SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta segunda (13), juntamente com os representantes de Egito, Qatar e Turquia, um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, oficializando a trégua que começou na última sexta (10) no território palestino.
O encontro entre os líderes ocorreu durante uma cúpula na cidade egípcia Sharm el-Sheikh, onde eles discutiram os próximos passos na resolução do conflito. O evento reuniu governantes europeus e árabes, enquanto o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, recusou um convite de Trump de última hora e ficou de fora.
O premiê citou o feriado judaico de Simchat Torá, que começa no pôr do sol desta segunda, como justificativa, mas, segundo o jornal britânico The Guardian, a recusa ocorreu após o presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, ameaçar não pousar caso o líder israelense comparecesse.
O conteúdo do documento ainda não foi divulgado, mas os países se colocam como garantidores do plano de paz.
Após a assinatura, o ditador egípcio, Abdel Fatah Al-Sisi, disse que o acordo encerrará um “capítulo doloroso na história humana” e que a solução de dois Estados era a única forma de alcançar o objetivo de palestinos e israelenses viverem em paz. Ele também anunciou que dará a Trump o Colar do Nilo, a mais alta honraria concedida no Egito.
Já Trump afirmou que, “a partir deste momento, podemos construir uma região forte, estável, próspera e unida na rejeição do caminho do terror” e disse que a corrida final para fechar o acordo assinado nesta segunda ocorreu na Assembleia-Geral da ONU, no final do mês passado.
O republicano disse que se encontrou com líderes de oito países árabes, incluindo alguns dos quais não gosta particularmente, em suas palavras, e conversou com eles até concluir o trabalho. “Os primeiros passos para a paz são sempre os mais difíceis, e hoje os demos juntos”, afirmou.
Em seguida, instou os presentes a aderir aos Acordos de Abraão, que normalizaram as relações entre Israel e os Emirados Árabes Unidos e Bahrein e são uma das maiores conquistas diplomáticas do primeiro mandato de Trump. “Espero que todos estejam se unindo. Agora não temos desculpas. Não temos Gaza e não temos um Irã como desculpa”, afirmou, provavelmente em referência à trégua e aos bombardeios americanos às instalações nucleares do regime.
A cúpula ocorre horas depois que os últimos 20 reféns vivos dos ataques terroristas do Hamas foram libertados e que Tel Aviv soltou quase 2.000 prisioneiros palestinos. O Exército israelense confirmou posteriormente a entrega dos corpos de quatro reféns nesta segunda. Resta ainda devolver os restos mortais de outros 22 sequestrados que acredita-se terem morrido e descobrir o paradeiro de outros dois cujos destinos são desconhecidos.
Antes de chegar ao Egito, Trump foi a Israel e discursou no Parlamento do país, tornando-se o primeiro presidente americano a fazê-lo desde o George W. Bush, em 2008.
“Os céus estão calmos, as armas silenciosas, as sirenes quietas e o sol nasce sobre uma Terra Santa que finalmente está em paz”, disse Trump, ovacionado por vários minutos pelos parlamentares. Ele afirmou ainda que um “longo pesadelo” para israelenses e palestinos havia terminado. “Agora é hora de transformar essas vitórias contra terroristas no campo de batalha no prêmio final de paz e prosperidade para todo o Oriente Médio.”
Em seguida, por volta das 10h30 de Brasília, embarcou rumo ao país árabe, onde foi recebido por Sisi os dois presidiram a cúpula desta segunda. Antes de dar início às tratativas, Trump afirmou que quer o líder egípcio como participante de um conselho para governar Gaza. O americano também agradeceu o ditador por ter desempenhado um papel “muito importante” no acordo de cessar-fogo.
Sisi retribuiu elogiando a atuação do republicano: “Sempre estive muito confiante de que o senhor, apenas o senhor, seria capaz de alcançar essa conquista e encerrar a guerra”. As tratativas e elogios à conduta do americano ocorrem após a campanha de Trump para ganhar o Prêmio Nobel da Paz fracassar a escolhida foi María Corina Machado, líder da oposição venezuelana.
A cúpula desta segunda reuniu líderes europeus como o primeiro-ministro da Alemanha, Friedrich Merz, o do Reino Unido, Keir Starmer, e o presidente da França, Emmanuel Macron, além do secretário-geral da ONU, António Guterres. Entre os chefes de Estado da região destacavam-se o emir do Qatar, Sheikh Tamim bin Hamad al-Thani, além de Erdoğan. Ambos os líderes ajudaram a intermediar o cessar-fogo entre Israel e Hamas que entrou em vigor na manhã da última sexta-feira (10).
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, compareceu como parte de um esforço dos líderes regionais para promover a participação da entidade na estabilização de Gaza. Um Trump sorridente cumprimentou o líder da entidade, que governa parcialmente a Cisjordânia ocupada, com um aperto de mão. Os dois posaram para uma foto.
No mês passado, o líder americano barrou a presença de Abbas na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, obrigando o palestino a discursar por videoconferência.
O acordo de paz é baseado em um plano de 20 pontos proposto por Trump. Com a libertação dos reféns e dos prisioneiros, a cúpula discutirá as próximas fases do acordo. Os mediadores ainda enfrentam a difícil tarefa de garantir uma solução política de longo prazo e precisam definir algumas questões delicadas que levaram ao fracasso de tentativas de paz anteriores.
O Egito, por exemplo, tem um papel chave pois o plano do republicano prevê a reabertura da fronteira de Gaza com o país para a entrada de ajuda humanitária e a saída de civis. Reuniões blaterais com países do Golfo, que devem liderar o financiamento da reconstrução do território palestino devastado pela guerra, também estão previstas. No encontro, Trump afirmou que o processo de refazer a estrutura de Gaza precisa ser desmilitarizado.
Um dos principais impasses ao longo dos dois anos de guerra na Faixa de Gaza foi em relação ao desarmamento do Hamas. Netanyahu sempre afirmou que o objetivo do conflito era aniquilar o grupo terrorista, que por sua vez nega entregar as armas sem a criação de um Estado palestino.
Outra questão ainda em aberto é a governança de Gaza a proposta de Trump é estabelecer uma autoridade de transição liderada por ele mesmo.