FORTALEZA, CE (FOLHAPRESS) – Fortaleza é um dos destinos mais procurados por turistas estrangeiros no Nordeste, com 70 mil visitantes do exterior entre janeiro e agosto, segundo levantamento do Kayak, buscador de viagens. De olho nesse movimento, facções criminosas tentam tomar o controle do comércio na orla da praia, segundo relatos de vendedores.
No início de agosto, dois homens que seriam ligados ao Comando Vermelho viraram presença constante no calçadão da Beira-Mar para coagir comerciantes autônomos de água, refrigerante, copos e canudos a comprarem produtos de um fornecedor indicado pelo grupo.
Uma ação da Polícia Civil e da Polícia Militar do Ceará resultou na prisão dos dois homens no dia 19 de agosto. Ele foram autuados por suspeita de extorsão a permissionários no bairro Praia de Iracema. Um deles, que segundo informações internas da polícia coordenava o esquema, foi preso no bairro Praia do Futuro, também na orla da capital. Ele estava em posse de entorpecentes e também foi autuado por tráfico de drogas.
A Associação de Comerciantes Permissionários Estacionários da Avenida Beira Mar de Fortaleza, que representa a categoria, confirmou que ambulantes relataram ter sido abordados pelos criminosos. A entidade disse ainda que não houve relatos de novas abordagens após as prisões.
O trecho na orla de Fortaleza tem 144 câmeras de videomonitoramento e patrulhamento realizado por viaturas, motocicletas e bicicletas da Guarda Municipal e da Polícia Militar.
Segundo seis comerciantes ouvidos sob anonimato, a tentativa de extorsão era feita pelos criminosos pessoalmente e também via aplicativo de mensagens. Um vendedor de água de coco conta que o dono do comércio foi colocado em um grupo de WhatsApp para mais orientações foram duas semanas de “aviso”, e depois disso quem não obedecesse seria morto, ele disse.
Há ao menos 2.000 comerciantes com permissão para atuar na área, entre ambulantes, feirantes e permissionários, de acordo com a prefeitura.
Outro comerciante ouvido pela reportagem disse que a segurança melhorou e que não houve mais pressão ou extorsão, mas que ainda acontecem casos de roubo.
A professora Bianca Rodrigues, que frequenta o calçadão da Beira-Mar, conta que já presenciou um assalto na área. “Porém, se for comparar com outras áreas de Fortaleza, lá eu me sinto bem mais confortável e segura. Acho que o assalto que vi talvez se enquadre naquele lance de oportunidade. Mas tem horário que evito.”
Segundo a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social, entre janeiro e agosto deste ano foram realizadas 1.418 prisões e apreensões de suspeitos ligados a grupos criminosos, “o que representa um aumento de 61,5% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registradas 878 capturas”.
“Os trabalhos ostensivos e investigativos realizados pelas Forças de Segurança do Ceará seguem em andamento”, diz o estado, em nota, “de forma ininterrupta, com o objetivo de identificar e capturar outras pessoas que tenham envolvimento com crimes”.
Ainda segundo o governo estadual, o combate às facções também foi reforçado com a Operação Integração Saturação Total, iniciada em junho. A poucos metros da Beira-Mar e da Praia do Futuro, o bairro Vicente Pinzón tem recebido essas operações após passar por uma disputa violenta entre CV e GDE pelo domínio da área.
Moradores relataram ter dificuldade em contratar serviços de entrega a domicílio como gás de cozinha e corridas por aplicativo. Disseram ainda que os trabalhadores eram fotografados pelos criminosos para que pudessem fazer as entregas. O Vicente Pinzón fica perto de onde ocorreram ataques contra provedores de internet.
A atuação das facções se estende a outras cidades próximas, como Maracanaú. Lá, líderes religiosos de umbanda foram ameaçados por integrantes do TCP. Eles foram recebidos na Secretaria de Igualdade Racial no dia 2 e formalizaram um ofício pedindo medidas de segurança para sua prática religiosa. A facção carioca se autointitula evangélica e ataca atividades de outras crenças em seu território.
Procurada, a secretaria afirmou que as polícias Civil e Militar foram mobilizadas para acompanhar o caso.