SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Parlamentares bolsonaristas dizem preferir o ministro do TCU (Tribunal de Constas da União) Bruno Dantas entre os cotados para assumir a vaga de Luís Roberto Barroso no STF (Supremo Tribunal Federal), aberta com o anúncio da antecipação da aposentadoria do ministro.
Reservadamente, eles afirmam que Dantas tem melhor diálogo com a oposição, ainda que mantenha interlocução boa com o governo. Lembram ainda que ele teve boa relação com Jair Bolsonaro (PL) durante seu governo e tem trânsito com o empresariado.
Apesar disso, consideram que o ministro do TCU tem menos chances de ser indicado, ainda que tenha como padrinho político Renan Calheiros (MDB-AL), do que o ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), Jorge Messias, e o senador e ex-presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também cotados para a vaga de Barroso.
A indicação cabe ao presidente Lula (PT), que enviará o nome do seu escolhido para análise e sabatina dos senadores.
Bolsonaristas consideram a indicação de Messias o pior dos cenários. Ele o veem como alguém essencialmente alinhado ao governo petista e mais ideológico e desconsideram o fato de ele ser evangélico algo outrora considerado um diferencial relevante, como quando defenderam André Mendonça para a corte.
Já Pacheco, com quem Bolsonaro teve embates durante sua gestão, é visto como palatável ou o menos pior por apoiadores do ex-presidente no Congresso. Apesar de ser próximo a Lula, Pacheco é parlamentar, tem trânsito entre os colegas e não é flagrantemente de esquerda ou ideológico, dizem.
O senador conta com o importante apoio do seu sucessor, Davi Alcolumbre (União-AP), que, como a Folha de S.Paulo mostrou, afirmou a colegas que vai trabalhar para que Pacheco tenha o maior número de votos da história, caso seja indicado para o Supremo.
Ainda assim, o ex-presidente do Senado segue com ampla rejeição no bolsonarismo e deve encontrar resistência entre os representantes mais radicais desse setor na Casa.
Eles dizem que Alcolumbre não está com crédito para pedir votos entre eles, por não ter pautado o projeto de lei que concede anistia aos presos e condenados nos ataques golpistas de 8 de janeiro.
Os senadores de oposição mais moderados consideram que a escolha de Lula se dará, principalmente, entre Pacheco e Messias e que a primeira opção tem maior viabilidade entre os colegas da Casa.
Caso Lula opte por indicar o senador, poderá contratar mais um problema para a eleição ao Governo de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, onde sobram nomes de direita para disputar o cargo.
O parlamentar nunca escondeu o desejo de ser ministro da corte, mas é o favorito de Lula para disputar o Palácio Tiradentes.
Segundo interlocutores, Pacheco ainda não decidiu se vai se candidatar, mas sabe que não há plano B para a frente ampla de Lula em Minas e que o presidente precisa de palanque no estado para a disputa à reeleição. Recentemente, afirmou que fará o que o petista quiser.
Tanto o nome do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), como o da prefeita Marília Campos (PT), de Contagem (maior cidade administrada pelo PT no país), são considerados inviáveis contra os bolsonaristas Cleitinho (Republicanos) e Mateus Simões (Novo), vice do governador Romeu Zema (Novo).
“Eu tenho certeza que vamos ganhar o estado de Minas Gerais com o Pacheco, ele sabe disso. É só ele se dispor a ser candidato. Se ele for candidato, será o futuro governador de Minas Gerais. Espero que, dentro de poucos dias, a gente tenha essa definição”, declarou Lula à rádio Itatiaia em agosto.
Bolsonaristas veem a questão eleitoral como indiferente, uma vez que não consideram Pacheco um candidato competitivo diante dos demais. Segundo essa avaliação, ele teria capacidade apenas de emprestar palanque ao presidente no estado.
Barroso anunciou sua aposentadoria do tribunal na quinta-feira (9), no final da sessão de julgamentos. Ele deixou o Supremo após 12 anos e 3 meses vestindo a toga. Sua aposentadoria por idade só chegaria em 2033, mas ele decidiu antecipar a saída após concluir o período na presidência do tribunal.
Bolsonaristas consideravam o ministro era considerado um dos mais à esquerda no tribunal. Quando ele anunciou sua saída, eles foram às redes sociais comemorá-la.
“Tchau, mané”, escreveu o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) nas redes sociais, em referência ao “perdeu, mané, não amola”, que o ministro do STF disse a um apoiador de Bolsonaro que o abordou, em novembro de 2022.
Nas redes, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcente (RJ), ironizou baixa probabilidade de uma mulher ser indicada à vaga de Barroso.
“Vamos aguardar mais uma nomeação do atual descondenado presidente da República ao STF; ele vai indicar uma MULHER? Ou o presidente é misógino? Quando teremos outra mulher no STF? Quando teremos outro evangélico que não seja de esquerda no STF?”