SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Depois de quatro atrasos na entrega do “people mover” aeromóvel, como é chamado o sistema de trens projetado para ligar a estação da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) aos três terminais do aeroporto de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) diz não haver previsão para ele entrar em funcionamento.
A conclusão consta em uma nota técnica do órgão regulador, após vistoria realizada em 1º de setembro passado, dia seguinte da última data prometida para início de operação do sistema pela GRU Airport, concessionária responsável pela gestão do aeroporto internacional e pelo consórcio AeroGru, contratado para executar o projeto e fazer sua gestão por dez anos.
Procurados sobre o documento da Anac, tanto a concessionária quanto o consórcio não responderam à reportagem até a publicação deste texto.
Na nota técnica, publicada primeiro pelo site MetrôCPTM e confirmada pela Folha, a agência lembra que não há confiabilidade de prazos, uma vez que a entrega do APM (Automated People Mover, transportador de pessoas automatizados, na tradução) foi postergada quatro vezes: de fevereiro de 2024 para outubro seguinte, a fevereiro de 2025 e, por último, para 31 de agosto passado.
Na vistoria foi constatado, afirma o documento, que o sistema não se encontrava em operação, permanecendo em fase de comissionamento e testes com cargas, sem passageiros, evidenciando, além do descumprimento contratual, a ausência de previsibilidade quanto à conclusão das etapas críticas do projeto.
Diz que o grave cenário é marcado pela inexistência de um cronograma confiável.
Um processo foi aberto pela Anac em março do ano passado, após o primeiro atraso, para apurar as razões do descumprimento de prazo. A apuração pode levar a aplicação de multa, com variação de acordo com a duração total da falta de entrega.
“Questões construtivas, de implantação da tecnologia e fluxos do consórcio construtor implicaram mudanças no cronograma de entrega, conforme informações prestadas pela concessionária”, diz a agência à Folha.
Na nota técnica, a Anac afirma que os atrasos são sempre informados na véspera da entrega prometida e que da última vez foi feito em 29 de agosto, a dois dias do término do prazo de 31 de agosto, “o que é totalmente incompatível a um projeto dessa magnitude e complexidade, cujo cronograma e marcos de entrega certamente são [ou deveriam ser] geridos pela concessionária com antecedência muito maior que dois dias”.
A agência reclama pelo fato de não ter sido informada na vistoria sobre uma nova data de entrega do início de operação.
O documento diz também que, embora obras civis estejam próximas da finalização, os sistemas de automação, controle e integração operacional permanecem inconclusos.
Afirma que os testes de carga de apenas um veículo ainda estavam em execução e não havia operação plena, tampouco testes com passageiros.
“Até mesmos pequenos ajustes apontados da última visita [14 de março passado] não foram solucionados”, diz o texto, apontando falta de operação de elevadores.
Na justificativa para o último adiamento, diz a nota técnica, a concessionária disse que trabalhava ainda em uma operação inicial parcial, condicionada a uma autorização de segurança, com uma série de limitações em relação ao projeto pleno do sistema. No texto a Anac diz que há falta de transparência nas informações.
No mês passado, a agência afirmou à reportagem que havia identificado pendências no processo de certificação do sistema uma delas seria a implantação de reforço nas portas de plataforma, para se evitar acidentes como os ocorridos em estações do metrô de São Paulo neste ano.
O “people mover” em via elevada precisou ser construído porque a estação da CPTM não chega ao aeroporto. O transporte aos três terminais de Cumbica atualmente é feito em ônibus.
Os três trens do sistema começaram a circular em testes no início do ano primeiro aos fins de semana, como acompanhou a Folha, inclusive com peso, e em busca de certificações. Passaram a rodar primeiro aos domingos e depois progressivamente ao longo dos dias.
Atualmente, conforme apurou a reportagem, os testes são realizados durante oito horas por dia, com trens circulando à noite e durante a madrugada.
Ao todo, a via suspensa com trilhos tem 2,7 km de extensão com quatro estações, uma ligada à do trem metropolitano e outras em cada um dos três terminais do aeroporto internacional. Quando o sistema estiver inaugurado, esse trajeto final será feito em aproximadamente seis minutos.
O veículo, que circula por meio de propulsão pneumática, é composto por dois carros articulados que pesam 16 toneladas e deverá levar até 200 passageiros por viagem. Eles rodam em dois trilhos, como se fossem trens convencionais.
O custo total foi estimado no ano de 2023 em pouco mais de R$ 300 milhões. O pagamento é custeado com recursos da outorga da GRU Airport.