PARIS, None (FOLHAPRESS) – O presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou nesta sexta-feira (10) que Sébastien Lecornu será reconduzido ao cargo de primeiro-ministro, quatro dias após ele ter pedido demissão.
A nomeação foi anunciada às 22h locais (17h de Brasília), alguns minutos depois de expirado o prazo de 48 horas prometido na quarta-feira (8). Já se especulava que a decisão ficaria para o sábado. No mesmo horário, os franceses assistiam ao jogo da França contra o Azerbaijão pelas eliminatórias da Copa do Mundo.
Lecornu confirmou por comunicado, poucos minutos depois, que aceitou a missão “por dever”, mesmo tendo dado a entender na quarta, em entrevista na televisão, que “sua missão estava terminada”. O comunicado do Eliseu afirma que o presidente dará “carta branca ao primeiro-ministro”.
Ele prometeu que aceitará dialogar sobre todos os temas o que significa, principalmente, rediscutir a reforma das aposentadorias. “Os debates irão até o fim”, disse Lecornu, que impôs como condição de participação em seu gabinete que nenhum ministro tenha “ambições presidenciais para 2027”.
“É preciso pôr fim a essa crise política que exaspera os franceses e a essa instabilidade ruim para a imagem da França e de seus interesses”, acrescentou o premiê em seu comunicado.
Imediatamente os partidos de oposição de ultraesquerda e ultradireita, respectivamente A França Insubmissa (LFI) e Reunião Nacional (RN), anunciaram que não vão negociar com Lecornu. Prometem apresentar já na segunda-feira (13) uma moção de censura para derrubar o governo.
“O carrossel roda e continua no mesmo lugar”, ironizou Jean-Luc Mélenchon, da LFI. Jordan Bardella, da RN, acusou Macron de ter medo de uma nova eleição legislativa, em que as pesquisas apontam a ultradireita como favorita.
A recondução de Lecornu ao cargo de premiê não deve encerrar a crise política que paralisa o país há mais de um ano. Presidenciáveis e até macronistas, como Édouard Philippe, do Horizontes (centro-direita), propuseram a saída antecipada do presidente.
A crise se arrasta desde que Macron tomou a fatídica decisão de dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições legislativas, em junho de 2024. À época, o presidente disse que era preciso deixar clara a vontade dos franceses, após o mau resultado de seu partido (Renascimento) nas eleições para o Parlamento Europeu.
Mas o resultado foi ainda mais confusão. A esquerda ficou com 193 deputados, o centro e a direita com 166 e a ultradireita com 142, todos longe da maioria absoluta de 289 necessária para aprovar leis.
Macron recusou-se a seguir a praxe e indicar o nome proposto pelo bloco com mais cadeiras, a esquerda, para o cargo de premiê, a economista Lucie Castets. A pretexto de aguardar o término dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Paris, procrastinou por dois meses, até indicar um político de direita, Michel Barnier.
Esquerda e ultradireita somaram seus votos para derrubar Barnier após apenas três meses no poder. O presidente nomeou, então, um veterano centrista, François Bayrou. Ele aguentou um pouco mais: nove meses, até ser, por sua vez, deposto por um voto de censura no Legislativo.
Macron recorreu a um aliado de longa data, o ministro da Defesa, Sébastien Lecornu. Depois de três semanas negociando a montagem de um ministério, Lecornu surpreendeu ao renunciar, na última segunda-feira (6), com apenas 27 dias no cargo, mencionando falta de condições para governar.