SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os últimos relacionamentos de Valdemir Oliveira, conhecido como Júnior Pacheco, seguiram o mesmo roteiro: começam com viagens, presentes e planos conjuntos e terminam em ações judiciais. Vários ex-parceiros o acusam de utilizar vínculos afetivos como meio de obter vantagens financeiras.

As denúncias se somam a outras de supostos golpes em série no bairro da Santa Cecília, em São Paulo, como mostrou a Folha de S.Paulo. A Polícia Civil investiga o homem. A reportagem não conseguiu contato com ele ou sua defesa.

Um dos conflitos envolvendo um romance começou em seu próprio casamento, com direito a uma lista de celebridades como Jojo Todynho, celebrado em Trancoso (BA), em fevereiro de 2020. Ao fim da festa, a agência de turismo contratada para emitir passagens aéreas de cerca de 90 convidados cobrou na Justiça uma dívida de R$ 38,8 mil.

Segundo o processo, foi o próprio Pacheco quem procurou e assinou com a empresa, embora parte dos pagamentos tenha sido feita com cartões e transferências do então marido, um médico renomado.

Separado semanas após o evento, quando o parceiro teria descoberto denúncias contra o companheiro, o casal passou a disputar na Justiça a responsabilidade pela dívida. O Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que ambos deveriam arcar solidariamente com o valor.

O médico, com as contas bloqueadas, quitou sozinho a quantia e, em julho de 2021, entrou com nova ação solicitando ressarcimento e acusando o ex de tê-lo enganado durante a relação.

Nos autos, ele relata que o cônjuge tinha o costume de assumir despesas em seu nome e desaparecia quando os credores cobravam —conforme o documento, exatamente isso teria ocorrido no caso do casamento. Diz ainda que o parceiro fazia gastos não autorizados em seus cartões e pegava quantias emprestadas com promessas nunca cumpridas de devolução.

– Quem é Júnior Pacheco

Dois advogados já renunciaram à defesa de Pacheco, alegando não conseguir manter contato com o cliente. Desde então, ele responde à revelia, sem contestação das acusações. O processado bloqueou a reportagem em todas as tentativas de contato.

A dívida das passagens, entretanto, não seria a única herança do matrimônio. Alguns artistas renomados dizem não ter recebido por apresentações naquele evento. Outros shows contratados para a data foram até cancelados por falta de pagamento, como o da cantora Lexa.

Conforme relatado à Justiça, o casal se conheceu em 2018, em um evento de design em São Paulo. Pacheco impressionou o médico com seu carisma e aparente sucesso profissional como decorador.

Naquele período, ele havia acabado de trocar de ramo, largando a arquitetura para prestar serviços de decoração de interiores —mudança que, segundo testemunhas, não ocorreu por vontade própria.

Meses antes daquele evento, um arquiteto de São José dos Campos (SP) afirma ter recebido um projeto feito por Pacheco para uma amiga e ter notado vários erros técnicos. O profissional diz que, curioso, anotou a numeração do suposto registro no Conselho de Arquitetura e Urbanismo, pesquisou e constatou que o número era falso.

Com o tempo, segundo ele, surgiram outras pessoas reclamando de serviços mal-executados ou não entregues por Pacheco. Quando confrontado, o então arquiteto teria deixado de usar o título e passou a se apresentar como designer de interiores. Isso também de forma irregular, já que não possuía registro no conselho da área.

MAIS RELACIONAMENTOS E MAIS PROBLEMAS

Poucos meses depois do encontro, Júnior Pacheco e seu companheiro passaram a dividir o mesmo endereço. O relacionamento avançou rapidamente. Em postagens nas redes sociais e em sites de celebridades, os dois exibiam viagens e jantares. O casamento seria o ponto alto da relação, mas acabou selando o fim.

Na ação de cobrança, o ex-marido afirma que o ex teve problemas com dinheiro em vários de seus relacionamentos anteriores, citando alguns processos em andamento na Justiça.

Um ex-namorado de São José dos Campos alega ter emprestado R$ 32 mil a Pacheco entre maio e julho de 2019, em nove transferências bancárias. O dinheiro, segundo a ação, foi destinado a despesas pessoais. O caso segue em andamento. Oficiais não conseguem encontrar o homem nos endereços citados.

Relatos de outros ex-companheiros ouvidos pela reportagem, todos médicos, reforçam o comportamento. Pacheco teria se envolvido com eles para tirar proveito financeiro, acreditam.

Um profissional afirma ter vivido um relacionamento de três meses com o decorador em 2021. Nesse período, diz ter custeado uma viagem a Itália e comprado um lulu da Pomerânia por R$ 10 mil para o parceiro. Além disso, declara ter pagado R$ 15 mil por um show privado de Lexa, a mesma do casamento, para o aniversário do denunciado.

Outro homem informa ter arcado com a reforma da casa do designer; um terceiro relata ter comprado um tênis da grife italiana Gucci porque o então romance insistia estar necessitado. Todos repetem que, ao tentarem reaver o dinheiro, o ex-companheiro teria desaparecido.

Em manifestações judiciais, Pacheco diz ser uma vítima. Em 2021, por exemplo, ingressou com uma ação contra um ex-companheiro francês e contra o Facebook, alegando sofrer difamação e perseguição virtual.

Segundo ele, o estrangeiro, morador do Rio de Janeiro, criou um perfil para chamá-lo de golpista e divulgar mensagens privadas e documentos pessoais. O autor da ação afirma ter tido o celular e documentos furtados, o que teria permitido o acesso indevido às suas contas. Sustenta ainda que os ataques prejudicaram sua imagem e sua atividade profissional. Por isso, pediu indenização e a exclusão das publicações.

A página, no entanto, viralizou, reunindo diversos relatos contra o decorador, antes de ser derrubada após decisão judicial favorável a ele.

Nos autos, o denunciado se descreve como profissional reconhecido e influenciador digital. Ele alega que as acusações de estelionato são fruto de desavenças pessoais e tentativas de difamá-lo, nega qualquer prática de golpe e afirma que os conflitos sentimentais acabaram extrapolando a esfera privada.