RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Os casos de insegurança no entorno e dentro de unidades de saúde do Rio de Janeiro geraram atrito entre a pasta de saúde da gestão do prefeito Eduardo Paes (PSD) e representantes da segurança pública do governo Cláudio Castro (PL).

Daniel Soranz, secretário municipal de Saúde, tem cobrado nas redes sociais e em entrevistas ações da polícia para solucionar problemas de segurança que atingem hospitais e postos de saúde.

Dois casos tiveram repercussão em setembro: a invasão de milicianos ao hospital municipal Pedro 2°, em Santa Cruz, com a intenção de matar um paciente, e a invasão de traficantes a uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), episódio em que houve agressão a pacientes e o sequestro de uma ambulância.

Ainda em setembro, um tiroteio no Andaraí, zona norte do Rio, aconteceu poucas horas depois da visita do ministro Alexandre Padilha (Saúde) ao hospital federal do bairro. Soranz publicou vídeo de pessoas correndo no entorno da unidade.

Representantes de órgãos de segurança estaduais dizem que a pressão da gestão municipal tem fundo político, feita por um dos mais antigos aliados de Paes. O atual prefeito deve ser candidato a governador em 2026, provavelmente contra um nome apoiado por Castro.

Soranz nega que a cobrança tem envolvimento com política. Procurada para se manifestar sobre o tema, a Polícia Civil não respondeu.

No dia seguinte à invasão de milicianos ao hospital municipal Pedro 2°, Soranz divulgou que unidades municipais de saúde foram obrigadas a fechar 516 vezes por motivos de segurança em 2025. Ele foi chamado de mentiroso pelo secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, e pelo secretário Segurança Pública, Victor dos Santos. Eles contestam os dados municipais.

“O secretário tem meu telefone, tem o telefone de outros secretários e não fez uma ligação para pedir esse tipo de apoio”, disse Santos. O secretário da PM, coronel Marcelo Menezes, afirmou em entrevista coletiva que a divulgação do dado “causou espécie”.

“É uma forma de intimidar e de constranger”, afirma Soranz. “A gente tem dado, tem número, vive nessa cidade durante todo dia. Muitas vezes, para entrar numa unidade de saúde tenho de descer do carro e pedir para retirarem uma barricada”.

No início de outubro a Polícia Civil fez uma operação no hospital municipal Salgado Filho, no Méier, e afirmou ter descoberto quatro corpos mumificados. Disse ainda ter observado indícios de irregularidades no tratamento de ao menos 14 corpos. A prefeitura disse que o hospital tem grande volume de atendimentos e que os corpos não tinham referências familiares ou documentos.

Soranz diz não enxergar associação entre a investigação no hospital e os atritos com a segurança pública.

Eleito deputado federal pelo PSD em 2022, Soranz licenciou-se do cargo para se manter à frente da secretaria de Saúde de Paes. Chegou a ser sondado como vice para a chapa que concorreu à prefeitura em 2024.

No lado do governo estadual, Curi lidera a Polícia Civil, que tem apostado na comunicação direta de suas próprias ações. Nas redes sociais do órgão, o próprio secretário comenta operações e o contexto da violência no estado, em geral com críticas ao Poder Judiciário.

Em podcasts, Curi já afirmou ter pedido a Castro para que a polícia tomasse o controle da narrativa sobre a segurança pública no estado. O secretário é visto pelo entorno do governador como nome cotado ao cargo de deputado federal. Procurado, ele não respondeu à reportagem.

Postulantes ao palácio Guanabara e à Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) miram a segurança pública como pauta no ano que antecede a eleição estadual. Paes criou em junho a Força Municipal, grupo da Guarda Municipal que passou a andar armado.

Na Alerj, o deputado estadual, Rodrigo Bacellar (União) aventado como candidato ao governo em 2026, conseguiu aprovar um conjunto de medidas de sua autoria. A lei sancionada na sexta-feira (10) por Castro restringe visita íntima para condenados por crimes hediondos, autoriza o estado a cobrar dos presos os custos parciais de manutenção carcerária e cria um sistema de monitoramento de egressos.