SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quando Yale Tishman chegou a Chicago no início dos anos 1980, aos 26 anos, buscava a cena vibrante das boates e a liberdade para ser ele mesmo, um homem gay. A cidade parecia um oásis a seus olhos, com uma comunidade crescente e acolhedora. Logo fez seus primeiros amigos, Nico e sua irmã Fiona, e conheceu seu companheiro Charlie. Sentia-se em casa.

Pouco tempo depois, no entanto, Yale veria sua liberdade ser invadida e sua cidade se tornar o epicentro de uma epidemia que marcou a época, a da Aids. E o que era uma história promissora deu lugar ao luto por pessoas queridas, ao medo e à desconfiança.

Essa história não é real, mas fruto da imaginação e da pesquisa da autora americana Rebecca Makkai, cujo trabalho para transpassar histórias reais para seus personagens a levou ao final do Prêmio Pulitzer de Ficção em 2019. O livro “Os Que Tanto Acreditaram”, publicado originalmente em 2018 nos Estados Unidos, chega ao Brasil sete anos depois.

“O HIV e a Aids ainda são um problema enorme no mundo, as pessoas ainda morrem por causa disso e muitas não recebem a medicação que precisam, apesar de existirem bons medicamentos hoje em dia”, afirma Makkai.

Desde 1981, com os primeiros casos identificados, a história da Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, na sigla em inglês) foi marcada por preconceito e politização. Dados do Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids) mostram que, em 2024, 40,8 milhões de pessoas viviam com Aids no mundo.

O pico de fatalidades por, segundo o Unaids, foi em 2004, com 2,1 milhões de mortes. Em 2024, aproximadamente 630 mil pessoas morreram, o que indica uma redução de 70%. Por outro lado, estima-se que no Brasil, por exemplo, 22% das pessoas com HIV desconhecem seu diagnóstico.

Com a história de Yale, Charlie, Nico, Fiona e amigos, o ativismo na época e o impacto da doença, Makkai costura a narrativa dos personagens de 1980 com uma história paralela de 2015, época em que escreveu o livro.

Nas páginas que separam três décadas entre as cenas, Fiona sai em busca da filha, que havia fugido para se juntar a uma seita. Depois de receber um vídeo que indicava o possível destino de Claire, a personagem viaja para Paris e se hospeda na casa de Richard, velho amigo do grupo de Chicago. Lá, ela reencontra antigos colegas sobreviventes da Aids e recupera a memória de seu irmão, Nico, e do amigo Yale.

O reencontro entre mãe e filha traz à tona o luto, a culpa e o ressentimento de ambas por questões do passado.

Ela conta que o esboço inicial focaria apenas no grupo de Chicago, mas, ao ouvir relatos de pessoas que viveram os conflitos da epidemia do HIV, percebeu que gostaria de retratar outro lado da história —segundo ela, muitos depoimentos eram marcados pela culpa de quem viveu enquanto os amigos morriam.

“Precisava ser um livro sobre a memória e o luto de longo prazo e a culpa dos sobreviventes”, conta.

Makkai defende a necessidade de contar essas histórias e suscitar reflexões. “Isso não significa que todos estejam prontos para fazer isso ou que tenham que fazer isso. Mas acho que é importante para mim incentivar esses tipos de narrativas”, afirma.

Embora tenha escrito o livro há dez anos, Makkai afirma que falar sobre a epidemia da Aids, o ativismo e a luta da comunidade gay ainda é extremamente atual. “É muito importante conhecer e relembrar a história e perceber que existem pessoas ainda vivas que estiveram na linha de frente dessas batalhas nos anos 1980”, afirma.

OS QUE TANTO ACREDITARAM

– Preço R$ 99,90 (464 págs.) | R$ 59,90 (ebook)

– Autoria Rebecca Makkai

– Editora Valentina

– Tradução Fernanda Abreu