(UOL/FOLHAPRESS) – A precoce eliminação da seleção brasileira na fase de grupos do Mundial sub-20 foi mais um resultado negativo na coleção de fracassos do país desde que Ednaldo Rodrigues tomou posse em agosto de 2021.
Destituído do cargo em maio deste ano, a gestão do dirigente apresentou uma série de problemas, com erros de planejamento, escolhas sem critérios, acúmulo de cargos, lacunas nas comissões técnicas e falta de autonomia dos diretores.
O efeito cascata teve início nos primeiros meses da gestão Ednaldo. Campeão olímpico em Tóquio, o técnico André Jardine esperou por meses uma definição do novo presidente sobre o seu futuro. Sem resposta, decidiu pedir demissão para assumir o San Luis, do México, país onde brilharia nos anos posteriores ao ser tricampeão nacional com o América.
“As trocas de presidente complicaram muito. Quando acabou a Olimpíada, eu não sabia se o projeto era para eu ser um assistente a mais na seleção principal ou se eu teria um novo ciclo olímpico. Esperei por muito tempo por uma reunião para saber o que a instituição queria de mim e isso nunca aconteceu”, explicou André Jardine.
A espera de Jardine foi entre agosto, após a conquista do ouro olímpico, e fevereiro de 2022, quando pediu demissão para assumir o San Luis, do México, colocando um fim no período de 1 ano e 10 meses na CBF. Frustrado com a falta de resposta, o treinador decidiu buscar um novo projeto por não ver perspectiva de futuro na CBF.
“A gente levou muito a sério o trabalho na CBF. Quando eu digo a gente, eu falo dos treinadores de base. Nós construímos um projeto junto com o Branco coordenador das categorias de base para que o grupo pudesse ser a base da seleção de 2026 e 2030. Nós tínhamos uma linha de trabalho bem definida e uma semelhança de pensamento”, conta.
“Nossa ideia era formar uma equipe com DNA ofensivo, de ser protagonista, desde a sub-15 com o Paulo Vitor, a sub-17 com o Dalla Dea e comigo na sub-20 e olímpica. Mas para isso ter sucesso, você precisa de sequência. Era um trabalho que poderia ter dado mais frutos sem dúvida alguma se tivesse tido continuidade e uma valorização mais forte por parte da instituição. Mas o trabalho foi muito desvalorizado”, lamenta Jardine.
Ele assumiu o Brasil sub-20 em abril de 2019 após a demissão de Carlos Amadeu, que não conseguiu a classificação da equipe para o Mundial da categoria. O projeto para Jardine era a Copa do Mundo sub-20 de 2021, mas o torneio não foi disputado por causa da pandemia de covid-19. Mesmo sem a competição, ele foi o escolhido para comandar a seleção olímpica em Tóquio.
CONTINUAÇÃO DO TRABALHO NA CBF
O substituto de André Jardine foi Ramon Menezes, técnico que ficou no cargo por três anos e meio e foi demitido no fim de semana após o Brasil ser eliminado do Mundial sub-20 na primeira fase, com duas derrotas e um empate, pior campanha do país na história.
Ramon era um exemplo de acúmulo de funções na CBF. Além de dirigir a equipe sub-20, o ex-jogador do Vasco também comandou as seleções sub-17, olímpica e até mesmo a principal em três jogos, com uma vitória e duas derrotas.
A situação mais embaraçosa foi no Mundial Sub-20 de 2023, na Argentina. Durante a competição, Ramon Menezes deixou a Argentina e foi para o Rio fazer a convocação para os jogos contra Guiné e Senegal. Após o anúncio da lista e entrevista coletiva na CBF em um domingo, ele retornou ao país vizinho para disputar o restante da competição de base.
A contratação de Ramon Menezes não passou pelo departamento de futebol da CBF. A escolha foi feita por Ednaldo Rodrigues, que era um admirador do futebol jogado pelo treinador quando ele atuava por Vitória, Vasco, Cruzeiro e outros clubes do Brasil.
Em conversas no dia a dia da CBF, Ednaldo Rodrigues dizia que a ideia de contratar Ramon Menezes veio após encontrá-lo por acaso em um restaurante no Rio com o argumento de que o treinador estava no lugar certo e na hora certa.