, as estimativas para os juros de curto prazo ficaram menores, indo de 14% para 13,5%. Já para as taxas a partir de 2028, a expectativa subiu de 13% para 13,5%. Atualmente, a Selic está em 15% ao ano e economistas esperam que ela comece a cair ao fim deste ano.
Outro ponto que afeta os títulos do Tesouro é a expectativa de inflação, que tem caído. Segundo o boletim Focus desta segunda, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) deve terminar 2025 com uma alta de 4,72%. Há um mês, essa previsão era de 4,83%.
Também impulsiona a alta nas taxas o aumento na percepção de risco fiscal. Segundo especialistas, faltam ajustes estruturais que estabilizem a dívida pública no longo prazo.
Na última tentativa de aumentar a arrecadação, o governo federal foi derrotado no Congresso na MP de aumento de impostos.
O Relatório Mensal do Prisma Fiscal, que consolida expectativas de instituições participantes, aponta que a dívida bruta em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) deve ser de 83,80% em 2026. Em julho, ela estava em 77,5%.
Quanto maior este percentual, mais difícil fica para o Brasil pagar todos os seus credores que, por sua vez, cobram juros mais altos para financiar o país.
VALE A PENA INVESTIR NO TESOURO?
Analistas recomendam que investidores aproveitem o juro real (acima da inflação) perto de 8%, já que aportes no Tesouro são considerados seguros, desde que carregados até o vencimento.
Caso o investidor queira se desfazer do título antes do prazo de vencimento, pode perder dinheiro. Isso porque ele estará colocando seu papel à venda no mercado secundário. Se os juros estiverem menores que atualmente, o título irá valer mais. Se eles forem maiores, o papel terá um preço de mercado menor, em uma relação inversamente proporcional.
Apesar de vantajoso, o Tesouro IPCA+ não é o ativo mais rentável disponível. Com a Selic a 15%, a renda fixa como um todo se torna atrativa. Considerando que nos últimos 12 meses, o IPCA acumulou alta de 5,13%, é possível obter um retorno real próximo de 10%, acima dos 8% do IPCA+.