SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Suspeita de matar quatro pessoas por envenenamento, a estudante de direito Ana Paula Veloso Fernandes, 36, passou a ser investigada após um bolo com forte odor aparecer, em abril deste ano, na sala de uma universidade em Guarulhos, na Grande São Paulo.
De acordo com a Promotoria, Ana Paula seria “uma verdadeira serial killer”
Em nota, a defesa de Ana Paula e de sua irmã, Roberta, também citada no caso, afirmou que conduz investigação independente e técnica e que o trabalho “tem por finalidade colaborar com a correta apuração dos fatos e zelar pela proteção dos direitos e garantias fundamentais das investigadas, assegurando o pleno exercício da ampla defesa”.
“Para a turma de Direito 4D um ótimo feriadão! Um bolo para adoçar a manhã de vocês”, dizia bilhete deixado com o bolo, assinado por uma mulher desconhecida dos alunos. Foi a própria Ana Paula quem acionou a segurança da universidade, que por sua vez chamou a Polícia Militar.
Em depoimento no mesmo dia, 16 de abril, Ana Paula contou ter suspeitado que o bolo estivesse envenenado porque o nome que constava na assinatura do bilhete era o da mulher de um policial militar com quem ela manteve um relacionamento. Ela acrescentou que não sabia que o PM era casado e que sofreu ameaças da esposa dele.
Afirmou ainda que havia ficado em alerta sobre a procedência do bolo porque a pessoa que teria descoberto que o PM era casado, Maria Aparecida Rodrigues, “apareceu morta”, em Guarulhos em 11 de abril. Ela disse à polícia que a vítima era sua amiga.
A mulher do PM foi ouvida um mês depois, em 9 de maio, e negou qualquer envolvimento no caso. Disse o inverso: que ela é quem vinha sofrendo ameaças em uma rede social. Além disso, afirmou que estava em sua cidade natal, Mirandópolis (SP), a 600 quilômetros de Guarulhos no dia do episódio do bolo.
Outras duas pessoas -o policial militar e uma estudante de direito- foram ouvidas e também disseram que eram alvo de ameaças. A aluna mostrou mensagens enviadas por um telefone desconhecido com ameaças de morte por chumbinho.
Segundo a investigação policial, o número de telefone estava registrado em nome de Maria Aparecida e foi adquirido no mesmo dia de sua morte. A polícia descobriu também que o chip havia sido utilizado em um único celular, o de Ana Paula.
Ana Paula, então, admitiu ter simulado o episódio do bolo, mas negou ter matado Maria Aparecida. A polícia e o Ministério Público dizem o contrário: ela envenenou a vítima e tentou direcionar as investigações contra o policial e sua esposa.
A filha de Maria Aparecida disse em depoimento em julho, quando a investigação sobre Ana Paula já corria, que a suposta serial killer teria saído com a mãe no dia da morte. Ainda segundo ela, as duas se conheciam havia pouco tempo, por um aplicativo, e se viram pessoalmente pela primeira vez no dia em que a vítima morreu. A última mensagem da vítima à filha dizia que “Ana Paula não é fake”.
Maria Aparecida foi encontrada morta na manhã seguinte em sua própria casa. Segundo a filha, dentro da residência havia bilhetes dizendo que um policial e uma mulher não prestavam. Ninguém da família conhecia aqueles nomes -os mesmos do episódio do bolo.
Suspeitou-se que a causa da morte havia sido ataque cardíaco, mas a polícia agora afirma que Ana Paula envenenou a amiga com um bolo.
Ana Paula foi denunciada à Justiça em Guarulhos em setembro deste ano e cumpre prisão preventiva (sem prazo para terminar). Ela é suspeita de ser autora desse e de outros três homicídios -um em Guarulhos, outro em São Paulo e um terceiro em Duque de Caxias (RJ). A Justiça aceitou a denúncia dos casos em Guarulhos. Os demais, afirmou, devem ser analisados nas respectivas comarcas.
No outro caso de Guarulhos, Marcelo Hari Fonseca foi encontrado em janeiro deste ano em estado de putrefação no sofá de uma casa. A causa do óbito era indeterminada até que uma das filhas da vítima descobriu que Ana Paula morava nos fundos da residência, algo nunca mencionado pelo proprietário.
A Promotoria desarquivou o inquérito, e o relatório final da Polícia Civil diz que Ana Paula envenenou Marcelo, limpou a casa e ateou fogo no sofá. O relatório final diz que ela teria confessado o crime e afirmou tê-lo cometido porque sofria ameaças.
O caso de Duque de Caxias envolve a morte de Neil Corrêa da Silva, no final de abril. Segundo o relatório, Ana Paula também teria confessado o crime. Segundo as investigações, o homicídio teria sido premeditado e Ana Paula teria negociado valores pela morte.
Segundo a polícia, em um áudio a irmã de Ana Paula a orienta a “cobrar R$ 4.000 por futuros TCCs” -termo codificado para o assassinato, de acordo com relatório final do inquérito. A mandante teria sido a filha de Neil, Michelle Corrêa da Silva, cuja defesa a reportagem não localizou.
Ambas também teriam envolvimento na morte do tunisiano Hayder Mhazres, 26, no bairro do Brás, na capital paulista, com quem Ana Paula se relacionou. Da Tunísia, um irmão de Hayder disse à polícia que ela chegou a ligar à embaixada do país dizendo estar grávida e reclamando “seus direitos como suposta viúva”.
No dia em que Hayder morreu e foi levado ao hospital, aponta o relatório, “Ana Paula manteve Roberta informada em tempo praticamente real, inclusive com vídeo de UTI”. Ao ser interrogada, ela negou o crime.