VATICANO, ITÁLIA E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi recebido pelo papa Leão 14 na manhã desta segunda (13), no Palácio Apostólico, no Vaticano. Foi o primeiro encontro entre os dois desde que o americano Robert Prevost foi eleito, em maio.
Lula disse que convidou Leão 14 para a COP30, a conferência de clima da ONU (Organização das Nações Unidas). O papa respondeu que não poderá participar devido aos compromissos com o Jubileu, mas garantiu a representação do Vaticano em Belém.
“Ficamos muito felizes em saber que sua Santidade pretende visitar o Brasil no momento oportuno. Será muito bem recebido, com o carinho, o acolhimento e a fé do povo brasileiro”, afirmou o presidente.
Mais tarde, após evento do Fórum Mundial da Alimentação, na sede da FAO, em Roma, Lula disse a jornalistas que houve “muita química” no encontro com o pontífice o presidente se valeu da mesma expressão usada por Donald Trump para descrever o rápido encontro com o brasileiro na Assembleia-Geral da ONU.
O petista disse que ajudou o fato de ter lido, antes do encontro, a primeira exortação apostólica de Leão 14, publicada na semana passada e que foi dedicada aos pobres e à desigualdade.
“Eu tinha lido o documento do Papa antes de conversar com ele. Então parecia que eu estava conversando com alguém que eu já conhecia há 20 anos atrás, há 30 anos atrás”, disse. “Parecia que eu estava conversando com gente que participou da Teologia da Libertação comigo”, disse, citando os nomes de Leonardo Boff, Frei Betto, dom Paulo Evaristo Arns e dom Pedro Casaldáliga. “Foi muita afinidade.”
Com dificuldades na agenda de ambos, o encontro aconteceu pouco depois das 8h (3h em Brasília), antes do horário em que costumam ter início os compromissos do papa.
Logo em seguida, o pontífice receberia o presidente do Chile, Gabriel Boric. Segundo a Folha apurou, foi um encontro breve, de menos de meia hora.
“Conversamos sobre religião, fé, o Brasil e os imensos desafios que temos que enfrentar no mundo”, disse Lula, em postagem nas redes sociais.
Na noite de domingo, o Vaticano avisou que a audiência entre Lula e o papa seria privada, sem cerimônia de recebimento oficial, que costuma acontecer no pátio de São Damásio com as visitas de Estado.
Lula estava acompanhando da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, e dos ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Wellington Dias ( Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar), da senadora Ana Paula Lobato (PSB-MA), da presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, e do embaixador do Brasil junto ao Vaticano, Everton Veira.
Desde o primeiro mandato, iniciado em 2003, essa foi a terceira vez que Lula foi recebido como presidente por um papa no Vaticano. Antes, esteve com Bento 16, em 2008, e Francisco, em 2023.
Como presidente, participou dos funerais de João Paulo 2º, em 2005, e de Francisco, em abril. Na posse de Leão 14, em maio, o Brasil foi representado pelo vice Geraldo Alckmin.
O encontro com Leão 14 aconteceu poucos dias após a publicação da primeira exortação apostólica deste pontificado. No documento, em que dá recomendações aos católicos, o papa se dedicou aos pobres, falando de desigualdade, com críticas à “racionalidade econômica” e à indiferença diante de quem morre de fome.
“Disse a ele que precisamos criar um amplo movimento de indignação contra a desigualdade e considero o documento uma referência, que precisa ser lido e praticado por todos”, relatou Lula.
O petista também falou com o papa sobre sua relação com religiosos brasileiros como Paulo Evaristo Arns, Hélder Câmara, Luciano Mendes de Almeida, Pedro Casaldáliga e o atual presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Jaime Spengler.
O tema da fome está no centro da agenda de Lula na Itália. À tarde, o presidente estará na sede da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), que comemora 80 anos, para a abertura do Fórum Mundial da Alimentação. Está prevista ainda uma reunião sobre a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, iniciativa do Brasil lançada no G20 do Rio, no ano passado.
No fim de julho, a FAO anunciou que o Brasil saiu do Mapa da Fome, por ter menos de 2,5% da população em risco de subnutrição ou sem acesso à alimentação suficiente no triênio de 2022 a 2024. O país havia voltado para o Mapa da Fome pelos resultados entre 2019 a 2021.
Para continuar a melhorar os índices de segurança alimentar, José Graziano da Silva, ex-ministro de Lula durante o primeiro mandato e ex-diretor da FAO entre 2012 e 2019, diz que é preciso combater a fome entre indígenas, quilombolas e na Amazônia. “Na Amazônia, o mercúrio na mineração está destruindo as condições de vida da população”, disse ele, que no domingo esteve com Lula na Embaixada do Brasil em Roma, onde o presidente se hospedou.
Segundo Graziano, outra área preocupante é a má nutrição. “O nosso problema hoje não é mais fome. Isso vinha de falta de produção. Agora o problema é a falta de dinheiro para comprar os produtos. Você vai no supermercado e as prateleiras estão cheias, o que está vazio é o carrinho que passa no caixa.”
Também a obesidade ligada ao consumo de alimentos ultraprocessados é preocupante no Brasil. “Sair do Mapa da Fome é um bom começo, mas não acabou a fome, não acabou a subnutrição, tem uma série de outros componentes que ainda precisam ser atacados.”
Ainda na FAO, Lula se reunirá com o chefe de governo de Bangladesh, Muhammad Yunus, e terá uma reunião bilateral com o atual diretor-geral do órgão, o chinês Qu Dongyu.
Não há previsão de encontros entre o presidente e a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que deverá participar, no Egito, da reunião de líderes sobre o acordo de paz entre Hamas e Israel.
O petista voltará nesta tarde ao Brasil. A comitiva do presidente é formada pelos ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) e Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), além de Janja.