Da Redação
O fogo que consome a Chapada dos Veadeiros, no norte de Goiás, já provocou uma das maiores tragédias ambientais do estado nos últimos anos. Desde o dia 25 de setembro, as chamas destruíram mais de 70 mil hectares de vegetação nativa, atingindo inclusive áreas do Parque Nacional, considerado Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco.
De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), há fortes indícios de que o incêndio tenha origem criminosa. O brigadista Ricardo Alberto afirmou que as investigações apontam para um possível foco iniciado às margens da rodovia entre Alto Paraíso e Cavalcante, o que reforça a suspeita de ação humana.
A Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) informou que, apenas na região nordeste de Goiás, mais de 100 mil hectares foram consumidos pelo fogo até a última sexta-feira (10).
“A fome cinza”: o impacto após as chamas
O coordenador da brigada voluntária de São Jorge, Alex Gomes, relatou que cerca de 40 brigadistas atuaram nas frentes de combate. Segundo ele, a ação rápida das equipes — com apoio do ICMBio, Ibama e Corpo de Bombeiros — evitou perdas humanas e impediu que o fogo destruísse moradias. “Conseguimos salvar casas, animais e até galinheiros. O helicóptero dava o retorno aéreo e orientava nossas manobras em solo. Foi um trabalho conjunto intenso”, afirmou.
Apesar disso, o fogo chegou a poucos metros de algumas residências, e a situação ainda não está totalmente controlada. “Há focos dentro da área quilombola, em trechos de difícil acesso, mas estamos monitorando”, explicou.
Alex também alertou para o fenômeno conhecido como ‘fome cinza’, que ocorre após os incêndios, quando animais sobreviventes enfrentam escassez de alimentos e abrigo. “A fauna do Cerrado é resistente ao fogo, mas o problema vem depois, quando tudo vira cinza. Sem frutas, insetos e cobertura vegetal, muitos animais acabam morrendo de fome”, lamentou.
Prisões e multas milionárias
Na última semana, uma operação coordenada pela Semad levou à prisão de dois suspeitos de envolvimento no incêndio. As autoridades aplicaram multas que podem chegar a R$ 50 milhões, segundo nota divulgada pela secretaria.
Alex Gomes reforçou que qualquer ação que provoque combustão no Cerrado — mesmo o simples ato de jogar uma bituca de cigarro pela janela do carro — é considerada crime ambiental. “Não existe fogo natural nessas condições. Quando alguém acende algo e o Cerrado pega fogo, é responsabilidade humana”, enfatizou.
Patrimônio ameaçado
O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros abrange cerca de 240 mil hectares e se estende pelos municípios de Alto Paraíso, Cavalcante, Teresina de Goiás, Nova Roma e São João d’Aliança. O local abriga espécies ameaçadas de extinção, como o lobo-guará, o tamanduá-bandeira e o veado-campeiro, e é considerado uma das joias ecológicas do bioma Cerrado.
Com a destruição causada pelo incêndio, pesquisadores alertam que pode levar anos até que o ecossistema se regenere completamente, marcando mais um capítulo trágico na luta pela preservação de um dos maiores patrimônios naturais do Brasil.